Durante anos, conviveu paredes meias com uma lixeira, que foi desactivada, com o local a ser transformado num parque de merendas e de lazer. Agora, o carvalhal da Valicoca, localizado entre Alqueidão da Serra e Porto de Mós, pode vir a ser transformado num “laboratório natural”. Esse é o objectivo do município, que já encetou contactos com os proprietários, que podem vir a beneficiar dos novos instrumentos de apoio à preservação e manutenção deste tipo de floresta.
“Quem gerir carvalhais vai ter uma compensação anual pelos serviços de ecossistemas que presta. Tem de ser premiado por isso”, defendeu Rui Ladeira, secretário de Estado das Florestas, que, na semana passada, visitou o local, no âmbito de uma reunião de trabalho com a autarquia de Porto de Mós e com a Comunidade Intermunicial da Região de Leiria (CIMRL).
À margem da visita, Eduardo Amaral, vereador do Ambiente, explicou ao JORNAL DE LEIRIA que a intenção da câmara passa por estabelecer uma parceria com os privados que conduza à recuperação e regeneração daquela mancha de carvalhal, contando com o apoio técnico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro com a qual o município já está a trabalhar num projecto de identificação de árvores milenares no concelho.
“Há todas as condições para fazermos deste espaço um laboratório natural em torno do carvalhal e da biodiversidade, desenvolvendo também um projecto educativo para as crianças poderem descobrir a floresta”, avança o autarca, frisando que o objectivo é “criar um conjunto de sinergias para que se possa olhar para a floresta de uma outra forma”.
Tratando-se de uma área privada, o modelo de gestão passará pela parceria entre o município e os proprietários ou até pela aquisição das parcelas pela autarquia, adianta Eduardo Amaral.
“Há aqui uma oportunidade e uma necessidade”, ressalvou o secretário de Estado durante a visita ao carvalhal, referindo-se aos instrumentos de apoio para este tipo de floresta e ao trabalho de recuperação que há a fazer no local.
A presença do secretário de Estado foi aproveitada pelos presidentes das Câmaras de Porto de Mós e da Marinha Grande para insistir na revisão da Carta de Perigosidade de Incêndio Rural, que “é bastante prejudicial à região”. A título de exemplo, Jorge Vala, o autarca anfitrião, referiu o caso de Castanheira de Pera que tem agora 89% do seu território classificado como de “perigosidade alta e muito alta, sem possibilidade de qualquer construção e com constrangimentos às práticas agrícolas”.
Já a Marinha Grande passa a ter 55% do seu território com essa classificação, abrangendo as áreas de expansão das zonas industriais de Vieira de Leiria e Casal do Lebre. Em resposta, o secretário de Estado admitiu “a necessidade de revisitar” aquele documento, que “não pode ser impeditivo de investimento e desenvolvimento”, sem, no entanto, pôr em causa a segurança.
Jorge Vala voltou também a reclamar a revisão dos critérios de classificação das freguesias prioritárias para a Intervenção da Defesa da Floresta Contra Incêndios, que reduzem o risco em povoações que não tenham tido grandes fogos nos últimos anos. “Parece que, quanto mais incêndios melhor”, ironizou, frisando que as maiores manchas florestais do concelho – Pedreiras, Calvaria de Cima e Juncal – estão fora das áreas prioritárias “porque, felizmente, não têm incêndios há 20 anos”.