Em dias quentes de Verão, como aqueles que se têm vindo a sentir, os parques de merendas têm sido uma alternativa para miúdos e graúdos, que se refugiam no silêncio e na frescura da floresta, para petiscar, conviver, descansar ou praticar exercício.
O JORNAL DE LEIRIA foi conhecer alguns dos muitos equipamentos distribuídos pela nossa região, bem como as famílias e os amigos que já não dispensam longas horas de lazer entre arvoredo, embalados pelo chilrear de pássaros, com visitas atrevidas de esquilos e patos.[LER_MAIS]
Troncão
No Troncão Parque, localizado nas Colmeias, no concelho de Leiria, cerca de 30 pessoas celebram o segundo piquenique da família Sousa. Sentados à volta da mesa, adultos petiscam e põem a conversa em dia, e já as crianças dão largas à imaginação, com caça aos girinos, no riacho ali ao lado, e competição de gargalhadas nos escorregas e balancés.
“Fizemos o primeiro piquenique da família Sousa em 2017. Depois surgiu a Covid-19 e só agora tivemos possibilidade de realizar o segundo”, conta Cláudia Sousa. O clã é bastante unido e aproveita muitos momentos para se reunir. Mas é durante estes piqueniques de Verão, que a família tem oportunidade para conviver com os parentes que estão emigrados em França e na Bélgica, explica Cláudia.
“Aqui temos sombras, mesas, churrasqueiras, casa de banho, café e espaço para as crianças brincarem”, refere a administrativa, natural dos Milagres, sublinhando que este local agrada a todas as faixas etárias deste grupo tão heterogéneo, com idades compreendidas entre os 88 e os 2 anos.
“Ao almoço comem-se grelhados mistos, bebe-se cerveja e vinho, revivemos momentos antigos e durante a tarde jogamos à macaca e vamos inventar, talvez como um jogo de cadeiras”, conta Cláudia, adiantando que a ideia é ficar até ser noite.
Para António Sousa, octogenário e patriarca do grupo, piqueniques destes “são muito importantes” e têm todo o valor para reunir filhos, netos e bisnetos. Satisfeita está também Alice, de 5 anos, não só com o almoço, bem como com os baloiços que ali tem à disposição.
Florentino da Ponte é coordenador deste parque e presidente da Associação Cultural e Desportiva Igreja Velha, entidade que fundou e dinamiza este espaço há 14 anos. Fala-nos sobre a multidão que por estes dias frequenta este equipamento, enquanto lança bolas de metal, num desafio de petanca, que de resto se tem celebrizado no Troncão. “Muita malta da terceira idade vem aqui para se divertir, em vez de ficar sentada no sofá”, congratula-se o coordenador, salientando que é tão grande a afluência de gente que durante o Verão passa por esta infra-estrutura – há dias em que chegam a concentrar-se 550 pessoas – que durante os fins-de- semana é necessário fazer reserva prévia.
O espaço é frequentado sobretudo por público que reside num perímetro de 50 quilómetros, havendo também autocarros vindos do Norte que, com destino ao Santuário de Fátima, acabam por parar e almoçar no Troncão.
Barosa
Também em Leiria, no Parque de Merendas da Barosa, Jorge Couto, açoriano e residente na Marinha Grande há vários anos, joga às cartas com amigos. Próximo da mesa, uma das senhoras do grupo, deitada sobre uma manta, repousa depois de um belo almoço de sardinhas assadas. “E mais logo vamos assar um franguinho”, adianta Jorge.
Foi o seu amigo Rogério Costa, praticante de BTT e frequentador de inúmeros parques de merendas da região, que o trouxe a conhecer este local. Grelhadores, lava-loiças, casa de banho, recinto de brinquedos para crianças e café são pontos muito valorizados pelo grupo. Mesmo não sendo fim-de-semana, e não estando o café em funcionamento, é possível contactar previamente a entidade gestora e solicitar electricidade para cada um poder usar as suas máquinas e tirar as suas bicas, salienta Rogério Costa.
Satisfeito com as condições deste equipamento, propriedade da União de Freguesias de Marrazes e Barosa, com gestão a cargo do Grupo de Amigos Motard Só Vai Quem Quer, Rogério elogia as condições ali criadas, mas é crítico com a falta de civismo de alguns utilizadores, que “podiam ser mais cuidadosos” e evitar deitar resíduos no chão, uma vez que “não faltam caixotes do lixo”.
