As análises que a associação ambientalista Oikos faz anualmente à bacia hidrográfica do Lis detectaram, este ano, valores elevados de contaminação pela bactéria e-coli (referente a bactérias intestinais) junto à ponte dos Caniços e ao Parque Verde de Leiria, dois pontos monitorizados pela primeira vez.
Mário Oliveira, presidente da Oikos, explica que a introdução destes novos pontos teve como objectivo “apertar a malhar” e procurar “pistas” que possam ajudar a compreender o “histórico” de contaminação junto à ponte do Arrabalde e nas imediações da ponte das Mestras, ou seja, no troço citadino do rio e na sua saída da zona urbana.
Depois de uma primeira recolha, feita a 15 de Maio, foi efectuada uma segunda, no dia 9 de Julho, desta vez, em parceria com a Unidade Local de Saúde (ULS) e contemplando três novos locais de monitorização: dois no rio Lis (parque radical, em São Romão, e na ponte dos Caniços) e um no Lena (parque verde). Para comparar ‘o antes e o depois’ desses pontos, as análises de Julho incluíram uma nova recolha na ribeira do Sirol (imediações da Polícia Judiciária), na Ponte do Arrabalde e junto à ponte das Mestras.
Nos dois pontos antes da ponte dos Caniços, os valores variam entre 1.098 e-coli por 100 mililitros (ml), detectados no parque radical, e 1.500/100 ml, na Ribeira do Sirol, ou seja, dentro do limite máximo definido para águas de rio (1800/100 ml). Já na ponte dos Caniços os valores disparam para 106.520/100 ml.
“Entre os dois pontos, temos a ETAR das Olhalvas. Não podemos fazer uma associação directa, mas, das duas uma: ou há edifícios a descarregar esgoto directamente no rio ou há entrada de coliformes fecais a partir da ETAR”, admite Mário Oliveira, frisando que a ETAR “não tem tratamento terciário”.
Melhorias na ETAR em estudo
Confrontada com os resultados, a Águas do Centro Litoral (AdCL) garante que ETAR das Olhalvas “cumpre todos os parâmetros que constam da licença de utilização de recursos hídricos” e que “não foi registada qualquer anomalia” aquando da recolha feita pela Oikos.
A empresa adianta ainda que, tendo em conta que a Câmara de Leiria “sinalizou que pretende que o rio Lis, a jusante da descarga da ETAR, venha a ter outros usos, incluiu a desinfecção do efluente no plano de investimentos a submeter a aprovação do concedente [Estado]”.
“Pode cumprir com os parâmetros definidos e com o que legalmente lhe é pedido, mas as entidades que fiscalizam, a empresa que gere a estrutura e até as autoridades de saúde devem ter em conta os registos”, contrapõe o presidente da Oikos, que lembra que o rio “é usado para fins lúdicos”.
Frisando que o rio “não está aconselhado para a prática desportiva”, Rui Passadouro, delegado de saúde-coordenador, entende que a qualidade da água “tem de ser vigiada de forma consistente”.
Neste momento, também os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Leiria estão a monitorizar a água do Lis. Há cerca de um mês, Álvaro Madureira, vereador da oposição, questionou o executivo sobre os resultados dessas análises. Em resposta, o vereador do Ambiente, Luís Lopes, alegou que é prematuro divulgar os dados, por “ainda não existir histórico”, mas reconheceu que, “em alguns pontos, são coincidentes com os da Oikos, nomeadamente, nos locais “mais críticos”, como a ponte das Mestras e a confluência do Lis e do Lena.
Os resultados das análises feitas este ano pela Oikos confirmam esses locais como dois dos pontos com níveis de contaminação mais elevados, a par da ponte do Arrabalde, que continua a ser, entre os 15 locais monitorizados desde 1990, aquele que apresenta o valor mais alto (34.659 e-coli/100 ml, detectado em Julho). Este indicador fica ligeiramente abaixo do que foi identificado no novo ponto de monitorização instalado no rio Lena, junto ao parque verde de Leiria (35.530/100 ml).