As exportações em saúde renovaram um recorde e subiram 21,6%, ultrapassando os 4 mil milhões de euros em 2024. O sector representa já 5,1% do total das exportações nacionais, nota a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, tendo o INE como fonte. Embora não se trate de um mercado propriamente fácil de penetrar, várias empresas da região também têm vindo a apostar e a conquistar clientes deste domínio.
A Planimolde, da Marinha Grande, apostou na saúde e tem mantido exportações neste sector. Reconhecida pelo Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde) como fabricante de dispositivos médicos, a Planimolde teve maior boom de vendas de máscaras e de óculos de protecção individual aquando da pandemia. Nessa fase também, a empresa começou a fabricar tubos de ensaio, dispositivo que mantém vendas em número significativo para um cliente espanhol, explica Horário Silva, responsável pelo Departamento de Qualidade da Planimolde.
Horácio Silva refere que os contactos e os negócios no campo da saúde têm aumentado, embora o processo, nesta área em particular, seja muito lento. Nota que a Europa quer ter independência em relação à China, de onde provêm muitos destes dispositivos. No entanto, reconhece que os clientes na área da saúde são muitas vezes grandes grupos, pouco abertos a novos parceiros. É um domínio que exige muita segurança, muita confiança no fornecedor e, quando satisfeitos, esses grupos não costumam procurar outras empresas no mercado.
“Eles próprios estão [LER_MAIS]sujeitos a muitas regras, burocracia, precisam de respeitar determinada matéria-prima”, entende o responsável pela Qualidade. Por outro lado, nem todas as empresas têm condições para investir em equipamentos e espaços próprios para serem fornecedores licenciados, como é o caso de “salas brancas”, exemplifica Horácio Silva.
Na semana passada, também o Centimfe (Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos), esteve na Alemanha, numa entidade similar a este centro tecnológico da Marinha Grande – o Kuntstoff Institut Lüdenscheid – para criar uma rede uma rede de empresas fabricantes de dispositivos médicos, com preocupações de economia circular, portanto, com base em material reciclado.
“Trata-se de um programa apoiado pelo governo alemão e, nesta primeira fase, a ideia é criar novos produtos, na área dos dispositivos médicos, formando, para isso, uma rede de fornecedores que pensem, desenvolvam e fabriquem os produtos”, adianta Rui Tocha, director- geral do Centimfe.
O grupo GLN, sediado na Maceira, em Leiria, tem, entre os seus produtos inovadores, o capacete cirúrgico – MPDS. De acordo com o grupo, a ideia do projecto surgiu num contexto de pandemia, em 2020, com a Covid-19, momento em que os Equipamentos de Protecção Individual (EPIs) dos profissionais de saúde assumiram um papel determinante em ambientes de risco de contaminação, como as intervenções cirúrgicas. “Na época, os maiores fabricantes mundiais de capacetes cirúrgicos deram a saber que os seus produtos não estavam preparados para uso em ambientes expostos a vírus, como o coronavírus. Assim, e face à necessidade em quantidade e qualidade deste tipo de EPIs, o consórcio identificou uma oportunidade para desenvolver e industrializar uma solução inovadora de protecção individual, tirando partido das competências existentes em Portugal nos domínios da I&D, fabrico de moldes, componentes em plástico e electrónica integrada.”
Vítor Paulo, director de tecnologia do Grupo GLN, reconhece que a exportação deste artigo é uma ambição, no entanto, o capacete ainda está em fase de desenvolvimento, refere o responsável.
Também a Erofio, da Batalha, desenvolveu com a Unidade Local de Saúde da Região de Leiria e com o Instituto Politécnico de Leiria, o dispositivo MedicalEA. Trata-se de um equipamento destinado aos profissionais de saúde, cuja principal função consiste no auxílio da condução do sangue da tubagem para o saco de colheita/conservação, de uma forma automática e sem esforço, para que este possa ser devidamente homogeneizado. Já patenteado em Portugal e na Europa, com extensão a alguns países com potencial de mercado, o produto tem sido alvo de divulgação por parte da Erofio em eventos. É o primeiro projecto da empresa na área da saúde.
“De momento estamos em contacto com possíveis distribuidores e clientes interessados no mercado nacional e internacional. É um produto com um venda complexa, pois a cadeia de fornecimento é bastante diferente do core da Erofio, com normas bastante exigentes e direccionado para um nicho de mercado específico”, adiantou recentemente o grupo da Batalha ao nosso jornal.
Com sede no Parque Tecnológico de Óbidos, e dedicada ao desenvolvimento de soluções de telemonitorização digital para a saúde, a Hope Care anunciou recentemente, ao nosso jornal, a abertura do seu primeiro escritório internacional, em Paris. Para José Paulo Carvalho, CEO da empresa, a escolha do mercado francês foi natural, dado o ambiente favorável ao desenvolvimento de novas tecnologias na área da saúde. Segundo o responsável, a adesão de parceiros e instituições francesas confirma que esta é uma aposta acertada para o crescimento internacional da Hope Care.