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A infância em Regueira de Pontes, a correr livremente e a brincar com os amigos terá sido um dos factores que contribuíram para a capacidade física capaz de aguentar um, dois e três treinos por dia, acredita João Portela, pai do jogador Pedro Portela, que sempre acompanhou o filho na sua vida desportiva.
Chamava-lhe, carinhosamente, o “frango do campo”, porque dentro das quatro linhas corria mais que os outros, tal como corria à volta de casa, com a única diferença de perseguir uma bola que queria colocar no fundo das redes. Pedro Portela ainda não tinha idade para ingressar no escalão dos bambis e já jogava com os mais velhos.
Logo começou a dar nas vistas no Académico de Leiria. “Para já, era canhoto, uma coisa que no andebol não era muito habitual. Depois, corria muito. Costumava dizer que ele era um frango do campo, porque nasceu em Regueira de Pontes e lá andava à solta. Brincava, tinha espaço e andava sempre à solta. Tinha muito mais pedalada que alguns da cidade”, recorda o progenitor, que chegou a ser dirigente no Académico de Leiria, clube onde ainda hoje trabalha.
A partir do momento em que jogava nos infantis, dividia o seu tempo também com treinos do escalão superior. “Se fosse preciso, fazia três treinos num dia”.
Por volta dos 12 anos, o actual ponta direito já dizia que queria ser jogador de andebol. Não é difícil entender por que razão o Sporting olhou para este jovem. Brilhava no Académico de Leiria, mas, curiosamente, não foi a jogar por este clube que se destacou perante os olheiros dos leões. A equipa de Leiria não iria participar num torneio que decorria em Oeiras e um clube de Figueiró dos Vinhos aproveitou para usufruir das qualidades deste jogador canhoto. “Deu lá nas vistas e o Sporting veio logo chatear.” O Belenenses e, mais tarde, o Benfica, também manifestaram o interesse de ter este leiriense nas suas fileiras, mas foi o clube de Alvalade que ofereceu as melhores condições para o jogador treinar, estudar e crescer.
A primeira época no clube leonino foi em 2007/2008 e, duas temporadas depois, a equipa tornava-se o primeiro clube português a conquistar um troféu europeu, a Taça Challenge. Este é um dos jogos inesquecíveis para João Portela, que todos os dias se orgulha das conquistas do filho mais novo.
Pedro Portela exibe um currículo invejável para muitos atletas que estão ao mesmo nível. Desde os iniciados que é convocado para as selecções nacionais, celebrou inúmeros títulos com o Sporting, passou cinco anos em França, no Tremblay e no Nantes, e regressou ao clube verde e branco em 2023.
A competência técnica deste ponta direito merece rasgados elogios, mas existe uma qualidade sempre realçada por quem o conhece: a humildade.
Pedro Simões é um dos amigos mais antigos de Portela. Juntos desde a pré-primária, fez questão de estar presente nas meias-finais do Mundial de Andebol, onde Portugal perdeu contra a Dinamarca, vencedora da competição pela quarta vez. “Sabíamos que ele ia chegar longe”.
João Sá também é uma das amizades do andebol. Veio de Setúbal para Leiria aos 10 anos e Portela foi “o primeiro amigo” que fez. Assistiu à ascensão deste “prodígio” e não está surpreendido pelo que tem conquistado. Afinal, ele “trabalhava o dobro do que toda a gente”. “Ele é o nosso Cristiano Ronaldo, a melhor táctica era passar ao Portela”, recorda o guarda-redes.
Da perspectiva de quem o treinou, a inteligência dentro de jogo era inconfundível, desde criança. “Era um miúdo muito inteligente a jogar, muito dado. Nunca levantou problemas, um verdadeiro companheiro de equipa”, assume André Laje, que pertenceu à equipa técnica do Académico de Leiria.
Além das qualidades tácticas, este antigo treinador destaca outras características que fazem a diferença até ao apito final: “É a paixão que ele tem pelo jogo e a sua capacidade de trabalho”.
André Laje estabelece mesmo um antes e depois de Pedro Portela no andebol leiriense. “Desde que o Pedro saiu de Leiria que o associativismo no andebol tem passado por imensas dificuldades. Nota-se uma quebra muito grande na modalidade”, lamenta. Face às condições para a prática da modalidade no concelho, o técnico questiona: “Daqui a quantos anos voltaremos a ter outro Portela?”.
Resultado histórico no Mundial
A presença de Portugal no Mundial de Andebol foi histórica, ao atingir o quarto lugar e deixar algumas das melhores selecções do Mundo para trás. Os ‘Heróis do Mar’ provaram a qualidade do andebol português e deixaram a modalidade surpreendida pela união, força de vontade e capacidade técnica de cada jogador. Somente a Dinamarca – que venceu pela quarta vez a competição – e a França – campeã europeia – conseguiram derrubar, com algumas dificuldades, o conjunto luso.
O ‘agri-doce’ quarto lugar não apaga a brilhante exibição da equipa, que agora vai preparar o Europeu de 2026.
