Cinco campeonatos do Mundo, oito Europeus e, quanto às competições nacionais, perdeu as contas aos prémios que ganhou. Florindo Pinheiro fez tudo e mais um par de botas no powerlifting e, ao fim de três décadas de carreira, decidiu ‘pousar os pesos’ e encerrar este capítulo.
O anúncio foi feito nas redes sociais e deixou no ar a incerteza se seria uma pausa definitiva. “Provavelmente, é definitiva. Só se houver uma razão especial para voltar. Depois de analisar todo o percurso, penso que chegou a altura de sair da competição”, afirmou, ao JORNAL DE LEIRIA.
Foi por curiosidade que Florindo Pinheiro, hoje com 52 anos, experimentou uma prova nacional de força, com outros dois amigos. Este foi o bilhete de entrada e o suficiente para perceber que era a levantar pesos que se sentia concretizado, a nível desportivo.
No powerlifting, há três movimentos básicos musculares – agachamento, supino e peso morto – que, nos anos iniciais, Florindo Pinheiro praticava. Percebeu, contudo, que tinha características específicas ideais só para a prática do supino. “Decidi apostar tudo nesse movimento”, conta.
O supino é um dos exercícios que mais desenvolve os músculos peitorais, executado num banco recto, onde o atleta empurra uma barra com carga utilizando braços e mãos, para cima e a partir da altura do peito.
O último título mundial foi conquistado em 2021, quando levantou uma barra com 222,5 quilos. No entanto, o seu recorde pessoal é superior, uma vez que já elevou acima do peito uma barra com 250 quilos.
Durante três décadas, em que levou a região de Leiria e o País até aos quatro cantos do Mundo, o atleta recorda que, na maioria das provas, foi “por conta própria”. Faltam apoios para esta modalidade e Florindo Pinheiro, apesar de estar filiado a um clube em Loulé que ajudava nas despesas, investiu o seu próprio dinheiro para levar a carreira mais longe.
Não se arrepende, mas sabe que as condições monetárias também prejudicam o ingresso de novos atletas na área. “Há uma geração de novos atletas a aparecer, mas quando são desportos onde não há grandes apoios, a maior dificuldade é os atletas terem motivação para se manterem no activo”, considera.
Apesar de estabelecer o afastamento dos grandes palcos, o serralheiro de profissão vai continuar perto da vertente competitiva, uma vez que também já se dedica ao acompanhamento de atletas neste meio. “Todos os atletas que me procuram, tento ajudá-los”, refere a voz da experiência, ao comentar que gosta de partilhar o conhecimento obtido ao longo de toda a carreira.
A porta não se fecha por completo. “Nunca sabemos o dia de amanhã. Pode ser que apareça alguma coisa tentadora”, detalha. A verdade é que, para quem viaja pelos grandes palcos internacionais, a adrenalina de estar entre os melhores do Mundo é viciante. “O bichinho competitivo fica sempre.”
Por isso, Florindo Pinheiro não diz, com certeza, que não voltará a competir. No entanto, já nada é novidade. “Neste tipo de desporto, não há atletas a conseguir ter uma carreira tão longa. Já fiz o que havia para fazer.”
Agora, este fechar do capítulo permite-lhe “aproveitar mais das férias com a família”, que muitas das vezes tiveram de ser neglicenciadas em prol dos treinos, provas e resultados desportivos.