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Home Abertura

“Houve alturas em que a aldeia tinha os homens quase todos presos”

Maria Anabela Silva por Maria Anabela Silva
Abril 25, 2024
em Abertura
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“Houve alturas em que a aldeia tinha os homens quase todos presos”
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Já passaram mais de 50 anos, mas Leonor Baridó recorda com precisão o que se passou na tarde de 28 de Outubro de 1973, dia de eleições legislativas – “ou uma espécie de eleições” -, quando, com 19 anos, foi presa pela PIDE em frente à Câmara da Marinha Grande.

A residir em Leiria, tinha ido à sua terra natal almoçar com o casal que a criou. Seguia num Fiat 126, sentada ao lado do condutor, quando, numa rua paralela à câmara – “chamávamos-lhe a ‘rua das retretes’” -, apareceu um conhecido, “o Fernandes do MDP/CDE”, a gritar: ‘Isto deu merda. O Quim Carreira [militante do PCP] foi preso”. Uns metros mais à frente, a viatura foi cercada por “três ou quatro polícias”, que a obrigaram a sair.

“Foi a coisa mais estúpida e anormal. Disseram-me que tinha de ir à esquadra explicar por que me estava a rir”, recorda Leonor Baridó, filha de António Sousa Baridó e sobrinha de Manuel Baridó, os dois presos na sequência da revolta do 18 de Janeiro de 1934. Mais tarde, em 1961, também o primo Fernando, filho do tio Manuel, esteve preso.

“Somos uma família de presos políticos”, constata, referindo que, no seu caso, “além do nome”, estava referenciada pela PIDE por participar na campanha eleitoral da oposição, tendo sido, várias vezes, identificada à saída de reuniões clandestinas realizadas no escritório de José Henriques Vareda, uma das grandes figuras da luta anti-fascista na região. “Passaram-me uma série de multas por participar nesses encontros”, recorda, fazendo regressar a fita do tempo, de novo, a 28 de Outubro de 1973.

Escoltada pela polícia, foi encaminhada aos calabouços da esquadra da Marinha Grande, onde hoje está a casa mortuária. Aí, chegou também Joaquim (Quim) Carreira e um bombeiro, que “nada tinha a ver com a oposição ao regime”, mas que acabou apanhado pela PIDE no “grande burburinho” que se gerou na zona da câmara.

No mesmo dia, os três seriam transferidos para a esquadra de Leiria, onde passaram a noite. “Lembro-me que nos deram grão com bacalhau ao jantar. Durante anos, não consegui voltar a comer isso.” No dia seguinte, registou-se um “levantamento da população, que se envolveu com a polícia de choque e assaltou o tribunal da Marinha Grande”, pelo que, não foram presentes a juiz, tendo sido conduzidos para a prisão de Caxias, onde Leonor Baridó ficou dois meses.

Diz “nunca ter levado tareia”, mas confessa que o cárcere foi “duro, muito duro”, sobretudo, pelo isolamento a que esteve sujeita. “Ao fim de um mês fechada na cela, tive direito a recreio. Pensei que ia para o exterior estar com outras presas. Afinal, era apenas uma cela sem tecto, que deixava ver o céu”, relata, recordando o “pesadelo” do interrogatório.

“Na sala ao lado, ouvia-se alguém a ser espancado. Ainda hoje, não sei se era real ou gravação, para me intimidar e me forçar a falar”, recorda Leonor Baridó, de 71 anos, natural de Casal Galego, povoação da Marinha Grande que teve muitos dos seus moradores envolvidos na luta anti-fascista. “Houve alturas em que a aldeia tinha os homens quase todos presos.”

Presa com o filho de 15 meses

Também da Marinha Grande, Maria Hermínia Santos, que caminha para os 91 anos, foi presa a 13 de Abril de 1963. Era manhã cedo. Preparava-se para sair para a fábrica, onde trabalhava como empalhadora desde os 10 anos.

“Estava a acabar de arranjar o meu filho, quando a polícia entrou em casa a dizer que tinha de ir responder a umas perguntas e que não era preciso levar o menino. Não tinha com quem o deixar. Foi comigo. Tinha 15 meses”, recorda.

Da esquadra da Marinha Grande, mãe e filho, seguiram, primeiro para Leiria, e depois para a prisão de Caxias. Seria nesta cadeia que os dois ficaram cinco meses. Ao contrário de outras companheiras de cela, que saiam dos interrogatórios com os corpos negros de “tanta tareia”, Hermínia Santos nunca foi maltratada fisicamente, mas não esquece a violência psicológica e as ameaças a que era sujeita. “Havia uma PIDE que era do piorio.”

Conta que durante esses meses, tanto ela como o filho não viram o sol, e que a presença da criança se revelou a “maior alegria” dela e das mulheres com quem partilhava a cela. Ainda hoje, passados tantos anos, desconhece a razão pela qual foi presa. “Diziam que eu era comunista. E isso bastou para me prenderem”, refere Hermínia Santos, que viveu o 25 de Abril com “uma alegria enorme”.

