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Home Entrevista

Jorge Dias: “A escola está desenquadrada daquilo que a sociedade lhe exigiria”

Elisabete Cruz por Elisabete Cruz
Janeiro 1, 2024
em Entrevista
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Jorge Dias: “A escola está  desenquadrada  daquilo que a  sociedade  lhe exigiria”
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A que se devem os piores resultados a matemática e a leitura no PISA?
Não me surpreende que os resultados tenham descido. A pandemia tem sido uma boa muleta para acompanhar essas descidas, mas há outros factores, nomeadamente para Portugal, que tornam essa descida mais ou menos previsível.

Que factores são esses?
A pandemia modificou bastante o contexto social. Muitos jovens deixaram de ter expectativas futuras. Quando falamos com a psicóloga que faz a orientação vocacional, notamos que eles não querem pensar nisso. Olham muito ao presente e o futuro não os preocupa. Nota-se a falta de empenho em conseguir resultados que os levem a ter uma vida melhor, um futuro mais risonho. Claro que não são todos. Em termos daquilo que é a escola realmente, a pandemia prejudicou seriamente as aprendizagens dos alunos. Tirou-lhes alguns hábitos. Houve anos de escolaridade que foram particularmente prejudicados. Nos meninos do 1.º ano, que não tiveram pré-escolar, ainda hoje se nota a dificuldade que têm em ler, em cumprir regras e na relação com os colegas. Os que estavam na passagem de ciclo não consolidaram algumas aprendizagens e são os que estão com maiores dificuldades.

As greves também tiveram influência na aprendizagem?
Sem dúvida. É outra questão que não podemos ignorar. Os professores faltaram muito – não é censurar – o que criou descontinuidade nas aprendizagens. Não consigo contabilizar quanto é que contou negativamente, mas que teve influência, garantidamente teve.

O plano de recuperação das aprendizagens prejudicadas durante a pandemia tem funcionado?
Teve algum impacto, porque se conseguiu recuperar uma boa parte. Mas há muitas aprendizagens básicas que continuam por recuperar. Por exemplo, há carências básicas a matemática, que os próprios alunos já não querem abordar. Este choque dificulta as aprendizagens futuras. Por outro lado, a recuperação das aprendizagens implicava mais sala de aula e tudo o que é ultrapassar o horário escolar definido não lhes cria motivação. Se damos um apoio à hora de almoço é um castigo. E se quem está numa sala de aula achar que está a ser castigado, não vai aprender nada. Isto também motiva esta baixa de resultados. Este ano temos apoios “obrigatórios” a matemática e a português e temos uma grande resistência até dos encarregados de educação.

Temos alunos da mesma turma que praticamente não se conhecem, porque passam o tempo livre na escola no telemóvel

Os resultados são também influenciados pelos alunos imigrantes?
A quantidade de alunos estrangeiros contribuem em parte para a dificuldade que temos em manter todos os alunos com sucesso. Temos uma grande incidência de alunos, por exemplo, de origem brasileira, onde se verifica uma grande distância entre as aprendizagens no ensino público brasileiro e o ensino público português. Quem vem do ensino privado acompanha bem. Os alunos que vêm do ensino público e que vieram no pós-pandemia, em que praticamente não tiveram aulas, obrigaram-nos a mobilizar muitos recursos extra para os ajudar a recuperar e não conseguimos a 100%.

As famílias imigrantes aceitam a falta de preparação dos seus educandos?
Temos famílias de origem brasileira – porque são a maioria – muito preocupadas com a escola, que reconhecem o seu valor e a importância do empenho dos seus jovens para terem sucesso. Por outro lado, temos famílias que, associadas a dificuldades profissionais e laborais da estabilidade do emprego, não conseguem acompanhar os filhos tão bem. Algumas destas famílias hoje estão nesta escola e daqui a um mês estão a pedir transferência para outra, o que causa uma enorme instabilidade nas crianças e nas próprias turmas. Esta instabilidade não cria condições para bons resultados e desgasta-nos muito.

