Data de 22 de Agosto de 1873 a primeira acta da Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP), que teve como primeiro presidente o Barão de Viamonte, figura de realce nacional, pertencente aos partidos regenerador e progressista e por duas vezes governador civil do distrito de Leiria. Instituição que teve, entre os maiores sócios beneméritos, o escritor Eça de Queiroz.
Ao longo de 150 anos de actividade, atravessando duas Grandes Guerras, a ditadura política e várias vagas de emigração, a SAMP tem sido “espaço de encontro, de realização, através das artes, e também de luta. Uma instituição onde a liberdade sempre esteve presente”, realça Paulo Lameiro, professor e consultor da SAMP, coordenador do projecto Ópera na Prisão, também ele figura incontornável nesta casa, onde [LER_MAIS]entrou há 50 anos, para a Banda Filarmónica, como aprendiz de fliscorne.
“O meu primeiro papel foi criar a Escola de Artes e depois outros projectos, que se destacaram por serem originais, na sua relação com a arte, a música, a saúde e o bem- estar”, refere Paulo Lameiro.
A filarmónica da SAMP também assinala o seu aniversário dia 8 de Dezembro,150 anos depois de ter recebido os seus primeiros instrumentos. E para o professor, “a banda é a âncora desta instituição, porque a partir dela se consubstanciam praticamente todos os projectos conhecidos do público”.
“A SAMP sempre integrou profissionais e não profissionais, pessoas de todas as idades e géneros. A banda foi a primeira em Portugal a integrar mulheres e, desde cedo, pessoas com necessidades especiais”, nota Paulo Lameiro.
Nas décadas de 50 e 60, período de grande emigração, muitos músicos da banda partiram para França, onde alguns deles acabaram envolvidos na criação da Filarmónica de Paris. Enquanto isso, nos Pousos, nascia a biblioteca, o teatro e variedades, como resposta às mulheres e às crianças que por cá ficaram, recorda o professor.
“Todos os projectos vieram a reboque da banda, sendo que três desenvolveram e ampliaram essa matriz”, constata. “É o caso do Berço das Artes, que deu origem à Escola das Artes da SAMP. Ainda hoje é a escola que forma profissionais, que usam a metodologia do Berço das Artes, para aprender a cuidar do outro, sejam crianças, idosos, pais, mães, reclusos, etc. Mais importante do que a preparação de novos músicos é a celebração da vida e da arte”.
Daqui nasceu um vasto conjunto de projectos, que cruzam arte, saúde, bem-estar, com uma vertente social, que vêm dar resposta à comunidade. E dois são disruptivos e despertam o interesse internacional, frisa Paulo Lameiro.
É o caso da Ópera na Prisão, que leva uma “linguagem artística complexa, associada a uma elite mais expert”, a um público mais improvável, que são os reclusos. “É um projecto que verdadeiramente internacionalizou a casa, mais até do que a Música para Bebés, pelo know-how e pelos parceiros que trouxe”, realça.
Outro é o Museu na Aldeia, que junta maestros e museólogos, artes plásticas, visuais, levando ao público de 26 municípios oferta à qual nem sempre têm acesso, considera.
É também sobre o ambiente democrático da SAMP que fala Carlos Lopes, actual presidente desta casa, que integrou a banda há 40 anos, onde ainda toca trompete. “Daqui se levam valores para toda a vida, de democracia, de saber ouvir os outros.”
Além da banda, o presidente refere que a SAMP se destaca hoje pelo ensino artístico dedicado à primeira infância e pela intervenção social que assumem os programas que desenvolve no âmbito dos efeitos terapêuticos das artes. “São hoje 19 os projectos da SAMP, o mais recente é o Mozart On, que deriva da Ópera na Prisão. E temos novos a nascer.”
E têm sido muitos aqueles que, tendo passado pela SAMP, fizeram carreira na música e no teatro, por exemplo, não só no País como no estrangeiro, congratula-se o dirigente.
Quanto ao aniversário, será celebrado em diferentes datas, até 8 de Dezembro de 2024. Este ano, está a ser elaborada uma cápsula do tempo, que contém uma marcha nova e testemunhos de elementos da SAMP, que deverão ser enterrados em Setembro, e apenas conhecidos do púbico aquando do bicentenário da instituição. Dia 8 de Dezembro haverá concerto especial e dias depois uma conferência, com participação de maestros que falarão sobre repertório dos últimos 150 anos nos seus países, evento que fechará com actuação da Banda Sinfónica da PSP, a 22 de Dezembro.
Em paralelo, está a ser ultimado um plano estratégico para os próximos cinco anos da SAMP, refere o presidente.
É professor de saxofone e foi maestro da banda durante 22 anos. Alberto Roque toma hoje várias decisões musicais relativamente à filarmónica e está particularmente entusiasmado com a preparação das celebrações dos 150 anos daquela que é a sua “casa-mãe”.
É o caso da conferência de 22 de Dezembro, onde se congratula com a participação enriquecedora de maestros vindos da China, Estados Unidos, Brasil, Suíça e Austrália, entre outros países.