Escutar, reflectir e dar voz. Não só aos grupos de teatro, também a outros agentes da cultura. E a todas as pessoas que, directa ou indirectamente, se ligam ao fenómeno. Incluindo, o público. O primeiro acto das jornadas de reflexão organizadas pelo Te-Ato não procura ideias definitivas, no entanto. “Vamos sentar-nos todos de uma vez por todas e conversar”, diz João Lázaro. “O objectivo não é ter respostas. Eu gostava é que daqui saíssem muitas perguntas”.
Quantos Palcos para um Teatro? – sobre o teatro em Leiria e na sua região – vai ocupar a Black Box de Leiria no domingo, 6 de Abril, depois das 9 horas e até ao final da tarde.
O programa, segundo João Lázaro, tem como ponto de partida o momento em que vivemos. “Perceber como é que o teatro não está a responder a uma nova arquitectura social”, explica o actor, encenador e director artístico do Te-Ato. “O fenómeno de imigração, a nossa cidade, a polis, mudou completamente. Há novos públicos de que nós não sabemos nada”. E acrescenta: “Em Leiria, os espectadores de teatro são sempre os mesmos”. Falta “atitude” e “sentido crítico”.
Os oradores já anunciados são Catarina Medina (directora de comunicação da Culturgest), Lisete Cordeiro (directora-geral da associação InPulsar), Rita Pires dos Santos (mediadora cultural e membro da direcção da associação Acesso Cultura), Sofia Cabrita (que trabalha em teatro em com comunidades vulneráveis), Luís Mourão (dramaturgo), Rafael Nascimento (gestão cultural e chefe de divisão de cultura na câmara municipal de Coimbra) e Rui Ibañez Matoso (professor universitário e investigador em novos media e tecnologias pós-digitais, sistemas ecológicos e estudos culturais).
As jornadas de reflexão, ainda de acordo com João Lázaro, surgem de um desafio lançado por Anabela Graça, vereadora com o pelouro da cultura no Município de Leiria, durante uma reunião com grupos de teatro do concelho – são várias, as companhias profissionais e amadoras, que mantêm actividade regular.
“Ao teatro sempre foram anunciadas mortes súbitas e fulminantes”, pode ler-se no manifesto que acompanha o lançamento do encontro da próxima segunda-feira na Black Box. “A invenção do cinema, à época; mais recentemente um mainstream vinculado à proliferação de um entretenimento destituído de qualquer ideia, onde o abuso da imagem dos corpos veio substituir o conhecimento e a exigência formativa para o exercício qualificado em quaisquer das áreas imprescindíveis ao teatro; a censura e perseguição de mandantes autocráticos que sempre viram o teatro como um inimigo público dos regimes opressores”. Porém, “como a História nos vem demonstrando, o teatro sempre se soube reparar e resistir a quaisquer ameaças”.
“Ao tempo de hoje – e esta é a razão primeira pela qual o Te-Ato se atreveu a lançar o convite para este primeiro acto das jornadas de reflexão Quantos Palcos para um Teatro? – gostaríamos de dialogar sobre a nova arquitectura social que define a contemporaneidade”, assinala a organização. “A fisionomia das nossas cidades e vilas está em acelerada mudança: novos rostos, línguas, costumes, odores e paladares; bem como as relações de trabalho e consequentes padrões sociais”. Mas não só: “A informação tornou-se uma catadupa vertiginosa onde é difícil distinguir a notícia do ruído”. Como reflecte o teatro esta nova realidade? “Como iremos mobilizar públicos entre plateias sociais tão distintas entre si?”