A vaga de imigração também lotou a escola?
Esta escola está projectada para 24 turmas do 5.º ao 9.º ano. Este ano temos 30. O limite aceitável eram as 26 turmas. Temos seis turmas de cada ano de escolaridade, muitas com alunos acima daquilo que deviam ter. Os alunos com condições especiais de frequência têm direito a uma turma com 20 alunos, e algumas têm 22, 23, e chegámos a ter 25. E não é só ter turmas com mais alunos, mas é ter cerca de 700 alunos na escola. A convivência escolar torna-se diferente. Também causa dificuldade na vigilância dos recreios e na orientação dos meninos, porque são muito jovens e com problemas sociais. Uma escola sobrelotada em termos de densidade de alunos tem filas de almoço enormes. Tínhamos cerca de 300 almoços e agora estamos sempre acima dos 400, o que provoca tempos de espera, confusão e deixa-nos um bocadinho angustiados. Não é que a escola tenha um ambiente degradado, mas gostamos que os miúdos se sintam bem e confortáveis.

O aumento dos almoços é também reflexo das dificuldades financeiras das famílias?
Nitidamente também. Temos mais de uma centena de casos que não têm a situação devidamente regularizada na Segurança Social para usufruírem de almoço gratuito. Quando verificamos que é uma situação evidente de carência permitimos o almoço gratuito até regularização da situação social.

E há crianças que chegam com fome e sem pequeno-almoço?
Mas por duas razões: uns por evidente dificuldade financeira, outros por desorganização familiar. Há encarregados de educação que saem de casa às 7 da manhã e os filhos ainda ficam na cama e depois não tomam o pequeno-almoço. Mesmo os que vêm com os pais, muitos não têm o hábito de comer em casa. Também não tiveram a preocupação de marcar almoço no refeitório e não trazem lanche. No ano passado, num levantamento informal, identificámos dezenas de miúdos que passavam o dia na escola sem comer. Os que têm dinheiro vão comer qualquer coisa ao bar, os que têm dificuldades financeiras não vão ao bar, mas também recusam-se a comer no refeitório, porque a ‘comida não presta’. Temos chamado a atenção dos pais, porque para muitos é o sítio onde podem comer uma refeição completa e equilibrada.

O Agrupamento Correia Mateus está habituado a uma diversidade cultural. Esta vaga de imigração foi na mesma um desafio?
Foi um enorme desafio. São situações distintas. Estes alunos que vêm de outros países causam-nos questões mais abrangentes, até pela quantidade. Ter uma turma com 26 ou 27 alunos, com três ou quatro situações sociais é diferente de ter nove, dez ou 11 casos na mesma turma. O papel da escola na sociedade está a ser pressionado para mudar muito rapidamente. E o papel da escola não é de maneira nenhuma ensinar a escrever, a ler e a contar. Temos de nos preocupar com essas questões todas, o que nos desvia um bocadinho da função, que era de grande importância, de instruir os jovens. Neste momento, a escola é muito mais do que ensinar.

O convívio entre os alunos de diferentes culturas tem sido fácil?
Não, porque é agravado pelos telemóveis e por comunicarem em tempo real com toda a gente. No ano lectivo passado foi muito difícil o bullying, a discriminação e a ofensa através dos telemóveis. Muitas escolas já proibiram a utilização de telemóveis. Essa não é a minha forma de estar, porque entendo que a nossa função é ensiná- los a utilizar estes recursos de forma equilibrada e racional, mas percebo as escolas que decidiram pela proibição e que têm uma avaliação muito positiva, o que nos leva a pensar se não deveremos tomar uma medida radical. Os telemóveis são de facto um factor de desestabilização da convivência escolar.

E há menos interacção entre alunos?
Os grupos de amizade são muito pequenos e as relações com os outros tornam-se mais difíceis. É fácil não tolerar o outro, porque não temos grande proximidade. Temos alunos da mesma turma que praticamente não se conhecem, porque passam o tempo livre na escola no telemóvel.

Falava da questão do instruir e da mudança na escola. Como idealiza o ensino de modo a ter alunos motivados?
A sociedade está a evoluir a uma velocidade que nem nos apercebemos. A escola tem dificuldade em acompanhar esta nova realidade e está desenquadrada daquilo que a sociedade lhe exigiria. Temos uma organização por ciclos, o que está desajustado da necessidade actual. O pré-escolar não é obrigatório, porque não há condições para receber todos. Os meninos não estão preparados para entrar no 1.º ano. Chegam ao 5.º ano e ainda precisavam de mais um ano de 1.º ciclo. Depois há um ciclo de dois anos, que não faz grande sentido. Há países que já estão a trabalhar na entrada no 1.º ciclo aos 7 anos. Mas se assim for o pré-escolar tem de acolher todos os alunos até aos 6. Há um desajuste entre a escola e a sociedade, que dificulta a motivação dos alunos.

