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Home Entrevista

Tito de Morais: “Vamos ter que ajudar a geração actual a aprender a brincar sozinha”

Daniela Franco Sousa por Daniela Franco Sousa
Abril 24, 2025
em Entrevista
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Tito de Morais: “Vamos ter que ajudar a geração actual a aprender a brincar sozinha”
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Diz a crítica que a série Adolescência é um murro no estômago. Até que ponto esta produção se aproxima da realidade?
Acho que é um murro no estômago para quem tem andado distraído. Para mim, que ando a trabalhar estes temas da utilização da internet por crianças e jovens desde 2003 – portanto há mais de 20 anos – não é nada que me tenha surpreendido. Pelo contrário, até fiquei um bocado desapontado. Pensava que ia aprender alguma coisa de novo com a série, de tanto barulho que se tinha feito à volta dela. É algo para o qual nós temos alertado no âmbito do projecto Agarrados à Net, desde 2021. Nós temos uma sessão que se chama Pais Digitais, pela Parentalidade Digital Positiva, e nessa sessão perguntamos aos pais se eles sabem quais são as aplicações que os filhos usam. As mais comuns, eles sabem. Mais do que isso, começam a não saber. Vai ficando um nevoeiro. Depois perguntamos-lhes quem são os influenciadores que os filhos seguem. E eles são capazes de conhecer um ou outro pelo nome. Quando lhes perguntamos que ideias é que promovem, aí não sabem de todo. E essa é uma realidade com que nós nos vimos confrontando. [LER_MAIS]Isso a série espelha bem, que é um alheamento dos pais relativamente à vida digital dos filhos e que pode levar a situações limite, conforme as que são ilustradas na série. A mensagem essencial da série é que, se nós não acompanharmos os nossos filhos na utilização que eles fazem da internet, não vamos ser nós a passar-lhes os nossos valores, vai ser a internet a fazê-lo, naquilo que ela tem de melhor e naquilo que tem de pior. Nesse sentido, acho que a série é um excelente alerta para a necessidade de os pais acompanharem os filhos. E sim, ela reflecte uma realidade. Agora, nós não podemos é tomar a árvore pela floresta. Felizmente não é toda assim. Não podemos dizer que todas as crianças funcionam assim. Importa estarmos atentos.

Em Loures, uma adolescente foi violada e filmada por três jovens, que colocaram o vídeo na internet. Que comentários lhe merece esta situação?
É uma barbaridade. Dados recentes da Polícia Judiciária indicam que a criminalidade sexual está a crescer. Dados recentes dizem também que a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima tem recebido um número crescente de situações de abuso sexual, nas quais os agressores são crianças e jovens. Essa é uma realidade para a qual nós temos que estar atentos e para a qual nós também temos estado a sensibilizar, num outro programa que trabalhamos no âmbito do projecto Agarrados à Net, que aborda a violência sexual baseada em imagens, aliciamento sexual, etc. Recentemente, participámos como oradores num evento promovido pela International Centers for Missing and Exploited Children, uma organização internacional que trabalha as temáticas da violência, do abuso sexual e da exploração sexual de crianças. Estas temáticas vão desde o aliciamento, passando pelo sexting, que depois muitas vezes resulta na partilha não consentida de imagens íntimas, podendo inclusivamente chegar às situações de coacção e extorsão através da internet. E muitas vezes, quando esses contactos se tornam presenciais, podem resultar mesmo em situações de abuso sexual e de violação, como foi o caso. A questão que se coloca é começarmos a ter penas mais pesadas para este tipo de crime.

A lei portuguesa não está adequada ao cibercrime?
Não sou jurista, mas o que vejo são situações onde crianças e jovens são alvo de aliciamento sexual e de abuso sexual, seja através da internet, seja de situações de abuso sexual presencial, nomeadamente de violação, e em que a pena atribuída muitas vezes acaba com sentenças que transitam em julgado como penas suspensas. Acho que crimes contra a auto-determinação sexual não deviam ser permitidos a pena suspensa, porque são, de facto, crimes de extrema gravidade.

E as autoridades são actuantes na investigação?
Temos visto que sim, a esse nível. A questão que se coloca não é tanto na investigação destes crimes, é mais no seu julgamento. Colocam -se questões na investigação, mas são quando falamos de crimes transnacionais. Quando falamos de actores que abusam e chantageiam e fazem coacção e extorsão a partir de outros países. Isso implica investigações transnacionais e essas situações normalmente têm tendência para se complicar.