Portela
No concelho da Marinha Grande, o Parque de Merendas da Portela é o mais frequentado de todos, conta Cristina Sousa, presidente da Junta da Marinha Grande, que assegura limpeza e demais manutenção nas quatro infra-estruturas da Portela, do Tremelgo, do Samouco e do Lugar das Árvores, localizadas em áreas do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).
Qualquer um destes parques de merendas está hoje dotado de equipamentos de manutenção física, instalados pelo ICNF, mas só o da Portela, o maior deles, com 45 mesas, tem sanitários. “Com excelentes condições” e às portas da cidade, são muitos aqueles que o utilizam não só no Verão, mas também no resto do ano. Sejam trabalhadores de fábricas, que o escolhem para almoçar ao ar livre, sejam grupos de pessoas que, depois de almoço, ali se juntam para jogar cartas, petanca ou dominó, explica a presidente.
E para a realização de eventos, se for necessário utilizar equipamentos de som, também pode ser previamente requisitado à junta um ponto de electricidade, acrescenta a autarca.
Alexandre Piedade, de 89 anos, que joga à copa com um grupo de amigos sob o arvoredo, na Portela, confirma que o parque sempre foi muito utilizado, até mesmo antes da configuração dos dias de hoje, ainda antes do 25 de Abril. Aqui se junta o grupo de homens, todos eles aposentados, durante todo o ano, assim a meteorologia o permita. Vêm trabalhadores, na pausa para almoço, crianças das escolas e idosos de lares de terceira idade, conta Alexandre, realçando ainda a presença simpática de muitos esquilos neste parque.
Não é a falta de grelhadores que impede o grupo de idosos do Centro Social Paroquial de Vieira de Leiria de passar umas horas de convívio na Portela, até porque as suas casas-de-banho e os seus bons acessos são fundamentais para quem tem mobilidade reduzida, defende Júlia Botas, animadora, e Mariane Lopes, técnica auxiliar de serviço social.
Desta vez, o grupo de 15 idosas parou para lanchar neste parque, depois de um passeio junto à costa. É um espaço calmo, fresco, que permite às utentes quebrar a rotina. “Quando era mais nova não tinha tempo para passear. Depois de estar no lar, já vim aqui várias vezes”, conta Maria Clara Pedro, de 82 anos, que fora empalhadeira na já extinta fábrica Dâmaso.
Amor
No Parque de Merendas de Amor, em Leiria, são muitas as mesas, as sombras, os grelhadores, os brinquedos disponíveis para as crianças, também os equipamentos de manutenção física, e até existe um baloiço sobre o riacho, para fotos instagramáveis. Já os patos são presença regular e desavergonhada, que se abeiram de quem ali come.
É neste espaço que Inês Santos, de Monte Redondo, se juntou com a família para almoçar. “Tornou-se hábito vir aqui quando a minha irmã, emigrante em França, está de férias”, explica Inês, que elogia a limpeza dos sanitários e o espaço destinado às crianças, que faz as delícias da sua filha.
O único revés talvez sejam as moscas, que por estes dias de calor incomodam mais, possivelmente devido à água mais estagnada da ribeira, acredita.
“Não somos muito dados a praia. Acho que nos cansa mais”, comenta Inês, que entende que parques de merendas são a melhor opção para descansar.
São inúmeras as opções de parques de merendas no distrito de Leiria, entre espaços de interior e outros situados na costa. Eis algumas das muitas infra-estruturas disponíveis: Parque de Merendas de Vale da Sobreira, na Mata Mourisca, em Pombal; Fonte da Pedra, no Louriçal, em Pombal; o Parque de Santo António das Pinheiras, em Vermoil, em Pombal; o do Pisão, na Bajouca, em Leiria; o Parque da Pia do Urso, em São Mamede, na Batalha; do Arrimal, em Porto de Mós; Parque de Merendas da Mata do Gaio, em Alcobaça ou da Praia de Paredes da Vitória, no mesmo concelho; Parque de Merendas da Praia da Vieira, na Marinha Grande; Parque de Merendas do Monte de São Brás, na Nazaré, ou Parque de Merendas da Estrada dos Casais, em Peniche.