Esteve em consulta pública até ontem, dia 15, a construção de uma nova barragem no rio Ocreza, na zona do Alvito, cuja finalidade, defende a Direcção-Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural (promotor) será regularizar os caudais do Tejo e a criação de condições para transportar água do Tejo para a região Oeste.
O plano aponta para a criação de oito novos aproveitamentos hidroagrícolas nas regiões do Ribatejo e do Oeste. O Estudo de Valorização dos Recursos Hídricos para a Agricultura do Vale do Tejo e do Oeste prevê a construção de um açude insuflável em Constância, após o local onde o Zêzere desagua no Tejo, enviando depois para o Oeste e para a Lezíria do Tejo água em períodos de maior escassez.
Ao todo, seriam criados 50 quilómetros de canais e condutas que se ligariam a Alvorninha, no concelho de Caldas da Rainha, a Óbidos, e a Cela, em Alcobaça, além de outros locais na lezíria.
O plano também prevê aproveitamentos hidroagrícolas em Peniche.
O cenário colocar-se-ia se houvesse um “aumento significativo” das necessidades para rega no Oeste e desde que surgiu que tem tido a oposição do movimento ProTejo que o critica devido ao risco de uma extrema redução de caudal do Tejo.
O presidente da autarquia de Óbidos, Filipe Daniel, que foi presidente da Associação de Beneficiários do Aproveitamento Hidroagrícola de Óbidos conhece bem a ideia de fazer transvases do Tejo para o Oeste e diz que a intenção não é nova.
Foi anunciada há quase uma década, por um preço de cinco mil milhões de euros.
O que representa mais do que o valor da barragem e regadio do Alqueva (2,5 mil milhões).
Pegando no exemplo da barragem do Arnóia, Filipe Daniel afirma que seria preferível apoiar na região, e mesmo a nível nacional, a criação de várias barragens e bacias de retenção, medidas que auxiliariam a “melhorar o clima, a reter a água e aumentar a humidade no ar, além de recarregar os aquíferos”.
“Vemos já o sul de Espanha com muitas dificuldades no acesso à água e temperaturas em cidades como Sevilha a chegar aos 50ºC. Isto provoca escaldões nas culturas que fazem perder safras”, alerta e explica que o Alqueva cria névoas que tornaram o clima mais ameno.
Filipe Daniel sublinha que o empreendimento anunciado para o Tejo irá “destruir e alagar terrenos de cultivo” que são cada vez mais necessários, à medida que a população aumenta a superfície agrícola diminui.
Já o autarca de Caldas da Rainha, Vítor Marques, sublinha que este é, para já, um cenário distante, mas reconhece que um aumento da água disponível para a agricultura da região, que investiu não apenas na produção de vegetais, mas também em pomares de pêra-rocha e em maçã, pouparia os aquíferos locais.
“O uso constante destas águas com fins agrícolas poderá colocar em causa os próprios aquíferos. Vemos positivamente, de modo geral, o investimento na criação deste transvase.”
O cenário, lamenta Vítor Marques, é de diminuição e de perda de importância do sector agrícola na região, pelo que a maior disponibilidade de água poderia contribuir para melhorar o seu desempenho.