“Com este título nós quisemos que fosse feita uma reflexão acerca dos sentimentos que sentimos durante a noite e durante o dia”, explica a aluna da Escola José Saraiva no instante de abertura da exposição Quando as Luzes se Apagam, agora patente no átrio do Teatro José Lúcio da Silva, que reúne 11 obras da colecção Norlinda e José Lima, de artistas como Jorge Molder, Graça Sarsfield, Ana Jotta, Gerardo Burmester ou Manuel Botelho.
A concepção e realização, “de raiz”, realça a mediadora cultural Rita Luiz, directora criativa na Apigmenta, é totalmente da responsabilidade de estudantes do ensino articulado que frequentam o nono ano na turma G e que ali assumem o papel de “curadores”, mas também de “produtores e comunicadores”.
Com orçamento acima de 8 mil euros, que contempla desde transportes a seguros, entre outras despesas, a iniciativa insere-se no projecto Arte Contemporânea Trocada por Miúdos, do Plano Nacional das Artes, actualmente na segunda edição em Leiria.
Durante a visita guiada, são os mais jovens que lideram o diálogo, com informações pertinentes e perguntas que procuram estimular e desafiar o público, em que além dos representantes de entidades oficiais se misturam alguns encarregados de educação. “Traz-vos alguma memória, este quadro?” “Que título dariam?” “O que é que acham que ele está a pensar, o homem?”
Quando as Luzes se Apagam, pode ler-se no texto de sala, ambiciona colocar em evidência que “o dia transmite uma sensação de esperança e alegria, enquanto, na noite, as ideias estão soltas e os lados mais obscuros da sociedade revelam- se”. São apresentadas diferentes técnicas, incluindo fotografia e pintura. É o resultado de um trabalho desenvolvido ao longo de meses que começou com uma viagem ao Centro de Arte Oliva em São João da Madeira. De um grupo de 30 a 40 obras, os estudantes da José Saraiva escolheram 11, uma delas por lembrar o incêndio de 2017 na Mata Nacional de Leiria.
“Foram discutindo para chegar a uma temática, uma ideia”, dentro daquilo “que cada um é individualmente”, com o propósito de “montar um pensamento”, comenta Rita Luiz. Além de “mostrar o que os jovens têm para dizer”, a acção funciona como veículo para dar a usufruir a Colecção Norlinda e José Lima, que é considerada uma das maiores colecções privadas do País e compreende aproximadamente 1.200 obras em que estão representados cerca de 250 artistas portugueses e 230 artistas internacionais. Iniciada pelos coleccionadores em 1980, está em depósito de longo prazo na Câmara Municipal de São João da Madeira desde 2009 e está na base da criação do Centro de Arte Oliva.
O projecto Arte Contemporânea Trocada por Miúdos, segundo o director do Teatro José Lúcio da Silva, José Pires, envolve uma parceria com a Apigmenta e chega a Leiria “através da candidatura Recentrar” aprovada pela Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses, que “tem abertura” para “outros gerirem parte” da programação da sala de espectáculos.
“Um exemplo de como a escola se abre ao mundo e às artes”, considera a vereadora com o pelouro da Cultura na Câmara Municipal de Leiria, Anabela Graça.
Para a Coordenadora Intermunicipal no Plano Nacional das Artes, Dina Soares, “50 anos após o 25 de Abril”, este é um caso de “verdadeira democracia”.
“Eles não vieram usufruir da cultura que alguém lhes impôs, não, eles foram os construtores deste momento e trouxeram a própria cultura deles para aqui, escolheram aquilo que queriam apresentar”, aponta.
A exposição Quando as Luzes se Apagam, inaugurada a 8 de Fevereiro, pode ser visitada até 21 de Março.