Naquele dia, apesar das “ameaças de bomba” na semana anterior, “a cidade engalanou-se para receber o novo bispo”, descreve Marco Daniel Duarte. A entrada de D. José Alves Correia da Silva na sé, a 5 de Agosto de 1920, simboliza a restauração (ocorrida em 1918) da diocese de Leiria, extinta durante quase 40 anos, em que o edifício baixou à categoria de igreja paroquial. O início da história, no entanto, é muito anterior, tem já 450 anos, que são assinalados no fim-de-semana.
A catedral de Leiria, salienta o director do Departamento do Património Cultural da Diocese de Leiria-Fátima, “é uma das mais claras imagens da reforma político-institucional que o rei D. João III estabelece para a reorganização territorial do Reino”. E, por outro lado, “a sua arquitectura mostra-se claramente coadunável com a reflexão da Igreja nessa época, isto é, no contexto do Concílio de Trento”.
No próximo sábado, 13 de Julho, comemora-se o 450.º aniversário da dedicação da catedral de Leiria. O programa inclui (às 18:15 horas) um concerto de órgão por Rute Martins e, pelas 19 horas, é celebrada a eucaristia.
A construção do edifício arrancou em 1559 e segundo Marco Daniel Duarte inscreve-se no denominado “estilo-chão”, que corresponde a projectos “que se descolam da proporção típica do renascimento e que, com os conceitos da arquitectura militar, oferecem espaços plenos de luminosidade”. É neste ambiente severo, austero e sóbrio, mas erudito, que surge “o retábulo-mor, de talha dourada, claramente maneirista e visivelmente enquadrável nos programas de evangelização tridentinos”, acrescenta o historiador e investigador. “Juntam-se assim, em Leiria, os melhores artistas daquela época, desde Afonso e Baltazar Álvares a Miguel de Arruda, de João Torriano a Bernardo Coelho a Gonçalo Rodrigues e a Simão Rodrigues”.
Monumento nacional desde 2004, a sé de Leiria distingue-se, claro, pela localização da torre sineira, erguida já no século XVIII, na encosta do castelo.
De acordo com o director do Departamento do Património Cultural da Diocese de Leiria-Fátima “a explicação mais provável é a de que a sineta que se encontrava junto ao corpo da catedral não fosse eficaz e a sua função de chamar os fiéis para os ofícios religiosos se visse truncada porquanto o som não chegaria ao outro lado da “acrópole”, ao Arrabalde da Ponte”.