Bastou um ano de treinos para Guilherme Ferreira revelar-se um talento no futebol americano. Com 18 anos, já experimentou vários desportos ao longo da juventude, mas foi o futebol americano que mais cativou a sua atenção.
Natural da Batalha, a aptidão deste jovem para o futebol americano denuncia-se logo pela sua estatura física. Com 1,90 metros e cerca de 150 quilos, é tudo o que uma linha ofensiva precisa para dar a oportunidade ao quarterback de conseguir o tão desejado touchdown.
Há um ano, Guilherme Ferreira foi “descoberto” por um treinador americano, enquanto passeava com a família na Nazaré, que reparou na sua estatura física e convidou-o para experimentar um treino em Lisboa, nos até então Lisboa Lions, agora renomeados de Lisboa BullDogs.
Contactos trocados, o atleta não perdeu tempo e integrou logo a equipa lisboeta. No entanto, ainda tirava o curso de Técnico de Desporto, no Instituto Educativo do Juncal, pelo que, duas vezes por semana, era levado pelos pais até às instalações do clube.
Um esforço que valeu a pena, garante a mãe, já que Guilherme Ferreira prepara-se para fazer as malas e ir para os Estados Unidos da América (EUA), com uma bolsa de estudo, mais precisamente para o estado de Kansas, viver o futebol americano no seu estado mais puro.
Pedro Esteves, presidente da Federação Portuguesa de Futebol Americano, acredita mesmo que o Guilherme “tem capacidade” para singrar naquele país do outro lado do Atlântico, já que “sempre demonstrou um talento natural para a modalidade”.
O dirigente fez parte do processo de candidatura à bolsa de estudo e lembra que este é o terceiro atleta que leva para os EUA. “Não é muito comum”, admite, já que Portugal não tem condições que permitam aos atletas “prepararem-se para competir ao nível dos EUA”.
“Acho que temos muito talento em Portugal. Há que encontrar esse talento, saber trabalhá-lo e dar hipóteses a estes atletas”, sublinha.
E foi isso mesmo que aconteceu a Guilherme Ferreira. Entre as propostas recebidas de diversas universidades norte-americanas, escolheu o Tabor College para se estabelecer. Vai viver no campus, com aulas de manhã e treinos durante a tarde.
A bolsa de estudo cobre todas as necessidades básicas para o jovem viver e estudar: desde as refeições, a livros e computadores, passando pela lavandaria e saúde, Guilherme Ferreira terá todas as condições para dar início a esta nova fase. “Estou feliz, mas também ansioso. Ansioso porque, com 18 anos, vou deixar os meus pais, porque vou para o país do desporto, onde [o futebol americano] é mais levado a sério”, detalhou.
Linha ofensiva
Além do talento natural para a modalidade, Guilherme Ferreira também tem outra particularidade. Joga na linha ofensiva, uma posição onde é mais difícil encontrar atletas aptos. Isto porque obriga a barrar a passagem dos oponentes, corpo a corpo, possibilitando a passagem do seu quarterback, aliado a um rápido movimento de pés.
Todas as posições têm um papel na construção de cada jogada, o que, para Guilherme Ferreira, coloca este desporto num patamar “diferente”, onde se distingue o trabalho em equipa e a “inteligência” inerente a cada movimento.
A chegada a Kansas está prevista para 8 de Agosto e os testes físicos estão agendados para o dia seguinte. O jovem batalhense vai arrancar logo com os treinos, já que o primeiro jogo acontece a 31 de Agosto.
Para conseguir esta bolsa de estudo desportiva, não são só os resultados dentro de campo que importam. Guilherme Ferreira também tem de mostrar aproveitamento escolar, de forma a manter o apoio universitário.
No Tabor College, o atleta deverá enveredar por estudos relacionados com gestão ou investigação criminal, duas áreas que interessam a este jovem. Na chegada à escola, terá um tutor que o ajudará a escolher o plano de estudos.
Para chegar até aqui, a mãe, Cláudia Santos, lembra o esforço da família para manter o filho nos treinos em Lisboa, enquanto estudava no Juncal. “Ia todas as quartas e sextas-feiras para Lisboa com ele. Às 17:30 arrancava para Lisboa, chegava a casa eram duas da manhã. Fora os sábados e domingos de jogos. Foram uns bons quilómetros que fiz, mas percebi que ele gostava muito disto”, relatou.
O sacrifício da família vai continuar, mas com a certeza de que este é o futuro que Guilherme Ferreira pretende seguir. O objectivo é chegar à NFL, a principal liga profissional de futebol americano.