Na mais recente intervenção de restauro no Mosteiro da Batalha, a presença de Rita Ribeiro, neta de Alfredo Ribeiro, acrescentou mais um traço na linha que, através de gerações, liga os Ribeiro à preservação do monumento património da Humanidade.
Alfredo Ribeiro nasceu (em 1931) numa família de canteiros que participaram nos grandes restauros oitocentistas e acabou por destacar-se, localmente, no ensino da cantaria artística, desde os anos 80, até falecer. Os filhos não seguiram o ofício, mas a neta, Rita, que foi aluna dele, retomou a tradição.
No último sábado, na galeria do posto de turismo da Batalha, família, amigos e autarcas reuniram-se em homenagem para assinalar 20 anos sobre a morte de Alfredo Neto Ribeiro. O contexto, a exposição do discípulo Pedro Oliveira, que inclui, patentes ao público, duas peças executadas durante a aprendizagem com o mestre, como, ainda hoje, o antigo aluno lhe chama.
Perfeccionista, doce e profissional
“Ensinou-me tudo”, resume. “Quase como um avô”. Com 44 anos, Pedro Oliveira trabalha por conta própria na área do restauro (substituição de peças) e da cantaria e escultura. E procura seguir o exemplo de Alfredo Neto Ribeiro: “perfeccionista” e com “bastante rigor”. Depois de frequentar a escola de artes e ofícios, Pedro tornou-se o braço direito do mestre, com quem trabalhou até ao óbito, ocorrido em 2003, a 30 de Agosto. “Ele nasceu, basicamente, no Mosteiro”, sinaliza. “Tinha uma percepção diferente para esta arte”.

Entre os aprendizes que alcançaram a autonomia, encontra-se, também, Alzira Antunes, fundadora e gestora da Gárgula Gótica, empresa que se tornou numa referência para escultura e cantaria artística, além da conservação e restauro. No portefólio da Gárgula Gótica descobrem- se, entre outras, obras para uma princesa no Catar e para lojas de uma grande marca de moda internacional, para o designer francês Noé Duchaufour Lawrence e para o estúdio de design The Haas Brothers, que encomendou o pedestal em mármore (12 exemplares) para a versão ultra luxo da autobiografia da cantora Rihanna, lançada em 2019, no Guggenheim Museum, em Nova Iorque.
Para trás, ficam as aulas no Mosteiro da Batalha, nos anos 90, sob a orientação de Alfredo Neto Ribeiro. “Paciente, adorava ensinar”, realça. “Para mim, era o meu segundo pai”. Um formador “querido” e “doce”, e, por outro lado, “super profissional”. Que a deixava “sempre impressionada com o que fazia”.
De geração em geração
Segundo Rita Ribeiro, são pelo menos quatro as gerações anteriores da família que se dedicaram à cantaria, com início no século XIX. A neta de Alfredo Ribeiro é a descendente que actualmente está mais próxima da tradição familiar. “Dou continuidade de uma forma diferente. Não esculpo pedra, trabalho em conservação e restauro”. Está de regresso ao Mosteiro da Batalha, onde trabalhou noutras ocasiões, e agora vem colaborando na reabilitação dos claustros de D. João I e D. Afonso V, obra da responsabilidade da empresa In Situ, já em fase de conclusão. “Esculpir, e viver disso, é muito complicado”, argumenta. Alfredo Ribeiro fixou-se como desenhador de construção civil – o neto, Renato, é arquitecto – com gabinete próprio, embora sem abandonar as aulas. “O meu avô era exigente” e “muito boa pessoa”, reforça, com “muito jeito para ensinar”.
Reactivar a escola de cantaria?
Na homenagem realizada no sábado, a vereadora Mónica Cardoso, do Município da Batalha, lembrou que Alfredo Ribeiro “deixou discípulos, que hoje perpetuam a sua obra, tendo marcado toda uma geração de verdadeiros e genuínos artesãos da cantaria”. Deixou também inúmeras intervenções, “muitas delas no Mosteiro de Santa Maria da Vitória” e outras, como a reconstrução do pelourinho da Batalha ou a a reconstrução da abóbada da capela-mor da igreja das Cortes, no concelho de Leiria. Foi ainda responsável pela oficina de cantaria da escola de artes e ofícios tradicionais da Batalha.
Raul Castro, presidente da Câmara da Batalha, presente na homenagem, sublinha que “muitas empresas na região são formadas por empresários que foram alunos dessa escola”, o que constitui “uma mais-valia”. Face ao “legado importantíssimo” de Alfredo Ribeiro, o executivo mostra-se disponível para apoiar a eventual reactivação do ensino da cantaria na Batalha. Que “devia funcionar dentro do Mosteiro”, acrescenta Raul Castro. “Por nós, era de imediato, se o Governo desse uma resposta interessante nesse aspecto”, assegura. “Gostaríamos que houvesse interesse”.
Os antepassados de Alfredo Ribeiro chegaram à Batalha no século XIX para trabalhar no restauro do Mosteiro. Pedro Jorge Ribeiro, filho de Manuel Jorge e avô de Alfredo Ribeiro, além de mestre canteiro foi encarregado da escola que existiu na Batalha até aos anos 20 do século passado, ficando, depois, responsável pela vigilância e abertura do monumento, onde residia.
Alfredo Ribeiro também foi guarda do Mosteiro. Participou em diversas intervenções de restauro do monumento, ao longo dos anos, e, no final da década de 80, interveio activamente na reanimação do ensino da cantaria, mais de meio século depois do avô, Pedro Jorge Ribeiro. Ensinou até morrer, em 2003.