Cerca de 15 anos depois do projecto do ciclismo de pista ter início em Portugal, a modalidade subiu agora ao lugar mais alto do desporto mundial. Gabriel Mendes, seleccionador nacional de ciclismo de pista e natural da Marinha Grande, é um dos rostos da elevação deste desporto ao pódio dos Jogos Olímpicos, a primeira medalha portuguesa de ouro fora do atletismo.
Em Madison, a passagem na meta traduziu-se num misto de lágrimas, risos e orgulho, principalmente, pela conquista deste feito inédito para o ciclismo de pista, com um cunho marinhense.
Antes de partir para Paris, o seleccionador já apontava para o top 8 da classificação, um objectivo “adequado” à qualidade da equipa.
Mas Iuri Leitão quis surpreender com a prata no Omnium e, a seguir, na companhia de Rui Oliveira na Madison, trouxe o ouro.
“O primeiro [pódio] foi logo um impacto muito grande, o segundo foi a cereja no topo do bolo. Estávamos a viver algo que toda a gente sonha e tornar um sonho realidade é fenomenal”, descreveu ao JORNAL DE LEIRIA.
Este “orgulho muito grande” que o técnico da Marinha Grande sente é resultado de “muito trabalho, empenho e esforço”, com anos de dedicação para manter os resultados que permitem lugares de topo no ranking mundial.
Os ciclos olímpicos funcionam de quatro em quatro anos, mas Gabriel Mendes acredita que o primeiro passo para elevar o ciclismo de pista português ao Olímpo foi dado em 2013, quando Rui Oliveira venceu a primeira medalha, ainda na categoria júnior. “A partir daí, temos tido um processo de crescimento contínuo. Temos um total de 63 medalhas ganhas”, destaca o marinhense, que, até aos 23 anos, fez ciclismo de estrada.
Estas medalhas são, acredita, uma oportunidade para alavancar o ciclismo de pista no País. É em Anadia, mais propriamente em Sangalhos, que está estabelecido o Velómetro Nacional, equipamento essencial para o desenvolvimento dos atletas. Gabriel Mendes reconhece que, pela falta de infra- -estruturas no resto do País, os atletas que residem longe deste espaço partem em desvantagem. Por isso, defende a criação de pistas mais pequenas, que não têm “custos tão elevados”, que permitam aumentar o número de ciclistas. “Precisamos dessas instalações. Será muito bom para completar o que temos em Anadia.”
Para já, o marinhense está satisfeito com o destaque mediático que a modalidade está a ter em Portugal. Apesar da equipa portuguesa ser conhecida “em todo o mundo” pela qualidade já comprovada por diversas vezes – muito antes destes Jogos Olímpicos – é precisamente no seu ‘berço’ que tem passado despercebida – até agora. “As medalhas obtidas em Paris colocam o ciclismo de pista nos olhos de todos os portugueses”, assume, ao referir que a modalidade tem registado “um processo de crescimento contínuo” e consistente.
Na chegada a solo português, a recepção foi “apoteótica”. “Sabíamos que iam estar pessoas à espera, mas nunca imaginei que fosse daquela dimensão. O aeroporto estava repleto de pessoas, Um momento que jamais vamos esquecer”, conta.
Após toda a euforia, Gabriel Mendes já olha para o que aí vem. O próximo destino da selecção nacional é a China, que continua a seguir o calendário do ciclismo de pista a nível mundial.
Seguem-se os Campeonatos do Mundo de Pista, em Outubro, na Dinamarca. Mesmo “sem tempo para descansar”, o seleccionador da Marinha Grande reconhece que não é possível “aliviar” o trabalho. “Se não participarmos em provas internacionais que dão pontos para o ranking, podemos baixar e correr o risco de não ir ao campeonato do mundo”, sublinha.
Mas Gabriel Mendes sabe que tem “excelentes atletas que podem discutir com os seus pares a nível mundial”. As medalhas não ficam por aqui.