Tudo começou no Kartódromo da Batalha, numa tarde em que o pai levou Ivan e os irmãos até àquela pista para partilhar a paixão que já nutria pelo automobilismo. Tinha apenas oito anos, contudo, esta primeira experiência levou-o a querer mais.
Cedo se percebeu que o pequeno Ivan até se ajeitava com as mãos no volante. Começou, por isso, a acelerar no campeonato regional e, aos 9 anos, participou no seu primeiro campeonato de Portugal.
“No início, começou como uma diversão. Depois, à medida que os anos foram passando, com os resultados a surgir, foi ficando mais sério e comecei a perceber que é mesmo isto que quero fazer da minha vida”, disse ao JORNAL DE LEIRIA, o rookie que se estreia no Mundial de Fórmula 3.
Nos primeiros anos, o jovem dividia o seu tempo com o futebol, desporto praticado no CCMI, onde estudou. Aos 12 anos, teve de decidir onde queria estar – “se continuasse a ser os dois, não ia ser nenhum” – e a escolha recaiu sobre a velocidade.
Na última corrida, o Grande Prémio de Espanha, este leiriense andou pelas bocas do mundo. A sprint race foi dele e, logo ao arranque, soube aproveitar a saída de pista dos líderes. O primeiro lugar pertenceu-lhe e quebrou um hiato de 12 anos em que não se ouviu A Portuguesa nos grandes autódromos mundiais.
“Senti uma grande felicidade. Era uma coisa que procurava há bastante tempo, a minha equipa também tem trabalhado comigo com esse objectivo, ganhar corridas. Gostei muito de ver o apoio dos portugueses, das bandeiras que estavam na pista, o pessoal a torcer por mim e as mensagens que recebi, foi muito emocionante, confessou o piloto que garante não estar deslumbrado com esta primeira vitória.
Este jovem olha com serenidade para as próximas corridas. Mais que o pé no acelerador, o foco e a estabilidade emocional são elementos-chave para o sucesso nas fórmulas.
“Por termos ganhado a corrida não vamos mudar os objectivos nem o aproach do fim-de-semana. Os pés estão bem assentes na terra e sabemos os nossos pontos de melhoria. Sabemos que temos de trabalhar muito neles para poder ter a oportunidade de repetir o que aconteceu em Barcelona”, reconheceu.
Foi aos 14 anos que se mudou malas e bagagens para Itália, para profissionalizar a sua formação e dar o salto para a Fórmula 4, após os karts, mesmo sem falar bem italiano ou inglês – “foi uma maneira de aprender”. Fala de uma “mudança boa” e de um “salto necessário” para agarrar as oportunidades que surgiam. “Se pudesse voltar atrás, tinha ido uns anos antes. Ia ajudar muito mais”, confessou, ao recordar com carinho aqueles anos em que viveu na “cidade do karting” com o seu treinador e mecânico Bruno, que ainda hoje o acompanha nas corridas.
Actualmente, o rookie da Van Amersfoort Racing, está de regresso a Leiria, onde completou o ensino secundário, apesar da logística “complicada”. “Acabei os estudos com alguma dificuldade, mas ficaram feitos. Não é só a parte de estar focado, é de não ter muito tempo para estudar e mesmo quando tenho tempo, a cabeça não está no estudo, está na pista”.
Mais que habituado a esta sentado à frente de um volante, Ivan Domingues tem pelo menos um episódio caricato para contar, que aconteceu fora das pistas. Como qualquer jovem, chegou à idade de tirar a carta de condução e, já durante o exame, o hábito de encostar o veículo à box, onde depois os mecânicos empurram, fê-lo chumbar no momento em que estacionava. Um momento que, claro, encara com descontracção e entre risos.
O sonho é a Fórmula 1
Não fossem Ayrton Senna e Max Verstappen as suas referências, é entre os melhores do mundo que Ivan Domingues quer estar. “Como é óbvio, a minha vontade é chegar à Fórmula 1. Não depende só de mim chegar lá, como todos nós sabemos. Este desporto sabe que para chegar à Fórmula 1 não é só preciso ser rápido, ter talento e ganhar corridas. É preciso também muito apoio, é preciso que o País queira ver lá um piloto seu”, sublinha.
A presença de Ivan Domingues na Fórmula 3, doze anos após a última presença portuguesa, está a levar a modalidade para os temas de conversa e o leiriense afirma que é necessário o apoio do País para que ele e os que se seguirem conseguirem chegar mais longe.
“Se o País realmente quiser, a probabilidade de chegar [à Fórmula 1] e de miúdos depois de mim também chegarem lá vai ser muito maior. Se Portugal continuar só a investir no futebol não vai, talvez, ter o prestígio que uma Suíça ou uma França têm. O mesmo com as marcas portuguesas”, avisa. Por isso, está também comprometido em divulgar cada vez mais a modalidade.
Aponte na sua agenda: entre os dias 27 de 29 de Junho vamos voltar a vê-lo em acção, desta vez no Grande Prémio da Áustria.