Quis ser futebolista, estudou Arqueologia e Direito, mas a paixão pelo jornalismo levou a melhor. Natural da Marinha Grande, Joaquim José Reis, de 43 anos, é, desde 2016, chefe de redacção do semanário Expansão, um dos principais jornais de economia publicados em Angola. Pelo meio, foi jornalista na agência Lusa e teve uma breve experiência como assessor na Câmara de Sintra.
O percurso de Joaquim Reis é, nas palavras do próprio, “diferente do habitual”, já que antes de ingressar em jornalismo, cursou Arqueologia e Direito, licenciaturas que abandonou por perceber que não era o que queria fazer.
“Há um problema no sistema de ensino em Portugal. Se não percebermos desde muito cedo a nossa vocação, ficamos perdidos. Foi o que me aconteceu quando terminei o 12.º ano”, conta.
Como “era bom em História”, inscreveu-se em Arqueologia na Universidade de Coimbra, mas acabou por mudar para Direito, em Lisboa, área que também não o seduziu. Agarrou-se, depois, à ideia de “querer mudar vidas” e o jornalismo pareceu-lhe um bom caminho para atingir esse fim.
“Pode ser uma ideia muito romântica de olhar para a profissão, mas ainda hoje acredito que é possível cumprir esse objectivo”, diz o jornalista, que se formou na área da comunicação na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria.
Experiência como assessor
Findo o curso, seguiu-se o estágio na agência Lusa, onde começou na área da política, transitando depois para a secção País. “Acabei por ficar como correspondente [da Lusa] em Sintra. Fui-me enraizando na sociedade local e fui director do jornal Correio de Sintra”, conta Joaquim Reis, que fez depois uma interrupção no jornalismo para abraçar o desafio de ser assessor de Basílio Horta, presidente da Câmara de Sintra. A experiência durou apenas um ano. “Não tenho espírito de assessor.”
Com a carreira em suspenso – tinha perdido o vínculo à Lusa e deixado o município -, recebeu um convite de Carlos Rosado Carvalho, então director do Expansão, para chefiar a redação do semanário. “É um jornal privado, que não está alinhado com nada. O facto de ser económico, permite-lhe fugir da política e fazer jornalismo sem pressões. Funcionamos como um barómetro da economia para empresas, banqueiros e embaixadores, por exemplo”, especifica.
A mudança para Luanda aconteceu em 2016 e a experiência tem sido “incrível”, a começar pelo processo de aprendizagem que teve de fazer, com Carlos Rosado Carvalho a revelar-se “um mestre”. “O máximo que tinha trabalhado na área de economia era a análise dos orçamentos e contas das autarquias. Mas, estudando, tudo se aprende.”
Murros no estômago
O contacto com a sociedade angolana, “uma realidade completamente diferente” de Portugal, também tem sido marcante. “Angola é um país maravilhoso, sobretudo pelas pessoas. Depois, há pobreza, que nos dá constantes murros no estômago. Crianças a pedirem-nos comida ou a comer dos caixotes do lixo. A lição que já aprendi é que, não podendo ajudar todos, devemos ajudar quem está perto de nós”, refere Joaquim Reis, que trabalha e vive no mesmo prédio, a cerca de 100 metros da creche da filha, o que lhe permite acompanhar o crescimento da menina, de 20 meses.
A realidade económica de Angola é também impactante, assume o jornalista. “Um investimento de um milhão de dólares, que é notícia em Portugal, aqui nem dá uma breve [pequena notícia]. É uma questão de escala”, exemplifica Joaquim Reis, que refere ainda a elevada prevalência do emprego “informal”, que representa perto de 80% do emprego em Angola, bem como a dependência do petróleo, de onde provêm “um terço” das receitas do Estado angolano.
“É o petróleo que comanda a economia.” Feliz em Luanda, Joaquim Reis não esconde, no entanto, as saudades dos amigos e de Portugal, constatando que, à medida que os anos passam, se sente “mais estrangeiro” a cada regresso a casa. Para já, voltar em definitivo não está nos planos.