Os humoristas Fábio Porchat e Bruna Louise e os actores da peça de teatro Revolução na América do Sul dirigida por Wellington Fagner, presentes em Leiria e Ourém nas últimas semanas, são os exemplos mais recentes da programação com artistas brasileiros disponibilizada nas principais salas de espectáculos da região. Tanto Porchat (que também actuou em Caldas da Rainha, no CCC) como Bruna Louise esgotaram o Teatro José Lúcio da Silva, que, por exemplo, já em Julho tinha recebido o humor da Porta dos Fundos e, em Janeiro, a música do cantor e compositor Tim Bernardes.
“Há uma maior oferta de artistas brasileiros, sim, sem dúvida”, adianta o director do Teatro José Lúcio da Silva, sobre as propostas que lhe vão chegando ao email. “Mais do que o habitual”. Num município como Leiria, onde estão registados, com autorização de residência, dados de 2023, perto de 13 mil imigrantes, e os naturais do Brasil constituem a maior comunidade, contratar nomes que também têm origem no outro lado do Atlântico, mais do que uma estratégia, “pode ser entendido como um sinal de acolhimento”, considera José Pires. E, quando estão em causa figuras de primeiro plano, é sinónimo de dinheiro em caixa.
Segundo a AIMA – Agência para a Integração, Migrações e Asilo, o número de estrangeiros a residir no distrito de Leiria cresceu 42% num ano, de 30.713 em 2022 para 43.494 em 2023, de acordo com o relatório publicado há três semanas. E o Brasil é o país mais representado.
“Os territórios são cada vez mais multiculturais”, assinala o director do Teatro Municipal de Ourém, escolhido pela Mostra de Teatro Brasileiro do Teatrão – Todos São Palco para apresentar, na noite de 20 de Setembro, aquele que é considerado o texto mais importante do dramaturgo Augusto Boal, ele próprio visto como um dos contribuidores na criação de um teatro genuinamente brasileiro e latino americano. “Faz sentido percebermos que públicos é que fazem parte das comunidades”, comenta João Aidos. “Temos de acompanhar a agenda daquilo que é premente” e “a programação tem de estar atenta”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “Tem de haver essa preocupação e [capacidade para] perceber como é que podemos ajudar na integração”, conclui. “É importante conhecermos a cultura e aprendermos com eles”.
No Teatro Municipal de Ourém, o cinema tem sido um veículo privilegiado para espelhar o ponto de vista internacional, com filmes realizados por cineastas de vários países. “Comunicar para as pessoas que fazem parte do território é crucial, aproxima as pessoas e as pessoas têm de ser cada vez mais integradas, elas fazem parte, pagam impostos, têm filhos na escola”, sublinha João Aidos. “Obviamente, na área da stand-up comedy, há uma série de novos artistas, também brasileiros, no radar”.
Num concelho em que muitos emigraram, sobretudo para França, e que agora funciona como destino de diferentes nacionalidades, o tema “Nós, migrantes” marcou em 2023 a edição do Festival de Setembro, como mote, precisamente, para se “reflectir sobre esse papel, dos vários migrantes e dos vários fluxos”, de cá para lá e de lá para cá.
Ainda de acordo com a AIMA, cerca de 45% dos imigrantes em situação legal de residência no distrito de Leiria têm passaporte brasileiro. Depois do concelho de Leiria, os concelhos com maior número de estrangeiros são Caldas da Rainha e Alcobaça. Logo a seguir, aparece a Marinha Grande, aonde o Teatrão, de novo no contexto do ciclo Todos São Palco, vai levar outra peça com texto de Augusto Boal: Hamlet 16×8, já este mês, na noite de 20 de Outubro.
Se, anteriormente, os artistas mais mediáticos ocupavam a quase totalidade do espaço em Portugal para os espectáculos vindos do Brasil, actualmente “estão a aparecer outras coisas”, diz Carlos Veríssimo, director do Teatro Stephens, na Marinha Grande. As estratégias de descentralização, o estabelecimento de redes de programação e a requalificação de equipamentos culturais pelo país facilitam o que parece ser uma tendência, em especial, para os humoristas. “Só vinham fazer alguns sítios e neste momento fazem 15 teatros em Portugal”.
Nem só brasileiros compõem o público, “os portugueses consomem muita cultura brasileira”, mas Carlos Veríssimo sublinha que a comunidade brasileira em Portugal é “um público relevante”.
Entretanto, no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, há já duas datas anunciadas até ao final do ano com protagonistas brasileiros: o comediante Afonso Padilha apresenta o solo Ninguém Se Importa em Novembro e no mês seguinte a peça de teatro Fica Comigo Esta Noite conta no elenco com os actores Miguel Falabella e Marisa Orth, que os portugueses conhecem bem das telenovelas no pequeno ecrã.