Como é que poderia ser trabalhada essa orientação?
Parece ser contraditório, mas poderia ser trabalhado mais cedo. Há um desajuste da escola relativamente à realidade que são os alunos. Concordo plenamente com a escola inclusiva, mas a realidade é que os alunos são todos diferentes. É frustrante acharmos que todos os alunos podem chegar ao 9.º ano mais ou menos ao mesmo nível. Deveria haver mais cedo a possibilidade de os alunos fazerem percursos diferentes. Se calhar não faria sentido haver um 2.º ciclo. Na Alemanha têm isso. Deveria existir um sistema muito abrangente e mais virado para os alunos do que para os professores ou para quem o pensa. Seria orientar mais cedo os alunos, não digo para uma profissão, mas para que pudessem progredir na escola mais de acordo com as suas expectativas. Um ciclo que lhes desse esta margem para crescer, ter uma experiência diferente, eventualmente mais prática na escola, e que permitisse chegar ao fim e então decidir se realmente queria continuar por uma área mais académica ou mais profissional. Enquanto nos andarmos a desgastar desta forma com as crianças neste escalão etário, a castigá-los para andarem na escola todos com o mesmo percurso, vamos ter sempre algum insucesso. Não é aumentar o facilitismo. É só tornar a escola mais acessível. Falamos muito em inclusão, em criar condições para todos, mas não conseguimos atender a todos os alunos num percurso único. Se tivéssemos percursos distintos, adequados a cada aluno, conseguíamos chegar mais longe e a exigência estava lá, dentro daquele percurso.

O diploma de autodeterminação prevê que as escolas adaptem as casas de banho e balneários. Há condições para isso?
Recentemente tivemos necessidade de encontrar respostas para um jovem. Tivemos apoio da pediatria do hospital que o estava a acompanhar. Fizemos acções de sensibilização para os alunos e professores da turma. Assumo por vezes alguns erros meus, que resultam de uma situação nova, mas não há qualquer preconceito na escola. Em termos sociais, mudámos o nome do jovem, mas a lei não permite que se mude o nome de nascença no Cartão de Cidadão [antes dos 16 anos], por isso, no sistema tem de se manter. Na escola não tive conhecimento de qualquer tipo de discriminação.

E espaços físicos?
Até certa altura, não houve essa necessidade. Este ano sim. Na escola existem várias casas-de-banho para deficientes que estavam desactivadas e que reativámos. Podem ser usadas por qualquer pessoa independentemente do género. No pavilhão existe um balneário, usado pelos árbitros em termos de competição, e pode ser utilizado independentemente do género. Mas tivemos situações com pais, que questionaram o balneário onde o jovem deveria estar. São questões que não conseguimos ultrapassar. Todos temos os nossos direitos. Os jovens que estão nesta situação têm os seus, mas os outros também têm o direito à privacidade e identidade. Os jovens hoje em dia já reagem a essas situações com naturalidade e falaram sempre com um cuidado extremo para não ferir o colega. Isso foi muito reconfortante para nós.

Percurso
Do andebol para a escola
Jorge Dias, a dois dias de completar 56 anos, sempre quis ser professor de Educação Física. Assumiu a liderança do Agrupamento de Escolas Dr. Correia Mateus, quase como uma missão, e meses depois enfrentou os desafios da pandemia. A paixão pelo desporto está presente desde miúdo e, talvez por isso, tenha sido jogador de andebol nos quatro clubes da cidade: União de Leiria, Académico de Leiria, Sismaria e Juve Lis.
“Sempre quis ser professor de Educação Física, mas devo confessar que também nunca gostei de andar na escola. Andava por obrigação e por dever. Se calhar, foi por castigo que fiquei o resto da vida na escola”, brinca.
Esteve ligado ao andebol cerca de 30 anos, tendo treinado várias equipas, mesmo quando ainda era jovem. A paixão pela modalidade fazia com que passasse o fim-de-semana no antigo pavilhão municipal, junto ao estádio de Leiria. Jogava e acompanhava os jogos das outras equipas e escalões.
“Fiz um percurso bastante rico no andebol. Ainda hoje se fala da equipa que foi campeã nacional de juvenis masculinos. Eu fazia parte dessa equipa na Sismaria.”
Adora passar férias na neve e de esquiar e de usufruir do tempo em casa aos fins-de-semana. “Gosto muito de fazer jardinagem e de tratar da horta e das minhas árvores. Não tenho animais de criação, porque é impensável matar seja o que for. Só saio para ir às compras.”
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