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Ninguém retira o título de “pai do atletismo” ao Professor Moniz Pereira, histórico treinador do Sporting CP que lançou muitos dos atletas que conquistaram nome no País e além-fronteiras. Contudo, quando falamos da freguesia de Pousos, há outra pessoa que recebe a mesma alcunha. Domingos Magalhães nasceu na Estação, mas foi nos Pousos onde deixou a sua marca e ainda reside. Agora, com 81 anos, as doenças de Alzheimer e Parkinson condicionam a sua vida activa, mas tem na ponta da língua o seu recorde pessoal na meia-maratona: 1:15 horas.
O seu percurso indelével no atletismo começou, curiosamente, mais tarde. Só a partir dos 35 anos é que começou a correr e, entre os anos 80 e 90, vê-lo na linha de partida significava que um dos lugares do pódio já estava ocupado.
Apoiou o arranque da secção de atletismo no GRAP – Grupo Recreativo Amigos da Paz e, além de ajudar na organização e participar nos Grandes Prémios que decorriam nos Pousos, também percorria o distrito para integrar outras provas. A Meia-Maratona da Nazaré ou a Corrida das Fogueiras, em Peniche, contaram com a sua presença.
“Ganhava tudo”, recorda o antigo atleta, que colocou a freguesia a correr e captou muitos jovens para que iniciassem a sua actividade desportiva.
Mesmo antes de iniciar a sua carreira, já era um fã acérrimo desta modalidade. Fossem maratonas, provas nacionais ou internacionais, não se podia mudar de canal quando as competições eram transmitidas na televisão. Domingos Magalhães assistia atentamente a estes eventos desportivos, era adepto dos irmãos Castro e sabia de cor os recordes pessoais dos atletas mais reconhecidos daquele meio, tal era a paixão por este desporto.
A sua ‘praia’ eram mesmo as longas distâncias, fascínio que partilhou com os seus pupilos, já que enquanto era atleta, também foi treinador.
Nos Pousos, os Grandes Prémios foram uma autêntica celebração do atletismo e chegavam a ter mais de mil atletas inscritos, recorda Aníbal Carvalho, ex-presidente da ADAL (Associação Distrital de Atletismo de Leiria) e um dos mentores da homenagem que a comunidade pretende dedicar a Domingos Magalhães.
Antigas “fabriquetas de candeeiros” elaboravam os troféus, diferentes dos que se viam noutras competições. “As nossas provas tinham centenas de taças, completamente diferentes do que se via no País”, refere o também antigo atleta, que reconhece o “papel fundamental” de Domingos Magalhães “na iniciação do atletismo nos jovens”.
No próximo dia 29 de Março, a comunidade vai juntar-se para homenagear este antigo atleta. “Ainda hoje, pais e avós não se esquecem do trabalho que foi essencial para aquela juventude”, referiu Aníbal Carvalho, ao esclarecer que a cerimónia organizada pelos pousenses servirá para “agradecer todo o trabalho que teve em prol do desporto e associativismo na aldeia”.
Sempre disponível
Mesmo após terminar a sua carreira no atletismo, Domingos Magalhães manteve a dedicação ao GRAP e virou-se para o futebol. “Fazia um pouco de tudo. Preparava os campos, os miúdos para o treino, dava treinos, fazia arbitragem dos escalões mais jovens… Era uma pessoa que estava sempre disponível para apoiar o GRAP”, menciona o mentor desta homenagem, que também conta com a iniciativa de Rui Silva.
O convívio de dia 29, com um buffet e animação a partir das 20 horas, no Salão Paroquial dos Pousos, tem ainda a presença confirmada de Domingos Castro, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo. Este dirigente considera que “é importante para a federação” associar-se a esta iniciativa. “[Domingos Magalhães] é daqueles que deu tudo pela modalidade e temos de estar solidários e gratos por essas pessoas”, realçou o também antigo atleta.
Manuel Faria, presidente deste clube dos Pousos, fala do ‘senhor Domigos’, como é carinhosamente apelidado pela comunidade, como “o principal motor” das competições de atletismo que levavam até áquela freguesia “milhares de pessoas”.
A força do GRAP no atletismo acabou por esmorecer depois de Domingos Magalhães terminar a carreira e o dirigente não descarta a possibilidade de recuperar esta secção. “O GRAP abraça todas as iniciativas que as pessoas queiram apresentar. São precisas é pessoas, essa é que é a maior dificuldade”, lamenta.
