“Foi o ballet que me chamou”. É com esta expressão que Margarida Gonçalves explica a sua ligação à dança, que começou aos três anos no Conservatório Internacional de Ballet e Dança Annarella Sanches, onde fez toda a sua formação. Há três anos, cumpriu o sonho de se tornar bailarina profissional, ao ser contratada pela companhia Balet DJKT, na Chéquia, onde a jovem leiriense tem assumido papéis principais em vários espectáculos. Já nesta temporada, foi também convidada para dar aulas.
A conversa com o JORNAL DE LEIRIA acontece num dos raros fins-de-semana sem espectáculo. Margarida Gonçalves começa por explicar que foram os pais, naturais de Mira de Aire, no concelho de Porto de Mós, a desempenhar um papel preponderante na descoberta da sua paixão pela dança, mesmo que inconscientemente.
“Queriam que eu fizessem alguma actividade física e levaram-me a experimentar o ballet”, conta, revelando que ainda chegou a fazer trampolins e natação. No entanto, foi a dança que a conquistou definitivamente, ingressando no conservatório de Leiria fundado pela cubana Annarella Sanchez. Foi aí que deu os primeiros passos de dança, não só de ballet, mas também contemporâneo, hip-hop e jazz, e fez toda a sua formação até chegar a profissional.
Em representação da escola participou em muitos concursos nacionais e internacionais, somando perto de três dezenas de prémios. De todos, destaca o de Melhor Solista no Dançarte e a presença na final como solista no Youth American Grand Prix (YAGP de Nova Iorque), considerado o mais conceituado concurso de dança do mundo para jovens bailarinos.
Em 2022, com 18 anos, chegou o momento “desejado” da profissionalização, ao ser contratada pela Balet DJKT, na cidade checa de Pilsen. A oportunidade surgiu no decorrer de audições que fez em Munique, para as quais foram convidados professores e directores de várias companhias, com os participantes a serem desafiados a mostrar o seu talento.
“Muitas oportunidades”
“O director da DJKT gostou do meu trabalho e empenho e propôs-me um contrato de um ano, que foi sendo renovado. Tem sido incrível, com muitas oportunidades”, partilha Margarida Gonçaves, convicta de que a preparação que recebeu no conservatório de Leiria se revelou “fundamental” para o sucesso que tem tido nesta nova fase da sua carreira, com a profissionalização e o início da actividade como professora.
Este último desafio surgiu no ano passado, quando abraçou a missão de dar formação clássica a um grupo de 20 estudantes checas entre os 14 e 16 anos que pertencem à escola da companhia Balet DJKT. O assumir esse novo papel implicou também aprender a falar checo, o que, “não foi grande problema”, diz a bailarina, confessando que “sempre” gostou de novos idiomas.
Se a língua não constituiu uma dificuldade, já que na escola se fala também Inglês, o mesmo não pode dizer da adaptação à nova realidade que a mudança para a Chéquia trouxe, com o viver, pela primeira vez, “como adulta” longe dos pais. “Sempre estimularam a minha autonomia e independência. Mas o viver sozinha, ter despesas para pagar e a casa para organizar, requer habituação”, admite, reconhecendo que “até o clima – a Chéquia é um país muito frio – foi uma adaptação”.
Também o temperamento dos checos exigiu alguns ajustes. “Ao início, são um pouco distantes, mas se mostrarmos simpatia e até esforço em aprender a língua, tornam-se pessoas acolhedoras. Um sorriso abre muitas portas”, alega a bailarina, que não olha para as dificuldades da profissão como um sacrifício. “Quando fazemos o que gostamos, quando corremos atrás dos sonhos, não custa.”