“Quando a notícia se soube, já não trabalhámos mais nesse dia. Fomos para a rua. O 1 de Maio foi muito bonito, com a praça cheia de gente.” No pós-25 de Abril, continuou ligada ao PCP e foi também muito activa no Movimento Democrático das Mulheres. Ao olhar para o percurso que o País fez ao longo dos últimos 50 anos reconhece que há ainda dificuldades a vencer, mas não tem dúvida de que a luta pela liberdade e a democracia “valeu a pena”.

Sujeito à tortura do sono

Foi na cidade de Leiria, onde nasceu, que Joaquim Vieira começou a ter consciência da situação opressiva que se vivia no País, em parte, por influência do pai, fundador da Galeria Capitel de quem herdou o nome, que “sempre foi da oposição, embora de uma oposição moderada e não muito activa”.

“Recordo-me de ele me levar aos jantares do 5 de Outubro em Leiria, no Hotel Central, com discursos marcantes de homens como Vasco da Gama Fernandes ou de José Vareda”, conta. Seria, no entanto, já como estudante universitário que intensificou a sua actividade oposicionista, como dirigente associativo no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, onde cursou Engenharia de Minas.

Participou também em manifestações contra o regime. Apesar dessas movimentações, a prisão, que aconteceu no Verão de 1972, apanhou-o de surpresa. “Pensava sempre que me conseguia safar. Houve uma certa inconsciência e imprudência”, assume hoje, aos 73 anos.

A detenção aconteceu de manhã. Ao sair de casa  para ir para aulas, tinha a PIDE à espera.  Levaram-no para Caxias, onde esteve 45 dias em isolamento. O mais difícil de suportar, confessa, foi a tortura do sono. “O máximo que estive sem dormir foram cinco dias”, conta Joaquim Vieira, que foi condenado a 18 meses com a acusação de estar ligado a grupos clandestinos marxistas-leninistas. “Não pertencia, mas a PIDE elaborou uma acusação em como eu era membro de um desses movimentos”.

Depois dos meses iniciais em Caxias, com direito a meia hora de visita da família por semana, foi transferido para o Forte de Peniche onde cumpriu a restante pena. Havia, no entanto, um segundo processo que pendia sobre si. Perante a ameaça de um novo julgamento e possível condenação, decidiu abandonar o País, partindo para o exílio, em Paris.

“Tinha um primo na tropa que me disse que eu ia ficar fora pouco tempo, deixando entender que algo iria acontecer. Achei que era mais um lírico. Acreditava que o regime estava de pedra e cal.”

Ao chegar a França, e por conselho de João Soares que conheceu quando saiu da prisão – “penso que no escritório de Salgado Zenha” -, bateu à porta de Mário Soares, que o ajudou a obter autorização para residir em Paris. Era, aliás, em casa do histórico socialista que estava a 16 de Março de 1974 quando se deu o golpe das Caldas. “Ficámos todos em polvorosa.” Nesse dia, a festa durou pouco, já que a revolta seria dominada pelas forças do regime. Mas a euforia voltaria a 25 de Abril, com notícia de que, desta vez, o golpe triunfou.

O regresso de Joaquim Vieira a Portugal aconteceu a 10 de Maio.  Não retomou os estudos de engenharia, por entender que “já estava há muito a viver na dependência dos pais”. Enquanto procurava trabalho, respondeu a um concurso aberto pelo primeiro governo provisório que pretendia seleccionar jovens para irem estudar jornalismo em França, no Centre de Formation et Perfectionnement des Journalistes, ligado ao Le Monde. Acabou por ser um dos 30 seleccionados entre cerca de 600 candidatos.  

No ano seguinte, foi admitido como repórter na RTP, iniciando uma carreira que o levou também ao Expresso, de que seria director-adjunto, e a director da Grande Reportagem. Têm-se destacado também como documentarista e escritor, sendo autor das biografias Mário Soares – Uma Vida, Álvaro Cunhal – O Homem e o Mito ou Francisco Pinto Balsemão – O Patrão dos Media que Foi Primeiro-Ministro.

Bombarral e Leiria
Memoriais recordam presos políticos
 
No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, os Municípios do Bombarral e de Leiria criaram memoriais de homenagem aos presos políticos dos seus concelhos. No caso de Leiria, o monumento foi inaugurado, esta quarta-feira, dia 24, na rua Vasco da Gama. O objectivo é preservar a memória dos 246 homens e mulheres que, entre 1926 e 1974, foram presos pelas polícias políticas devido à participação em acções de luta pela liberdade. O memorial evoca também os 13 deputados que, entre 1975 e 1976, desempenharam funções eleitos pelo distrito e que “confirmaram a liberdade”. No Bombarral, a inauguração do monumento acontece na manhã desta quinta-feira, dia 25, no Largo 25 de Abril. Com este memorial, o município presta homenagem aos 28 presos políticos do concelho, “mantendo  viva a memória dos bombarralenses que, por se oporem ao Estado Novo, foram privados da liberdade”.
Etiquetas: 25 de abrilcinquentenárioHermínia SantosJoaquim VieiraLeiriaLeonor BaridóMarinha Grandepresos políticostestemunhos
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