Le Portrait d’un Résistant, em português O Retrato de um Resistente, é o título do mais recente livro de Victor Maria, um autor natural da Marinha Grande e radicado em Saint-Étienne, há cinco décadas.
Numa obra que saiu a tempo da celebração do 49.º aniversário da revolução de Abril, o escritor, agora com 67 anos, leva-nos como testemunhas, nas primeiras experiências políticas da sua vida e no jogo do gato e do rato político contra a PIDE, a polícia secreta de Salazar e de Caetano, que haveriam de ditar a sua fuga para França.
Mas esta é apenas uma pequena história, quase não se dá por ela, num tomo onde o autor preferiu burilar e criar uma teia entre pequenos retratos de outros resistentes e suas famílias.
Lançou mão de cartas, de memórias e até de um diário de cativeiro para efabular, histórias que rodam à volta de Saint-Étienne e de Lyon, a segunda maior cidade de França.
Como escreve o autor do prefácio, Paulo Doubouchet, “as maiores obras saídas de uma revolução são os homens [e as mulheres] que ela cria”. A aventura de Victor Maria, conta o autor, começou, nos idos de 70, do século XX, com o transporte de propaganda clandestina destinada aos operários da cidade [LER_MAIS]vidreira.
Foi quando a sua vida tropeçou numa participação num comício ilegal do Partido Socialista, que o levou e ao melhor amigo a passarem a fronteira com Espanha a salto.
Chegado a França, nos primeiros tempos, o, hoje, empresário reformado, ajudou no acolhimento de outros refugiados de perseguição política.
Ensinou francês, ajudou a tratar de documentos, muitas vezes foi apenas uma mão e um ouvido amigo, que escutou os desabafos de quem se viu atirado para uma vida de necessidades e solidão, longe das fragas natais.
Mas este livro, em francês, não conta em detalhe essa história, apenas alude a ela.
Neste livro, Victor Maria, que já estampou o seu nome em mais de duas dezenas de títulos escritos ao correr da pena e da memória, povoados por pensamentos, contos e ensaios, fez algo diferente.
Preferiu contar histórias de resistência, embrenhando-se num estilo que toca o romance literário, através de vários episódios a que chamou Antoine, Pablo, Violette e Marcel, entre 1939, até ao final da década de 40.
“As Malvadias da Pide”
Victor Maria é, acima de tudo, um coleccionador de letras, palavras, frases e parágrafos que lhe valeram, em 2015, um prémio literário através da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, pela obra em língua francesa La Vieille Maison de Briques – Bribes d’Une Enfance Portugaise, livro onde recorda a ancestral casa de família na zona da praia de Mira.
Como reconhece a meio de um dos muito relatos que constroem a sua vida, “um grande salto para um antigo aprendiz de vidreiro da Marinha Grande.”
O autor encontra-se a trabalhar em As Malvadias da Pide, um volume sobre a tortura no campo do Tarrafal, a pior prisão política do Estado Novo, que deverá ser o seu próximo livro que o levou a embrenhar-se nos arquivos da Torre do Tombo.
A edição será da editora de Leiria, Hora de Ler, que também levou ao prelo Le Portrait d’un Résistant.