Quando, há 24 anos, partiu para São Tomé e Príncipe, Lúcia Cândido, religiosa natural da freguesia de Caranguejeira, Leiria, levava uma missão: dar aulas de Português na escola secundária da cidade de Neves durante dois anos. Mas, face às necessidades que encontrou, traçou uma nova missão: fazer o que pudesse para ajudar a suprir algumas das muitas carências.
Pôs mãos ao trabalho e ergueu o PIDL – Projecto de Desenvolvimento Integrado de Lembá, que dá assistência a mais de três mil pessoas nas áreas da educação, do apoio social e do emprego. É, diz a irmã, “um grande oásis de esperança” que tem florescido na parte norte da ilha de São Tomé e Príncipe.
A aventura de Lúcia Cândido em África começou com um pedido que fez à sua superiora na congregação Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição para que a deixasse “partir em missão”. Antes, já tinha trabalhado em várias obras da instituição em Portugal, nomeadamente, em Arcos de Valdedez, Olhão e na diocese de Portalegre-Castelo Branco, sempre com crianças.
Chegou a São Tomé e Príncipe em 1999 e hoje confessa- -se “de alma e coração neste país irmão”, onde muitos a tratam por “madre Teresa de Calcutá da cidade das Neves”, em reconhecimento pelo trabalho que tem feito no apoio a quem mais precisa. Na área da educação, o PIDL abrange mais de duas mil crianças, nas valências de creche, jardim infantil e escolas primária e preparatória.
“O projecto dispõe ainda de um lar de idosos, que presta também apoio social a mais de 350 famílias que estão dependentes da marmita solidária ou da cesta básica”, descreve Lúcia Cândido, destacando ainda o papel do Centro Social Mãe Clara. Neste espaço, são confeccionadas dezenas de refeições diárias distribuídas aos madesfavorecidos, que garantem assim “a única refeição” do dia.
As áreas do emprego e da formação são outras das apostas do projecto, que conta com uma sala de costura, onde trabalham cerca de 20 pessoas, mulheres e homens que “confeccionam de tudo, em tecido africano” e que encontram nesta resposta um meio de “sustento e de recurso” para as famílias. Existe também uma carpintaria, onde cerca de uma dezena de jovens produzem artesanato, com a venda a reverter para as necessidades “mais urgentes” do projecto. Também a pensar nesta faixa etária, foram criadas várias salas de informática.
A mais recente valência do projecto é a clínica dentária, que funciona com apoio de voluntários e que “dá consultas a quem mais precisa”. Este espaço veio reforçar a resposta na área da saúde, até agora, assegurada por uma sala de enfermagem que, “com uma enfermeira diária, cuida e atende todo o tipo de apoio médico-sanitário”.
Como faz questão de dizer Lúcia Cândido, “ninguém faz nada sozinho” e o projecto depende do apoio de muitos benfeitores. “Todos somos poucos para ajudar esta grande obra”, pode ler-se numa nota da Associação Abraçar São Tomé e Príncipe, que se dedica a promover iniciativas a favor da missão, como a recente gala solidária realizada em Leiria.
A próxima iniciativa é o envio de um contentor com 25 toneladas de alimentos não perecíveis, que serão enviados para a missão. No site da associação (www.abracarsaotome.org) há informação sobre as formas de ajudar.
Agraciada por Cavaco Silva
Em 2019, aquando da inauguração da clínica dentária, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, através de uma mensagem lida nessa sessão, felicitou o trabalho desenvolvido pela congregação em São Tomé e Príncipe e o projecto coordenado pela irmã Lúcia, que segue “o objectivo de tornar realidade o sonho de uma comunidade que existe para servir”.
Por seu lado, a embaixada portuguesa na capital são-tomense homenageou o desempenho da religiosa. “O empreendedorismo, o espírito de missão, abnegação e o amor ao próximo caracterizam o trabalho da irmã Lúcia Cândido”, refere o texto da homenagem, citado pela agência Lusa. Já em 2015, a freira tinha sido agraciada, com o grau de grande-oficial da Ordem do Mérito, atribuída pelo então Presidente da República, Cavaco Silva.