Pela primeira vez, A Porta abre compartimentos desocupados no centro comercial D. Dinis e o programa de resgate começa a revelar-se logo no primeiro dia do festival, que este ano acontece entre 2 e 8 de Junho, ou seja, levanta voo já na próxima segunda-feira.
Depois de em 2024 se ter instalado na ruína do convento dos Capuchos, A Porta regressa ao centro histórico para a décima edição, em que continua a espreitar através da fechadura com a ambição de descobrir que vontades e sonhos se escondem do lado de lá.
O esforço de trazer para a comunidade lugares que, por diferentes motivos, estão fora da esfera pública, é mais do que um gesto simbólico, considera a equipa que organiza o festival, que passa a ter uma sede permanente no centro comercial. “Por acreditarmos nesta zona, com algum movimento cultural a acontecer: a livraria Arquivo, o Café Central, o Salão dos Recusados. Muito perto ficamos com um centro de artes na Villa Portela e achamos que o D. Dinis pode contribuir para a criação artística”, diz Miguel Ferraz. “Este piso três, especificamente, é um espaço com muito potencial, que já era falado há anos”.
Ocupar, reanimar
A conversa “Centros comerciais abandonados no centro das cidades: o que queremos e podemos fazer com eles?” tem lugar na livraria Arquivo só no final da próxima semana, mas nos primeiros três dias da agenda – 2, 3 e 4 de Junho – são várias as actividades que levam sangue novo ao shopping, uma espécie de Titanic no coração da malha urbana, inaugurado noutro século, nos anos 80, actualmente longe do período áureo e onde boa parte das lojas se encontram entregues ao vazio.
Para contrariar o declínio, e atrair público e ideias ao edifício, A Porta apresenta ali, no contexto da programação Casa Plástica, a exposição Leiria e Leirienses, com imagens do fotógrafo Ricardo Graça, do JORNAL DE LEIRIA, um dos membros do colectivo Meia Dúzia e Meia de Gatos Pingados que esteve na fundação do festival, em 2014. E, ainda, instalações, exposições e performances com curadoria do Caldas Late Night. Também no D. Dinis, abriga-se o Habitat João Gago.
Mais do que biblioteca
Não muito longe, na antiga Pousada da Juventude, desvenda-se, na próxima segunda-feira, o resultado da residência artística que junta Maria Pinheiro aka Carlos Roxo, Neuza Matias e Alexandra Saldanha. “Eu sou mais da banda desenhada, a Neuza é mais da pintura, a Maria é multidisciplinar”, comenta Alexandra Saldanha. “Tentámos idealizar o que gostávamos de concretizar tanto a partir do que a Pousada já tem, seja o mofo, as teias da aranha, as salas brancas, as janelas, a luz natural, as salas que não têm luz natural, como a partir das dificuldades e das magias que já aconteceram no festival”.
No mesmo cenário, e também na segunda-feira, acontecem os primeiros concertos da décima edição d’A Porta, com o fadista Sérgio Onze e, logo a seguir, o grupo Noko Woi, com Salvador Sobral.
No Terreiro, a antiga Pousada da Juventude é outro dos territórios para onde a organização imagina um futuro, realça Miguel Ferraz. “Como um dos pólos centrais da actividade cultural aqui no centro de Leiria. Tem salas para exposições, tem um jardim maravilhoso para concertos, workshops, sessões de cinema, o que quisermos, não depende só de nós”. A câmara pretende aproveitar o imóvel para expandir a biblioteca municipal e A Porta vai perguntar a quem quiser responder que outros usos são possíveis no local.
Em 2025, a programação do festival tem em conta os artistas e lugares que marcaram edições anteriores. Nos primeiros três dias, decorrem jantares com desconhecidos, actividades Transporta-te, um evento de poesia e duas conversas. E fica disponível a exposição sobre os primeiros dez anos d’A Porta na Rua Direita e transversais.
Depois, até 8 de Junho, há muito mais para experienciar, com destaque para os concertos de Ana Lua Caiano, X-Wife, Maquina, Filipe Sambado e da nigeriana Aunty Rayzor.