Mais de duas décadas depois da criação do projecto MiudosSegurosNa.Net, temos pais mais atentos?
Temos a tendência para só acordar quando os problemas nos batem à porta. Invariavelmente, nas sessões que fazemos em escolas, costumamos perceber que os pais que participam nestas sessões são aqueles que menos necessitariam de participar. Aqueles que, de facto, têm necessidade de estar presentes, normalmente não estão. Isto por uma razão muito simples, é que os pais que se interessam pela vida online dos filhos e que se interessam por acompanhar os filhos, aqueles que exercem, de facto, a parentalidade de uma forma presente, esses participam neste tipo de sessões. Os outros não aparecem e esse é mesmo um sinal do alheamento que têm relativamente à vida online e muitas vezes também offline, dos filhos. E esse é o drama que é difícil de ultrapassar.

Há alguma lista de cuidados básicos, que os pais devam ter em atenção?
Sim, nós criámos um instrumento que se chama 7 Passos para a Parentalidade Digital Positiva. Esses sete passos passam pelos pais se envolverem, falarem com os filhos para saberem que plataformas usam, que aplicações usam, quem são as figuras que têm como referências e o que é que essas figuras defendem; o segundo passo é criar regras e fazê-las cumprir (e esta é uma área onde os pais normalmente nos dizem que têm alguma dificuldade); o terceiro passo é educarmo-nos sobre a utilização destas ferramentas e participarmos em acções de sensibilização e formação; o quarto passo é conhecermos os controlos parentais que temos à nossa disposição, tendo noção que os controlos parentais têm prazo de validade normalmente até aos 13 anos (a partir 13 anos a eficácia reduz drasticamente); o quinto passo é fazermo-nos amigos dos nossos filhos. Aqui é um bocado como na discoteca. É um sítio onde os podemos deixar, mas onde é melhor mantermos distância, não irmos dançar com eles para a pista. Há que evitar comentar publicações que eles fazem, isso tendencialmente vai resultar em embaraço. O sexto passo é explorar, partilhar e divertir-nos com eles, usando estas ferramentas. Passa, por exemplo, por nos sentarmos com eles a jogar um jogo que eles gostam, interessar-nos verdadeiramente por aquilo que eles fazem online; e, por fim, o sétimo passo é ser um bom modelo digital. E nós aí, lendo as caixas de comentários de muitas publicações, vemos que, normalmente, os adultos não são, de facto, bons exemplos para as crianças e para os jovens.

Existe idade mínima aconselhada para ter rede social?
Teoricamente, segundo a lei, os menores de 12 anos só podem usar estas ferramentas mediante consentimento dos pais. Acontece é que a maior parte destas plataformas não tem mecanismos para que os pais possam dar o seu consentimento. E o que verificamos é que podem colocar a idade que quiserem, o que não vai resolver o problema. Ou seja, as crianças hoje mentem relativamente à idade para usarem estas plataformas, muitas vezes ajudadas pelos pais. E isso vai continuar a acontecer, tenham 13 ou 16 anos. Colocar a idade a um nível superior, no caso dos 16 anos, é penalizar as crianças em vez de penalizar quem produz os conteúdos que fazem mal às crianças. Devemos penalizar quem produz os conteúdos que são ilegais, devemos penalizar as plataformas por não removerem esses conteúdos em tempo adequado, mas também por terem mecanismos e funcionalidades que interferem com a saúde mental, com o equilíbrio das crianças e dos adultos. Na realidade, o que estamos a fazer é penalizar as crianças e não penalizar os infractores.

De que forma é que se pode conciliar a privacidade do adolescente e a supervisão parental?
Não é nada fácil. Diria que se deve respeitar a privacidade dos filhos até ao momento em que se suspeita que eles possam estar a ser alvo de um processo de aliciamento sexual, de um processo de recrutamento para uma qualquer ideologia, seita religiosa ou de outra índole, ou se suspeitar que estão a ser alvo de bullying e de cyberbullying. Nessa altura, então, as ferramentas de controle parental, nomeadamente aquelas de monitorização, que são as mais intrusivas, podem ajudar, funcionando um pouco como tira-teimas. Para evitar chegar a esse ponto, devemos criar uma relação com os nossos filhos, para que eles se sintam à vontade e, mesmo tendo feito algo de errado, nos venham contar. Uma das coisas que perguntamos aos miúdos, quando vamos às escolas, é se diriam aos pais no caso de serem alvo de aliciamento sexual, ou de coacção, ou de extorsão sexual através da internet. Quando estamos a falar com miúdos do 5.º ou 6.º ano, os braços ainda se põem no ar. À medida que a idade vai subindo, os braços vão baixando. Pensam que seria uma vergonha enorme para os pais, que os pais já têm problemas suficientes, ou sentiriam medo de uma tareia. E quando eles não dizem aos pais ou a um adulto da sua confiança, a um professor ou a um irmão mais velho, estão a fazer o jogo do abusador sexual, que é fazer sofrer em silêncio. E o abusador continua a abusar e vai abusar ainda de outras pessoas, de outras crianças que estejam nas mesmas situações. Se não tiverem uma relação de confiança com os pais, procurem a ajuda de um adulto, um psicólogo da escola, por exemplo.

