O maestro António Vassalo Lourenço sublinha a “criatividade rítmica” do bailado estreado há quase 114 anos, em Paris. O Pássaro de Fogo elevou Igor Stravinsky ao reconhecimento internacional e lançou-o como um dos músicos mais originais da sua geração.
É uma “obra emblemática”, que “traz uma linguagem diferente”, realça o director artístico do 42.º Festival Música em Leiria, que começa já este domingo, 17 de Março. E a ponte entre o romantismo e o modernismo que o compositor russo construiu logo em início de carreira (tinha apenas 27 anos) justifica a inclusão no programa “História e Revolução” que a Banda Sinfónica Portuguesa (pela primeira vez a actuar em Leiria) apresenta no Teatro José Lúcio da Silva, pelas 17 horas.
No concerto de abertura do Festival organizado pelo Orfeão de Leiria vão escutar-se, segundo António Vassalo Lourenço, criações “consideradas revolucionárias” na história da música.
Além da Banda Sinfónica Portuguesa, sob a direcção de Fernando Marinho, está anunciada a participação do saxofonista Daniel Lourenço, Prémio Maestro Silva Pereira em 2022 no âmbito do Prémio Jovens Músicos da RTP / Antena 2.
Em 2024, ano em que se comemora meio século do 25 de Abril, o conceito de revolução, sob diferentes perspectivas, tanto políticas e sociais como estéticas, serve de tema ao Festival Música em Leiria.
António Vassalo Lourenço destaca a presença do Ludovice Ensemble na Igreja de São Francisco (a 20 de Abril, com direcção de Miguel Jalôto e a soprano Eduarda Melo) que ambiciona levar o público “para a música que se fazia no salão de Maria Antonieta antes da Revolução Francesa”.
Já o fim de tarde a cargo do João Roiz Ensemble, também destacado por António Vassalo Lourenço, “vai pôr em confronto” obras de Beethoven, Lopes-Graça, Puccini, Eurico Carrapatoso e Schostakovich para reflectir sobre revoluções e evoluções (10 de Abril, Centro de Diálogo Intercultural de Leiria – Igreja da Misericórdia).
Na noite de 24 de Abril, ao ar livre, é a Revolução de 1974 que é celebrada, com a Orquestra Filarmonia das Beiras e os convidados Vitorino e Janita Salomé (no Largo do Papa, em Leiria).
Espectáculos até Julho
Este ano, o Festival Música em Leiria desenvolve-se em três períodos. O primeiro, que constitui o prato forte da 42ª edição, com 15 momentos, muitos deles gratuitos, acontece entre 17 de Março e 24 de Abril, nos concelhos de Leiria, Pombal, Batalha e Porto de Mós. O segundo realiza-se em Junho nos municípios do norte do distrito e é um ciclo de concertos didácticos baseados no texto O Tesouro de Manuel António Pina. Finalmente, em Julho, numa parceria com o Festival de Jazz da Marinha Grande, o Teatro Stephens acolhe o vibrafonista Eduardo Cardinho. Antes, o jazz surge com a Big Band do Orfeão de Leiria no Teatro Miguel Franco (21 de Abril).
Juntamente com música erudita clássica e contemporânea, o Música em Leiria continua a oferecer espectáculos de dança: Requiem – A única censura que deveria existir é censurar a censura, pela Dança em Diálogos (13 de Abril, Teatro José Lúcio da Silva) e Pedra Doce – Poética de Cora Coralina, pela Companhia de Dança de Niteroi, do Brasil (23 de Março, também no Teatro José Lúcio da Silva).
Outra participação internacional traz de Espanha Abraham Cupeiro e o quinteto Vent a Cinc para uma prestação em que o músico natural da Galiza coloca em palco mais de 20 instrumentos não convencionais, incluindo o carnyx, uma trombeta celta de três metros de comprimento inventada há 2 mil anos.
Mas há mais: a combinação de música e teatro em “Desconcerto” pelo grupo Ad Libitum, a folk da Kumpanhia Algazarra a festejar 20 anos de actividade e a poesia de grande autores em “A Saudade na Música Portuguesa” com a soprano Vera Silva, a pianista Patrícia Sousa e a actriz Sara Maia.
Como já é tradição, “profissionais de maior relevo” dividem o cartaz com “músicos ainda em formação” e “projectos do próprio Orfeão”, salienta António Vassalo Lourenço. É o caso da Orquestra de Sopros, da Camerata com o coro Ninfas do Lis e da Classe de Canto no recital que assinala o Dia Mundial da Voz, além do Coro DECA e do Ensemble de Sopros da Universidade de Aveiro que vão protagonizar um concerto de Páscoa (dirigidos por Vasco Negreiros) na Igreja do Mosteiro da Batalha e interpretar a Missa em Mi Menor de Anton Bruckner (compositor nascido há 200 anos).
“Um festival eclético”, para “vários públicos”, com “várias linguagens” e “estéticas artísticas”, resume Vítor Lourenço. “Muito recheado, muito variado”, concebido “para um território alargado”, os 10 concelhos da Região de Leiria, com “orçamento idêntico” ao ano anterior, diz o presidente do Orfeão de Leiria, para quem “é fundamental” o apoio dos municípios da comunidade intermunicipal.
“Já estamos a preparar a programação para o próximo ano”, antecipa. E a “candidatura à DGArtes”, financiamento interrompido, inesperadamente, em 2023.