Os caroços de azeitona deixaram de ser vistos como resíduos para serem entendidos como subprodutos. Vários lagares da região já alimentam indústrias de biomassa. O negócio ainda não é rentabilizado pelos lagares, mas tem potencial de crescimento.
Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente, disse ao Azul, em Dezembro do ano passado, que a reclassificação do caroço de azeitona surge “numa lógica de promoção da economia circular e de promover ainda uma maior utilização de energias renováveis, nomeadamente da biomassa”. Na região de Leiria, alguns lagares de azeite começam a trabalhar neste domínio. Mas nem todos, já que essa vertente de negócio exige tecnologia que não está ao alcance da generalidade.
Mariana Reis, responsável pela qualidade na Cooperativa de Olivicultores de Fátima, explica que, nesta instituição, há mais de uma década que o bagaço (subproduto sólido resultante do processo de extracção do azeite) é usado como biomasssa. Na última campanha, por exemplo, a cooperativa transformou 3,5 milhões de quilos de azeitonas. Uma parte dos caroços foram utilizados no aquecimento das caldeiras da cooperativa e outra parte foi vendida aos sócios, por 150 euros/ tonelada. Zulmiro Pedro, proprietário do Lagar de Azeite Pia do Urso, refere que as 100, 200 ou 300 toneladas de bagaço que podem resultar de uma primeira transformação, neste lagar da Batalha, são levadas por outras empresas, geralmente do Sul do País, que, num conceito de economia circular, ainda extraem pouco mais de azeite e preparam os caroços para serem comprados como biocombustível. “As algumas empresas pagam 10 euros por tonelada de bagaço, outras nem pagam, mas asseguram o transporte com os seus camiões cisterna. Para os pequenos lagares fazer isso daria grande despesa. Seria impossível”, comenta o proprietário.
Esta é também a convicção de Graça Vieira, sócia da Casa Féteira. Também neste lagar de Porto de Mós são empresas externas que transportam o bagaço que resulta da primeira transformação. A custo zero levam este sobrante, que transformam em fertilizantes para o solo e alimento para animais, sendo que o caroço, depois de seco, é vendido como biocombustível. “A esmagadora maioria das vezes nem nos pagam nada”, conta a empresária. No entanto, asseguram o transporte do bagaço, cujos lagares, não tendo capacidade para uma segunda transformação, sempre teriam de pagar para escoar.
Carlos Pereira, filho do fundador da Agroteixeira, afirma que, num ano bom, este largar de Ourém trabalha com 2 milhões de toneladas de azeitonas. Cerca de metade resulta no bagaço que é levado por outras empresas, porque também aqui o lagar não tem equipamento para avançar com uma segunda transformação.