Texto originalmente publicado na edição em papel de 25 de Janeiro de 2024 do JORNAL DE LEIRIA
Pode a música expressar o futuro e o passado em simultâneo? Como uma cena de Blade Runner num tempo que só existe na sala de cinema? Rodrigo Cavalheiro prepara o lançamento do álbum de estreia, previsto para o início de Fevereiro nas plataformas digitais, do projecto Bluesnoise Soundmachine, em que é o homem de todos os instrumentos. “Bastante diferente daquilo tudo que já fiz na vida”, antecipa. E “muito fantasmagórico”.
A partir do estúdio que mantém na Marinha Grande, o músico regressa com oito temas em que a voz se cala. “Não é preciso, o instrumento está a dizer”, comenta com o JORNAL DE LEIRIA. Um exercício de construção de “paisagens sonoras” em que cada faixa funciona “como uma peça”, sem amarras. “Esqueci o formato canção, não existe aqui”. O resultado é “mais experimental”, com influências tão diversas como Mogway, Ry Cooder ou John Coltrane, mas “o blues está lá”, a provar que é mesmo, no comando, o trovão do ritmo e domador de palavras conhecido de Born a Lion, Country Playground, Folhas Secas e do longa duração Passarela de Relâmpagos.
Também novidade, em Fantasma Rodrigo Cavalheiro passa do colectivo ao individual. “É a primeira vez que experimento trabalhar sozinho, ou seja, produzir, gravar, tocar, tudo”. A relação com o ofício “mudou completamente”, admite. “Apesar de não ter peso de responsabilidade quase nenhum, sinto uma responsabilidade enorme”. Antes “mais dormente”, agora “mais atento” e “dedicado”.
Com mistura e masterização da responsabilidade de Nuno Rancho, o esforço que inaugura Bluesnoise Soundmachine, todo instrumental, é um objecto “lo fi” e “bastante retro”, captado através de um “processo mais arcaico”, com alfaias dos anos 70 ou mesmo anteriores (bateria, guitarra, baixo, teclados, caixa de ritmos).
“Sem computador, apenas com uma mesa de oito canais” e “dois microfones”, assinala o compositor nascido no Brasil.
O álbum desenvolve- se por camadas, entre o rock e a sonoridade que puxa para a pista de dança. Com a edição, há um capítulo que se fecha. “Vou-me libertar desse disco, para poder fazer outro”.