“Se calhar, não será feito na minha vida. Mas faz muita falta. Há cada vez mais idosos e, quando chega a hora de irmos para o lar, temos de sair das nossas terras”. O desabafo é de Carlos Pedro, de 78 anos, proprietário de um café em Serro Ventoso, uma das quatro freguesias de Porto de Mós que não dispõem de uma estrutura residencial para idosos (ERPI).
O projecto, para servir também São Bento, Arrimal e Mendiga, existe há mais de uma década, mas tem sido sucessivamente adiado por falta de financiamento, deixando a descoberto a zona serrana do concelho, onde quase 20% da população está acima dos 70 anos.
Já este ano, o Centro de Apoio Social das Serras de Aire e Candeeiros (CASSAC), instituição criada em 2004 e que presta apoio domiciliário às quatro freguesias, apresentou uma nova candidatura, agora ao Plano de Recuperação e Resiliência, para a construção de um edifício de raiz com ERPI, que foi indeferida. Ao JORNAL DE LEIRIA, o Instituto de Segurança Social justifica a decisão com o facto de “a pontuação obtida ter sido insuficiente”.
A direcção do CASSAC não baixou os braços e vai agora recorrer à linha de financiamento criada pelo Estado para o sector social. Segundo Saul Saraiva, tesoureiro, está em fase de aprovação um empréstimo de 1,2 milhões de euros, ao qual se juntarão os 300 mil euros já garantidos pelo município.
O dirigente refere que há também o compromisso das juntas de Serro Ventoso e São Bento e da União de Freguesias de Arrimal e Mendiga apoiarem a obra. “Admito que não estivesse tudo bem feito para lançarmos o concurso, mas creio que agora está tudo em ordem e que havemos de fazer a obra”, diz Saul Saraiva, assumindo que a instituição ainda não perdeu a esperança de contar com financiamento do Estado.
Elogiando o esforço das sucessivas direcções do CASSAC, Nuno Alexandre diz “estar como São Tomé”, ou seja, “ver para crer”. “Há anos que se fala no lar. Comprou-se o terreno, fez-se o desaterro e o projecto, mas nunca mais se vê obra”, constata o morador, que lamenta que os idosos sejam “obrigados a sair das suas terras” e a ir para a vila de Porto de Mós ou Pé da Serra, localidade do concelho vizinho de Alcanena.
O presidente da câmara, Jorge Vala, reconhece que esta é uma obra “absolutamente necessária”, frisando que a zona serrana do concelho está “a descoberto” com a resposta de ERPI, o que implica que a população tenha de recorrer equipamentos localizados fora das freguesias, “desenraizando as pessoas”.
O CASSAC nasceu de uma união de esforços envolvendo quatro freguesias para combater a falta de apoio social naquela zona de Porto de Mós. A instituição iniciou actividade em 2005, com o serviço de apoio domiciliário, em instalações emprestadas por uma associação na Marinha da Mendiga, onde se mantém até hoje.
A construção de um edifício de raiz, com valência de lar, é uma aspiração do CASSAC desde a sua fundação. No entanto, o processo tem andado aos solavancos, por dificuldades administrativas – foi necessário desafectar de REN parte do terreno adquirido pelas quatro freguesias – e por falta de financiamento.