A Iris – Associação Nacional de Ambiente denúncia o abate de “centenas” de sobreiros nos concelhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande. Em causa, estão trabalhos de limpeza levados a cabo pela e-Redes, no âmbito da gestão de faixas de combustível, na envolvente às redes eléctricas. A empresa garante que os cortes estão autorizados pelo Instituto de Conservação da Natureza (ICNF).
“O abate de exemplares da árvore nacional de Portugal [sobreiro] não só é absurda face ao perigo de incêndio, como acaba por ser um factor de acréscimo de risco ao potenciar a expansão de espécies arbóreas invasoras, entre elas as acácias, essas sim fortemente associadas a maior propagação dos incêndios”, denuncia a Iris em comunicado.
Em alternativa a esses cortes rasos, José Pais, engenheiro florestal e dirigente da associação, defende a execução de “podas e de cortes selectivos”, permitindo que os sobreiros continuem “a fazer sombra, evitando o crescimento de vegetação”. “Uma intervenção deste tipo dá mais trabalho, mas resulta melhor no médio prazo”, afirma.
Naquele comunicado, a Iris reclama a alteração “urgente” da legislação que regula a gestão de faixas de combustível, revelando que já solicitou reuniões aos vários grupos parlamentares, no sentido de “expor o impacto destes abates e, desse modo, poder evitar ou conter a sua execução pela e-Redes”.
Contactada pelo JORNAL DE LEIRIA, a e-Redes confirma “os trabalhos de execução da rede secundária de faixas de gestão de combustíveis nas imediações de linhas aéreas de distribuição de energia eléctrica, nos concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos”, garantindo que os mesmos estão a ser realizados “de acordo com os critérios e condições estabelecidos no sistema de gestão integrada de fogos rurais”.
A empresa frisa ainda que estas limpezas “constituem uma obrigação legal imposta à e-Redes” e que estão “asseguradas as autorizações prévias às entidades competentes”.
O ICNF informa que recebeu da e-Redes “137 pedidos de autoriza-ção para abate de sobreiros e azinheiras” naqueles três concelhos, relativos à execução de faixas de gestão de combustível, tendo já deferido 97, sem precisar o número de árvores em causa.
Aquele instituto garante que os pedidos – cada um corresponde a vários exemplares – foram analisados “tendo em conta as condições técnicas e legais” dos mesmos e que apenas autorizou “o corte das árvores necessárias à protecção de pessoas e bens e à salvaguarda dos interesses colectivos, tal como previsto na legislação”.
O ICNF assegura ainda que, “sempre que a operação de poda possa ser uma opção em detrimento do corte, o pedido de corte é indeferido”, mas que “só pode autorizar podas em sobreiros e azinheiras quando esta operação vise melhorar as características produtivas dos exemplares” e da qual não resulte “em mutilação das árvores”.