Primeiro o Malawi, agora a Nigéria. É em terras africanas que Sandra Bento, natural de Conqueiros, Leiria, tem feito a sua experiência além-fronteiras, sempre em família e movida pelos desafios profissionais que lhe vão surgindo. Licenciada em Gestão e Recursos Humanos, está, desde Junho de 2021, na cidade nigeriana de Lagos, onde lidera a área de recursos humanos da Mota-Engil.
“É um sector muito desafiante e dinâmico. Há sempre coisas novas a acontecer. E, diariamente, temos impactos positivos na vida de alguém”, aponta Sandra Bento, que tem feito todo o seu percurso profissional na Mota-Engil, onde está desde 2002, com passagem por várias empresas do grupo. Foi, por exemplo, responsável pelos recursos humanos na Ferrovias e Construções, na Valnor, na Resiestrela e na Valorlis.
Era, aliás, nesta última que estava quando, em meados de 2021, foi desafiada a integrar o projecto ferroviário que a Mota-Engil executou na Nigéria, que envolveu a construção de uma linha férrea com 400 quilómetros e cerca de 250 trabalhadores não africanos e de perto de 3.200 locais.
Convicta que “era um passo na carreira que fazia sentido”, abraçou o desafio, apesar de reconhecer que, em termos familiares, o momento não era ideal, já que tinha acabado de ser mãe da filha mais nova, então com seis meses.
“Optámos por deixar os filhos com a família até a bebé fazer um ano e fomos, eu e o marido [que também trabalha na Mota-Engil]”, conta Sandra Bento, assumindo que a Nigéria “não é o sítio mais simpático para uma família se mudar”. “Se pesquisarmos no Google, é preciso percorrermos vários separadores até encontrarmos referências positivas.”
Lagos, onde vivem cerca de 22 milhões de pessoas – mais do dobro da população portuguesa -, revelou-se, no entanto, “uma agradável surpresa”, afirmando-se como “uma cidade cosmopolita, com grande dinâmica cultural, uma vida noctuna interessante, sobretudo ao fim-de-semana, e bons hospitais e boas escolas”.
No reverso da medalha surgem os problemas de segurança, que, segundo Sandra Bento, obrigam a seguir um conjunto apertado de regras, impostas pela empresa. “Temos uma liberdade condicionada. Não posso pegar no carro e ir jantar sozinha. Andamos sempre com motorista e segurança, seja para o trabalho, seja para a escola ou para as actividades de lazer”, revela, frisando que “nunca houve problemas com portugueses”, que continuam a ser uma “pequeníssima” comunidade na Nigéria. “Quando chegámos, seriam pouco mais de 50. Agora, mais do dobro, à conta da Mota-Engil.”
Desitir de fazer planos
Apesar dos condicionalismos relacionados com a segurança, Sandra Bento garante que, tanto ela como a família, já se adaptaram à vida em Lagos e não têm planos para regressar, com excepção do filho mais velho, a terminar o 12.º ano, que prosseguirá os estudos em Portugal.
“Viemos por dois anos. Depois, seria até ao projecto terminar. Agora, como a empresa ganhou mais alguns trabalhos, não sabemos até quando vamos ficar. Já desistimos de fazer planos”, avança a especialista em recursos humanos, que teve a sua primeira experiência como ‘portuguesa no mundo’ no Malawi, onde viveu dois anos (2012 e 2013).
Também nessa época esteve a dar acompanhamento aos trabalhadores envolvidos numa empreitada ferroviária da Mota-Engil. “Do ponto de vista pessoal, foi impactante. O Malawi era – e é ainda – um dos países mais pobres do mundo. Recordo-me que uma das primeiras ambulâncias do país foi oferecida pela Mota-Engil. Mas, gostei muito da experiência”, partilha Sandra Bento, de 45 anos, confessando que é, sobretudo, a vontade de “conhecer novas pesoas, países e culturas” que a move nestas suas experiências internacionais.