A Vidas Sargento Bespoke Tailoring, inaugurada no final de Julho na rua Machado dos Santos, em Leiria, promete roupas à medida, mas também uma raridade numa profissão normalmente atribuída ao sexo masculino, o facto de ser liderada por uma mulher alfaiate.
À sua frente está Marta Vidas Sargento, uma artista plástica e designer que se apaixonou pela arte da alfaiataria e decidiu, nesse momento, “mudar a vida toda”.
Natural da Figueira da Foz, formou-se na Escola Superior de Alfaiataria em Madrid.
“Éramos apenas três mulheres no curso”, recorda, “e apenas eu acabei por seguir alfaiataria”. Diz que, por aquilo que sabe, em Portugal, não haverá outra mulher alfaiate.
Contrariando estereótipos, trabalha tanto em roupa masculina como feminina.
“Desenho, corto e faço fatos e tailleurs”, explica.
O termo “bespoke” é uma afirmação da filosofia dominante no atelier de Marta Sargento.
“O ‘bespoke’ é uma experiência. É muito mais do que fazer um fato, um colete ou calças, é a experiência em si”, elucida.
Cada peça que sai das suas mãos é tratada como uma obra de arte, com pelo menos 85% do trabalho feito à mão, com apenas uma pequena percentagem realizada com recurso a máquinas.
A dedicação e o perfeccionismo da alfaiate reflectem-se no tempo investido em cada peça.
Um casaco, por exemplo, pode levar entre 60 a 70 horas a ser concluído, enquanto um fato completo pode exigir de 80 a 120 horas de trabalho.
Já os preços dependem dos materiais empregados ou das peculiariedades solicitadas em cada conjunto ou peça.
“Só trabalho com lanifícios ingleses e italianos, 100% lã, cachemira ou vicunha”, conta.
O processo de criação na Vidas Sargento Bespoke Tailoring começa com uma reunião inicial, que pode durar até duas horas, onde os clientes escolhem tecidos e modelos num ambiente acolhedor.
“Há quem já venha com uma ideia daquilo que quer.”
A atenção aos detalhes é uma marca registada do trabalho de Marta. Observa atentamente cada cliente, notando peculiaridades na postura e no andar, que influenciarão o corte e o caimento das peças.
“Quando o cliente entra no atelier, quase por defeito ou feitio da profissão, começamos a identificar os trejeitos e isso depois tem de ser reflectido na roupa para o conjunto cair bem.”
A clientela é diversificada, indo desde noivos a executivos que procuram elegância no dia-a-dia.
Marta oferece um serviço que pode passar por um fato completo, um casaco à medida, umas calças ou uma camisa.
Quanto à decisão de estabelecer-se em Leiria, confidencia, não foi ao acaso.
“É uma cidade interessante, onde tenho amigos e ligação”, explica, justificando ainda com a proximidade à sua terra natal. A cidade ganhou um espaço onde a tradição se encontra com a modernidade, e onde cada peça conta uma história única.
Marta Vidas Sargento além de criar roupas, com o seu trabalho, está a preservar uma arte quase esquecida e a abrir caminho para mais mulheres num campo tradicionalmente masculino.