A Nitrogen Sensing Solutions (NS2), uma das mais promissoras startups tecnológicas incubadas na Startup Leiria, nasceu da visão de transformar décadas de investigação científica em soluções práticas para desafios globais.
Com uma equipa de cinco pessoas, a empresa está a revolucionar a forma como são monitorizadas substâncias nocivas em meios líquidos.
O NOxAqua, desenvolvido por Gabriela Almeida, sócia, co-fundadora, CEO e directora de investigação, é o resultado de 20 anos de pesquisa.
Este sistema inovador de bio-sensores permite análises em tempo real de amónia, nitritos e nitratos, com fiabilidade, não obstante, questões como a turvação ou salinidade da água.
A excelência do trabalho foi reconhecida internacionalmente, conquistando o terceiro lugar na competição tecnológica “929 Challenge”, em Macau, no início do mês de Novembro.
O sistema criado pela NS2 é composto por tiras de teste descartáveis e leitores portáteis e permite análises no terreno, digitalizando instantaneamente os resultados em dispositivos inteligentes ou sistemas de controlo já existentes.
“Estes nutrientes, em ambientes aquáticos, são tóxicos, por exemplo, para os peixes, e outra vida animal”, explica Gabriela Almeida.
“No ambiente, podem levar, por exemplo, à eutroficação das águas”.
A importância do sistema vai além da ecologia: tem aplicações cruciais na aquicultura, agricultura, indústria alimentar e até como biomarcador de doenças. A oportunidade de mercado surgiu de uma lacuna evidente: soluções que combinassem simplicidade, rapidez e rigor científico.
“Identificámos uma oportunidade enorme”, conta a fundadora da NS2.
“Oferecemos análises simples, respostas rápidas e digitalização de dados, sem comprometer a precisão.”
Conscientes da limitação do mercado português, as sócias Gabriela e Marise Almeida, que assume funções de directora de operações e financeira na empresa, apontaram estrategicamente para a Europa, com especial foco na Escandinávia.
Esta região destaca-se pela existência de sistemas de aquicultura em terra, com recirculação fechada de água.
O número
90%
“O nosso mercado é global. A aquicultura está espalhada por todos os continentes, com grande relevância na Ásia, e a monitorização ambiental também é uma questão global, mas por proximidade e aptidão para usar técnicas mais inovadoras, escolhemos o mercado da Europa”, conta Gabriela Almeida.
Os sistemas fechados em terra de produção de peixe, onde mais de 90% da água é recirculada, explicam, são dos mais sustentáveis na produção animal para alimentação. Mais do que a pecuária de bovinos, suínos e aves.
O maior mercado, porém, está na Ásia, onde está localizada 90% da aquicultura mundial e a China é o maior exportador e o segundo maior importador de peixe produzido desta forma.
A região representa um potencial de negócio imenso e o prémio em Macau veio precisamente acelerar essa ambição de expansão internacional na NS2.
“É um mercado enorme e está a lidar com imensos problemas da qualidade da água. Estão a querer modernizar-se e estão a querer de facto tornar-se mais sustentáveis. Se a NS2 conseguisse entrar no mercado chinês, não precisaria de mais mercado algum. Provavelmente, para ser um unicórnio tecnológico, teríamos de ir para Hong Kong”, brinca a CEO, que não esquece o elefante na sala: “falta-nos terminar produtos que estão em desenvolvimento e a capacidade de escalar, de ganhar tamanho, e claro, para isso, precisamos de financiamento”.
História de preserverança
A história da NS2 é também uma história de perseverança iniciada há 20 anos, com o doutoramento de Gabriela Almeida na Universidade Nova, onde ainda lecciona e tem o laboratório.
A investigação deixou gradualmente de ser académica e passou a solução empresarial. Após uma passagem pela região Oeste, as sócias acabariam por escolher a incubação, na sede do distrito.
“A escolha passou pela existência de iniciativas na área da aquicultura e do Instituto Politécnico de Leiria também é muito dinâmico. Escolhemos a Startup Leiria como nossa incubadora, porque havia necessidade de alavancar o investimento, de avançar com o trabalho e tínhamos de ir para outro patamar.”
Financiamentos públicos como o Programa Crescimento Azul, da EA Grants, bolsas para empreendedoras em deep tech permitiram à startup desenvolver-se.
Marise Almeida conta que este último apoio abriu o espaço da União Europeia e o acesso a programas de coaching e de mentoring.
A NS2 também recebeu apoio através da Call INNOV-ID da Portugal Ventures, à qual concorreu em parceria com a Startup Leiria, como ignition partner.
“Esse financiamento [de 100 mil euros] foi muito importante porque chegou no momento em que tínhamos os projectos a terminar”, recorda esta responsável.
A FAO alerta para a necessidade de aumentar a produção alimentar nas próximas décadas. Num mundo onde os recursos são cada vez mais escassos, soluções como as da NS2 não são só inovação. São futuro.