Após 20 anos de afastamento da vida política, Pedro Barjona Henriques está de regresso. O antigo presidente da Câmara de Castanheira de Pera, eleito pelo PS, vai voltar a concorrer à liderança do município, encabeçando, agora, a lista do PSD como independente. Este é o caso mais recente da troca de partidos entre os candidatos do distrito às próximas eleições autárquicas, havendo perto de uma dezena que concorrem, na qualidade de independentes, por cores diferentes daquelas pelas quais foram eleitos no mandato actual ou no passado.
No concelho de Leiria, por exemplo, Branca Matos, vereadora eleita pelo PSD, irá apresentar-se a votos pelo CDS-PP, com a sua candidatura a ser anunciada menos de uma semana depois de ter entregado o pedido de desfiliação como militante social-democrata. Terá a acompanhá-la, como cabeça-de- lista centrista à Assembleia Municipal, Ley Garcia que integra a actual bancada do PSD neste órgão.
Já António Pereira de Melo, da mesma bancada e que, no passado, foi eleito pelo CDS-PP, será o número um da lista do Chega à Assembleia Municipal. Entre os candidatos às juntas, há também ‘transferências’ no concelho de Leiria. É o caso de Sandro Ferreira, actual presidente da União de Freguesias de Souto da Carpalhosa e Ortigosa, eleito pelo PSD, agora anunciado como cabeça- de-lista do PS no Souto da Carpalhosa. Na Caranguejeira, acontecerá o inverso: Oriana Cristóvão, que lidera a junta em representação dos socialistas, é apontada como a candidata do PSD.
Em Figueiró dos Vinhos, há, pelo menos, duas mudanças. José Fidalgo, ex-vereador do PSD, é o cabeça- -lista do Chega à câmara, enquanto, José Carlos Quintas, presidente dos bombeiros voluntários e antigo militante social-democrata, lidera a lista do PS. Por seu lado, o antigo deputado socialista, Carlos Lopes, mantém-se, pela terceira vez consecutiva, como o rosto da candidatura do Movimento Figueiró Independente.
E Agostinho Gomes, que cumpriu três mandatos como vereador do PSD em Alvaiázere, vai agora encabeçar, como independente, a lista do PS à câmara. Já na Marinha Grande, Ricardo Galo que, nas autárquicas de 2017, foi cabeça-de-lista do PSD, vai agora como número dois da candidatura do Chega, liderada por Emanuel Vindeirinho.
Projectos pesam mais do que os partidos
“Estou na política por convicção e não por conveniências ou ambições pessoais. O importante não são os partidos, mas os projectos”, afirma Branca Matos, que justifica a aceitação do convite do CDS-PP por se rever na estratégia dos centristas para o concelho, “focada na proximidade com as pessoas” e com propostas “ajustadas à realidade”.
A ainda vereadora, que desempenha a função como independente depois de se ter desfilado do PSD, garante, no entanto, “não renegar o passado” e que o partido que representou até há poucas semanas “foi uma parte importante” da sua vida política, mas que não se revê no projecto actual para Leiria.
Já Agostinho Gomes diz “nada ter contra o PSD ou a social-democracia”, justificando a sua candidatura pelo Partido Socialista por acreditar “piamente” no projecto político que lhe foi proposto. “O que me move é tentar fazer o melhor por Alvaiázere. Se isso implicar concorrer por outra força política, por que não? Já há 500 anos, Camões dizia que o mundo é composto de mudanças”, refere o candidato, que considera “primordial” criar condições para a atracção e fixação de empresas para o concelho.
Pedro Barjona Henriques, por sua vez, explica o seu regresso à política, dando a cara pela candidatura do PSD em Castanheira de Pera, por entender que “o concelho não tem nenhuma estratégia de desenvolvimento”. “Não há uma ideia ou pensamento de futuro, não há uma obra para o futuro”, disse, em declarações à agência Lusa, o antigo autarca socialista, principal impulsionador da construção da praia das Rocas. O advogado, de 69 anos, admite ainda que a decisão de liderar a candidatura do PSD se deveu “à vontade de contribuir para o concelho”.
Politóloga e professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, Paula Espírito Santo acredita que, dada a proximidade característica das eleições autárquicas, nas quais, “o partido pesa menos do que o projecto ou as pessoas”, o efeito da ‘mudança de camisola’ é reduzido.
“Os estudos não são muito claros, mas a prática indica-nos isso”, diz a docente, frisando que a percentagem de eleitores “fiéis a um partido é cada mais mais reduzida”. “Há uma volatilidade do voto, o que também explica que os representantes [das candidaturas] se sintam mais confortáveis em concorrerem por forças partidárias diferentes em momentos diferentes”, acrescenta.