“Obrigar famílias a escolher entre a renda ou o pão é criminoso”. A afirmação foi proferida por Joana, de 35 anos, uma das pessoas que esta tarde se concentrou junto à Fonte Luminosa, em Leiria, para exigir “habitação para todos”.
No local, estiveram perto de uma centena manifestantes, que, entre palavras de ordem – “fartos de escolher entre pagar a renda ou comer”, “Paz, pão e habitação” e “casa para viver”, foram algumas das frases que mais se ouviram – partilharam testemunhos.
Filipa Melo, de 29 anos, contou o “tormento” pelo qual tem passado. Natural de Ourém, viveu seis meses em Lisboa com o namorado, onde chegaram a pagar 680 euros por um quarto, acrescido de despesas, numa casa que partilhavam com outra pessoa e com “muitas baratas”. A situação tornou-se “insustentável” e, neste momento, estão a residir em casa dos pais de João Duarte, em Monte Real. “Quero ter uma casa para conseguir criar um filho. Precisamos dessa liberdade e autonomia. Não o conseguir, é revoltante, frustrante e stressante”, confessou Filipa Melo ao JORNAL DE LEIRIA, momentos antes de partilhar a sua história com os restantes manifestantes.
“Não é aceitável, não é digno que uma pessoa que trabalha não consiga arranjar um espaço a que chamar casa”, declarou Mariana Violante, ligada à organização da manifestação em Leiria. A activista denunciou algumas das consequências da “especulação desmesurada” do sector imobiliário, alertado para a realidade de muitas pessoas idosas “empurradas para fora das casas e dos bairros onde sempre viveram”, para as rendas “insuportáveis” e para o impacto do alojamento local que, em muitos casos, está a contribuir para o “desalojamento local”.
Mariana Violante salientou também o aumento dos despejos de famílias vulneráveis, uma realidade que Cindy Vieira, de 30 anos, bem conhece. A jovem, natural de Ourém, trabalha em Lisboa, numa organização que apoio pessoas sem-abrigo. “Cada vez mais recebemos famílias, que vivem na rua por incapacidade de pagar a renda ou crédito à habitação”, contou Cindy, frisando que “a linha entre ter casa e viver na rua é hoje muito ténue”.
Leiria foi uma das mais de 20 cidades e vilas do País, onde, este sábado, houve manifestações pelo direito à habitação, promovidas pela plataforma Casa para Viver, da qual faz parte o movimento Porta a Porta, responsável pela organização do protesto realizado em Leiria e na Nazaré.
Aumentar a oferta de habitação pública, diminuir taxas de juro. estabilizar os contratos de arrendamento e garantir a renovação dos actuais contratos de arrendamento são algumas das medidas vertidas no manifesto do Movimento Porta a Porta, lido durante a concentração, em Leiria. “É hora de estar na rua na luta pela nossa sobrevivência”, apelaram, por seu lado, os representantes do movimento Casa para Viver.