O morro do Castelo de Leiria tem ocupação humana confirmada desde há, pelo menos, cinco milénios, e este povoamento é “muito intenso” em alguns períodos que antecedem a construção do castelo, nomeadamente nos finais da Idade do Bronze, durante a Idade do Ferro e em época romana.
Esta é uma das conclusões dos trabalhos de arqueologia realizados nos últimos anos no local, que permitiram a recolha de centenas de milhares de objectos, cujos resultados foram apresentados, esta segunda-feira, num workshop.
No encontro, houve ainda lugar à divulgação do estudo de monitorização do Castelo e do núcleo muralhado, que identificou a existência de “patologias graves” nas estruturas do monumento e a necessidade de medidas correctivas, algumas já adoptadas.
As campanhas arqueológicas, desenvolvidas no âmbito das recentes obras no núcleo visitável do Castelo, dos acessos mecânicos e no largo de São Pedro, puseram a descoberto “importantes” vestígios romanos e da Idade do Ferro, revelando a existência no local de povoados dessas épocas.
“Haverá ocupações mais antigas, mas não chegámos a esses níveis”, por tal não ser necessário para a obra, reconhece Susana Cosme, arqueóloga que trabalhou no largo de São Pedro, com a técnica a destacar a “grande” quantidade de vestígios da Idade do Ferro, detectados em “quase todas as sondagens” feitas pela equipa. Entre os muitos achados, a arqueóloga refere um troço de muralha, pisos de cabana e lareiras, materiais cerâmicos e líticos e fragmentos de ânforas.
Da época romana, foram descobertas estruturas de edifícios, com colunas, que se desenvolviam em torno de uma via romana. Segundo Susana Cosme, os trabalhos permitiram, por exemplo, identificar um silo e encontrar várias mós e pesos de teares, o que indica que a zona seria usada para as actividades de moagem e fiação.
Uma das surpresas dos trabalhos foi a identificação de uma “sepultura de incineração” do século I ou II, “o primeiro enterramento romano” encontrado atagora no morro do Castelo, especifica Vânia Carvalho, arqueóloga no Município de Leiria.
Já anteriormente, nas escavações no âmbito das obras do Castelo, concluídas em 2021, tinham sido identificadas estruturas romanas, nomeadamente, na Casa do Guarda e junto à porta de entrada do monumento visitável, tais como restos de um forno e depósitos com “uma grande quantidade de fragmentos de estuque com decoração”, descreve Adelaide Pinto, admitindo que se estaria em presença de “edifícios de dimensão significativa”.
Do lado de fora do Castelo, as escavações para a construção dos acessos mecânicos puseram a descoberto uma muralha anterior à actual, da Idade do Ferro, e um esqueleto enterrado, em torno da reconquista cristã, segundo rito cristão, encontrado na vertente norte do morro, “sem contexto, num completo deserto arqueológico”, revelou Miguel Almeida.
As escavações no largo de São Pedro trouxeram mais dados sobre o conhecimento da necrópole medieval, com a identificação de mais 101 indivíduos, com destaque para dois não europeus, “provavelmente africanos”, sepultados pelo rito cristão e que, segundo Susana Cosme, serão dos enterramentos “mais antigos” no local. Com estes vestígios, o número de indivíduos identificados nesta necrópole medieval, apenas em áreas de obras, ultrapassa os 500.
Estudo de monitorização
Durante o encontro sobre a investigação arqueológica do morro do Castelo, foram também apresentados alguns dados da monitorização estrutural feita, durante 13 meses, ao monumento, incluindo nos panos de muralha, do castelo e cerca muralhada.
Segundo Nuno Ramos, da equipa que realizou os trabalhos, o projecto “demonstra a existência de diversas patologias graves”, resultantes da erosão natural, mas também provocados pela vegetação, que exigem a “implementação de medidas correctivas”, a continuação da monitorização e a realização de um estudo geológico “mais detalhado” do maciço subjacente ao Castelo.
A zona do torreão Sul, a muralha Este e porta de Pêro Alvito e a cerca da vila/jardim das laranjeiras são, de acordo com o estudo, as zonas mais problemáticas.
Segundo apurou o JORNAL DE LEIRIA, a monitorização vai continuar, para a definição de áreas prioritárias de intervenção. Entretanto, a câmara já fez trabalhos em dois pontos considerados de “risco”, nos muros que ladeiam a Torre Sineira e delimitam o Largo de São Pedro.