“Se já atingimos os três equilíbrios macro-económicos, o papel das Finanças é menos fundamental do que no passado. Agora, o grande papel é do Ministério da Economia. O nosso problema agora é a competitividade empresarial e o crescimento económico. Neste contexto, o Ministério da Economia tem de ter o papel central”, foi uma das ideias deixadas a empresários e membros da academia de Leiria por Luís Mira Amaral, na semana passada.
O economista e antigo ministro da Indústria e Energia de Cavaco Silva (PSD) foi o orador convidado, num jantar-conferência que assinalou a publicação da revista Moldes e Plásticos 2024, do JORNAL DE LEIRIA.
A intervenção centrou-se nos temas do Orçamento do Estado, Portugal 2030 e PRR, do relatório Draghi e da indústria e sector dos moldes e plásticos.
“A economia portuguesa está num momento único. Respeita os três equilíbrios fundamentais: o equilíbrio externo, pois não temos défice com o exterior. Isso é mérito da malfadada troika, a quem os empresários souberam responder com o comércio para o exterior; o equilíbrio orçamental nas contas públicas; e o pleno emprego”.
O que “falta é uma preocupação nacional com o crescimento económico”.
“O que foi feito no Governo PS foi muito insuficiente e o actual Governo [AD] não mostrou ainda o que vai conseguir fazer”, afirmou.
O antigo ministro da Indústria e Energia salientou que, se o crescimento real do PIB é de 2% e se o da inflação ficar em 2,9%, o crescimento nominal do PIB será entre 4% a 4,5%.
“Se não houver outras perturbações, vamos continuar a ter Orçamentos do Estado equilibrados”, previu.
Mira Amaral admitiu estar surpreso por o Governo e o PS não se terem entendido com a redução em 1% do IRC para as empresas.
“Não percebo o banzé que o PS faz por causa de 1% de diferença na proposta do Governo, quando noutros países, contra os quais competimos, têm baixado a taxa do imposto ao longo dos anos. Nós temo-la mantido”, disse, criticando, ainda o aspecto progressivo do IRC: “qualquer empresário cuja empresa cresça, vai pagar mais do que um que fique quietinho no Portugal dos Pequeninos das PME! O Governo deveria ter acabado com a progressividade do IRC e isso seria mais importante do que reduzir 1%”.
Afirmou que o sistema fiscal não é amigável para as operações de fusão e concentração de empresas, o que representa um impedimento para o crescimento das PME e sua transformação em grandes empresas.
“PRR é um grande Orçamento rectificativo”
O antigo governante foi também muito crítico com o modelo criado para colocar em funcionamento o Plano de Recuperação e Resiliência, afirmando que, no fundo, “o PRR é apenas um grande Orçamento rectificativo”.
“O investimento público que está a ser feito, foi aquele que os Governos do PS não fizeseram. Cortaram o investimento público para controlar o défice do investimento público que não fizeram no passado aproveitou o PRR para ser realizado.”
No seu entender, o PRR para as empresas industriais só tem dois programas com interesse: as agendas mobilizadoras e as linhas de estabilização.
No entanto, a aposta no hidrogénio, devido ao “entusiasmo excessivo de alguns decisores políticos” é de criticar já que a aplicação da nova tecnologia, por desconhecimento técnico e científico esbarra em difriculdades no mundo real.
“A aplicação em quantidades comerciais e preços que possam ser feitos, vai levar tempo, quer para o hidrogénio, quer para o biometano. O Governo anterior julgava que estes gases entravam para o mercado de um dia para o outro. Há uma ideia de facilitismo na transição energética que a realidade prática não autoriza.”
Salientando que acredita no projecto europeu, sublinhou que a União Europeia tem um problema na velocidade de decisão por não ser o Estado federal norte-americano, nem o Estado centralizado do Partido Comunista Chinês.
O primeiro pode, de um momento para o outro, criar programas de política industrial.
No segundo, o Partido Comunista também pode implementar programas de fomento industrial quando quer.
“A Comissão e os seus eurocratas não sabem aplicar medidas e tudo tem de ser discutido com os Estados-membros. É evidente que o senhor Draghi não coloca em causa a Agenda Europeia Verde, que é irrealista face ao contexto mundial. A Europa, na energia, tem desvantagens perante os chineses e americanos, mas recomenda fazer mais do mesmo, com energias renováveis intermitentes. Lideramos o mundo na adopção de tecnologias de descarbonização e não as produzimos. É a China quem as produz e as vende à Europa.”
Moldes chineses abaixo do preço de custo
Em 2008, Mira Amaral foi o coordenador do Plano Estratégico dos Moldes em Portugal, que concluiu existirem três cenários de evolução para este sector: a especialização em moldes de elevada complexidade, a aposta em ferramentas especiais e peças maquinadas de alta precisão e a especialização em produtos e componentes plásticos com base em materiais compósitos.
“Na época, estavam todos assustados com a concorrência chinesa, em vez de preocupados com estes três cenários.
O susto acabou por ser maior do que os efeitos práticos, porque os chineses não tinham a qualidade que hoje têm. Agora, eles voltaram e o desafio é muito maior, porque já têm qualidade.”
E o pior, afirmou, é que, segundo o informaram, o chineses estão a oferecer no mercado moldes cujo preço é inferior ao custo da matéria-prima utilizada.
“Outra coisa que está a ter um grande impacto é o alongamento das condições de pagamento.”
Os moldes dependem dos novos projectos automóveis mas o sector está numa encruzilhada terrível devido à transição energética, pois o público não está a comprar veículos eléctricos ao ritmo antecipado.
“Os eléctricos são excelentes para mobilidade urbana ou regional, mas não servem para passear pelo País e os consumidores preferem os híbridos.”
Os construtores, assegura, estão baralhados e não apostam nem nuns nem noutros e isso terá impacto nos novos modelos.
Os fabricantes vão ser penalizados com multas milionárias, os chineses estão a comercializar modelos muito mais baratos e o sector dos moldes está a ser penalizado.