A inteligência artificial vem oferecer ainda mais riscos?
A inteligência artificial terá seguramente aspectos positivos, mas também tem os seus aspectos negativos. Um dos aspectos negativos é permitir, por exemplo, as aplicações de nudificação. Ou seja, permitem que eu pegue numa fotografia de uma pessoa vestida e a transforme numa fotografia dessa mesma pessoa nua. E vemos situações de jovens que estão a usar isso para humilhar, para ofender, para extorquir também, seja financeiramente, seja por outras formas, os seus jovens colegas. E a inteligência artificial pode servir para nos pôr a fazer e a dizer coisas que nós nunca dissemos e nunca fizemos. E isso coloca, de facto, grandes riscos.

Telemóveis nas escolas. Sim ou não? Eis uma antiga questão….
Achamos que proibir os telemóveis nas escolas e aumentar a idade de utilização de redes sociais, na realidade, são soluções preguiçosas que vão penalizar as crianças e não aqueles que estão a prejudicar as crianças. Devíamos era regulamentar e prejudicar aqueles que estão, de facto, a criar dano às crianças.

Em Portugal, há miúdos literalmente viciados na internet?
A Organização Mundial de Saúde reconhece a dependência, aquilo que eles chamam de gaming disorder, ou seja, o uso problemático dos jogos online e dos videojogos. Não reconhece o uso problemático dos ecrãs, não reconhece o uso problemático dos telemóveis, das consolas de jogos, das redes sociais. Reconhece também o uso compulsivo e obsessivo do conteúdo no domínio da pornografia, seja offline, seja online. Reconhece também o gambling disorder, ou seja, o uso, a prática de jogos de azar, nomeadamente de apostas, jogos de casino, ao meio cabo. E vemos que cada vez mais os jogos online têm componentes de jogos de azar, com mecanismos que podem provocar a adição. E reconhece também as compras compulsivas, que também são muito facilitadas através da internet. Quanto aos telemóveis, às redes sociais, isso não. Pode ser que venha a ser reconhecida como uma dependência. Mas até à data não é.

Desaprendemos de brincar?
Acho que sim. Quando nós começamos a fazer a nossa vida demasiado centrada nos ecrãs. Quando vamos às escolas, os miúdos dizem que se lhes tiram os telemóveis ficam sem nada para fazer. O estímulo constante do ecrã em termos cerebrais dificilmente é igualável por qualquer outra actividade. E isso faz com que os níveis de satisfação com outras actividades não sejam tão grandes. E os jovens começam a focar no divertimento e no lazer exclusivamente através dos ecrãs, deixando de saber brincar de outras formas. Vamos ter que ajudar a geração actual a aprender a brincar sozinha, com outras coisas que não sejam um ecrã, a brincar no quarto, em casa, cá fora. Os ecrãs também têm componentes que nos podem ajudar a brincar, estou a pensar concretamente numa aplicação que é o geocaching, que usa os ecrãs para nos pôr fora de casa e explorar os ambientes. Mas a generalidade da utilização que as crianças e os jovens fazem destes ecrãs, e os adultos também, tende a retirar-nos a criatividade.

 
Percurso
Do design para a internet
 
Nasceu em Boston, nos EUA, viveu no Iraque e em Moçambique até chegar a Portugal, em 1974. Foi designer gráfico e depois designer na web, assim que descobriu a internet. Foi em 2003 que iniciou o projecto MiudosSegurosNa. Net. Começou a ser solicitado para falar com pais, alunos e professores, até que, em 2006, Tito de Morais passou a dedicar-se em exclusivo a esta matéria. Em 2016 escreveu, com outros dois colegas, um livro intitulado Cyberbullying – um guia para pais e educadores.
 
Em 2021, juntamente com Cristiane Miranda, criou o projecto Agarrados à Net. Começaram por trabalhar as questões relacionadas com a utilização excessiva dos ecrãs, prevenção e combate ao bullying e ao cyberbullying, depois as questões da violência sexual baseada em imagens, desde o aliciamento sexual online, ou seja, o grooming, passando pelo sexting, partilha não consentida de conteúdos íntimos, que pode resultar em situações de coacção ou de extorsão sexual online.
 
Trabalham também a questão dos impactos negativos que as redes sociais podem ter na imagem corporal dos jovens, na sua saúde mental, e ainda a prevenção dos desafios virais perigosos. Com universitários, jovens do secundário e de cursos profissionais abordam os impactos negativos que a pegada digital pode criar quando se pretende entrar no mercado laboral. Transversalmente a estas áreas, trabalham também a questão da parentalidade digital, considerando que os pais são uma peça essencial na promoção da segurança online e do bem-estar digital. A formação sobre conteúdos falsos ou enganadores é outra vertente do seu trabalho. 

 

Etiquetas: criançasinternetsegurançaTito Morais
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