O calor e o aumento de acidentes rodoviários deixaram recentemente as reservas de sangue em baixo, nomeadamente dos grupos sanguíneos A e O positivo e negativo, em baixo, o que levou o Instituto Português do Sangue e da Transplantação a lançar mais um apelo à dádiva.
Aníbal Curto Ribeiro, presidente da Associação de Dadores de Sangue da Marinha Grande, constata que o sangue nunca acabou nos hospitais, mas na altura das férias de Verão e no Natal há sempre mais falta para ajudar, sobretudo, os acidentados.
“A cadeia tem de estar bem montada, porque são precisas mais de mil dádivas por dia”, reforça. Margarida Silva, 52 anos, é dadora de sangue há cerca de oito anos.
A primeira dádiva aconteceu por acaso. “Fui com umas amigas e elas não puderam dar sangue. Tinha muito medo de agulhas, de me sentir mal depois, mas como estava ali, acabei por dar.
Afinal, não custou nada e passei a dar sangue de quatro em quatro meses”, conta, uma semana depois de ter feito mais uma dádiva, na Marinha Grande.
Além de Margarida Silva, também o marido e a filha são dadores. “Dar sangue é ajudar as outras pessoas. Se sou saudável, faço-o. Já não há benefícios, mas nunca foi por isso que dei sangue”, salienta. Também Maria Trindade, 58 anos, começou a dar sangue porque uma colega ia com regularidade e decidiu experimentar. “Dar sangue é uma acção cívica.
Na sexta-feira estive em Leiria mais de duas horas à espera para doar e fiquei agradavelmente surpreendida por ver tantos jovens com cerca de 20 anos à espera para a dádiva”, reforça.
Agendamento em Pombal
A Associação de Dadores de Sangue do Outeiro da Ranha (ADSOR), em Pombal, há 45 anos que se dedica à causa. No último ano, o número de dádivas triplicou, assume Nuno Elias, não estando na posse dos números. O presidente da ADSOR adianta que um dos segredos da adesão prende-se com a organização, que permite o agendamento das dádivas, que “maximiza os meios e faz que com os tempos de espera sejam mínimos”.
“Temos cerca de 1500 dádivas por ano e cerca de 150 por mês. A cadência é o essencial para quem está a planear. Temos sempre seis ou sete novos dadores e atraímos muitos jovens, mas o mais importante é conseguir fidelizá-los”, sublinha Nuno Elias.
Para o presidente da ADSOR, ser dador não é só cuidar dos outros, mas também de si próprio. “Para dar sangue é preciso estar bem de saúde e se queremos ajudar temos de tratar da nossa saúde, porque há critérios rigorosos que têm de ser cumpridos”, afiança, lembrando que um dador tem ainda a vantagem de ser mais “auditado”, podendo, por isso, descobrir doenças mais precocemente.
Nuno Elias refere que a ADSOR tem muitos dadores de fora do concelho de Pombal e que funciona muito o “passa a palavra”.
“Procuramos ter todas as condições para que as pessoas se sintam bem, criando um ambiente calmo, que tenta amenizar o nervoso miudinho. Se a primeira dádiva correr mal, já não voltam”, diz.
Aníbal Curto Ribeiro aponta, por sua vez, que os mais velhos são mais “fiéis”, enquanto os jovens nem sempre se fidelizam. No entanto, garante que os mais novos “estão sensíveis à dádiva de sangue e de medula” e aparecem sempre que há apelos.
Segundo o dirigente, “há um ligeiro aumento das colheitas face ao ano anterior” e a “Marinha Grande tem um “índice de dadores muitíssimo elevado”, mas o objectivo é entrar no mundo dos jovens, através das redes sociais.
“Se formos ao encontro deles é mais fácil ir buscá-los. Eles têm boa vontade, falta-lhes vir com maior frequência.” Aumento de dadores em 2022 O Relatório de Actividade Transfusional e Sistema Português de Hemovigilância 2022 refere que “parece ter-se consolidado o aumento do número de dadores relativamente ao período pré-pandémico, mas com uma redução do número de dádivas” por dador, evidenciando a “necessidade de fidelização”.
Segundo o documento, o número de dadores que pela primeira vez deram sangue em 2022 apresenta valores superiores aos registados em 2018. “Associado a este aumento, mantém-se uma alta frequência relativa de dadores no grupo etário dos 18 aos 24 anos, sendo esta distribuição superior à proporção de cidadãos portugueses no mesmo grupo etário”, refere o relatório.
As principais causas para as recusas de dádivas foram os baixos níveis de hemoglobina e as viagens.
De destacar que, em 2018, 4.813 pessoas não puderam dar sangue devido a viagens recentes, e em 2022 o número foi de 7170. Para ser dador basta ter mais de 18 anos de idade, de 50 quilos e hábitos de vida saudáveis. Pode obter mais informações em https://www.sns24. gov.pt/guia/posso-dar-sangue/.