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Depois de dez anos dedicados à política autárquica, como vereadora e vice-presidente da Câmara de Alcobaça, Inês Silva abraçou a missão de divulgar e promover a Língua Portuguesa além-fronteiras e retomou a docência e a investigação, primeiro em Cabo Verde e agora na Chéquia, onde lecciona na Universidade Carolina de Praga e dirige o Centro de Língua Portuguesa do Camões – Instituto Português.
“É uma função que me preenche”, confessa Inês Silva, doutorada em Linguística, assumindo que o capítulo da política ficou fechado, quando, em 2023, renunciou ao lugar na vereação por “sentir que a política se estava a afastar do propósito de serviço público”. Decidiu, então, canalizar energias para área do ensino e da promoção da Língua Portuguesa.
O ir para o estrangeiro foi, sobretudo, uma questão prática, já que, em Julho de 2023, quando deixou a câmara, não havia concursos abertos para docentes em universidades portuguesas. “Procurei em jornais online e encontrei uma vaga na universidade de Cabo Verde”, conta. A ideia inicial seria a de ficar apenas um semestre, até que houvesse candidaturas abertas em Portugal, mas, quando lhe disseram que o lugar era por ano, acabou por aceitar.
A experiência revelou-se “muito gratificante”, sobretudo, pelo contacto com “diferentes formas” de leccionar. Rede de bibliotecas em Cabo Verde Segundo Inês Silva, o ensino da Língua Portuguesa em Cabo Verde “não é fácil”, porque, apesar de ser o idioma oficial, no dia-a-dia as pessoas, incluindo crianças e jovens, comunicam em crioulo.
Por outro lado, o acesso a livros, nomeadamente, de literatura infanto-juvenil, revela- -se uma tarefa difícil, que, na Ilha de São Vicente, ficou mais facilitado depois da implementação do projecto Ler é abraçar o mundo, dinamizado pela antiga vereadora. Através das redes sociais, a docente apelou à doação de livros, com o objectivo de criar e melhorar as bibliotecas escolares de São Vicente.
A angariação decorreu na Benedita, freguesia do concelho de Alcobaça de onde é natural Inês Silva, e em menos de um mês foi possível recolher 12.600 livros e enviá-los para Cabo Verde. Aí, um “trabalho de equipa”, envolvendo estudantes de estágio pedagógico do Curso de Estudos Cabo-verdianos Portugueses da Universidade de Cabo Verde, permitiu montar uma rede de bibliotecas escolares.
Terminado o ano académico, a docente voltou a concorrer a um lugar de leitora do Instituto Camões. Como queria ficar na Europa e como a única cidade com concurso aberto era Praga, Inês Silva rumou à Chéquia. “O que mais me surpreendeu é o gosto pela Língua Portuguesa. Há imensas obras literárias traduzidas para checo, não só de clássicos como Eça de Queirós ou Aquilino Ribeiro, mas também de escritores mais recentes como Lídia Jorge ou Gonçalo M. Tavares”, diz a docente, adiantando que no país existem “mais de 500” estudantes de Português em licenciaturas, mestrados, doutoramentos e cursos livres. Há também duas escolas secundárias – e uma terceira em vias disso – onde Português surge como língua estrangeira.
Em paralelo com a docência e a investigação, Inês Silva dirige o Centro de Língua Portuguesa de Praga, criado há 20 anos e que tem como principal missão desenvolver actividades de promoção da língua portuguesa, como aquela que aconteceu na passada segunda-feira, com um concerto com a fadista Cristina Branco.
Ainda este mês, de 15 a 18 de Maio, Portugal será, pela primeira vez, o país convidado da 30.º Feira do Livro de Praga, uma presença assinalada com 35 actividades, entre as quais sessões de autógrafos e conversas com vários escritores, como, Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares e Rui Zink. Já em Junho, haverá lugar à realização do Festival Lusófono. O objectivo destas actividades é que “haja cada vez mais pessoas, nomeadamente estudantes interessados em aprender Português”, aponta Inês Silva.
