Quando entrou para a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Rita Mota estaria longe de imaginar que o seu percurso profissional a encaminharia para a investigação em áreas como a ética empresarial, direitos humanos e teoria organizacional. Natural de Leiria, é, desde Setembro do ano passado, professora auxiliar na ESADE Business School, da Universidade Ramon Llull, em Barcelona, e investigadora nas Universidades de Oxford e de Bath, no Reino Unido.
O desafio da investigação surgiu quando Rita Mota estagiava numa sociedade de advogados por sugestão de um antigo professor que se encontrava a trabalhar em Inglaterra. “Fazer o doutoramento em Londres entusiasmou-me, mas também tinha consciência de que, em termos financeiros, não era muito viável”, recorda.
Para tentar contornar esse obstáculo, candidatou- se a uma bolsa de investigação, “com pouquíssima esperança” de que resultasse. Mas, resultou e, em 2011, rumou ao Reino Unido, para fazer o doutoramento no King’s Colleege London.
Com a “sede de conhecimento” ainda por saciar – “hoje sei que isso nunca vai acontecer” – Rita Mota percebeu que queria “explorar” outras questões relacionadas com a ética empresarial, direitos humanos, teoria organizacional e sustentabilidade.
“Tomei consciência de que o Direito está muito longe de assegurar os direitos das pessoas, particularmente das mais vulneráveis e que os governos não fazem o suficiente para proteger essas pessoas. Estas questões não serão resolvidas sem a colaboração das empresas”, alega Rita Mota, que acabou por conseguir um contrato de investigadora na Universidade de Oxford, onde fez o pós-doutoramento focado na ética empresarial.
“Finalmente, tinha encontrado a minha casa intelectual”, confessa a investigadora, que, entre 2017 e 2022, integrou o Centro de Reputação Corporativa daquela universidade.
Saudades de viver na UE
Com o pós-doutoramento concluído, o objectivo seguinte passava por entrar na carreira docente, “num mercado completamente global e bastante competitivo”, com a dificuldade acrescida de “não haver muitas faculdades” com a sua linha de investigação e de ter colocado os EUA e o Canadá, onde há oferta nesta área, fora do lote de opções.
Da “curta lista” de instituições europeias com departamentos na sua área de interesse, sobressaiu Barcelona. A decisão, reconhece, “não foi fácil”. Por um lado, já estava “enraizada” em Inglaterra, mas, por outro lado, “tinha muitas saudades de viver na União Europeia [UE]” e havia ainda a “maior proximidade” a Leiria.
A adaptação a Barcelona revelou-se “mais fácil” do que o esperado. “Tem sido um presente. Consegui um emprego permanente, num sítio onde gosto de estar, a trabalhar numa área na qual quero continuar a investir e numa instituição que mantém uma componente de serviço aos outros e de humanismo que lhe vem da ligação histórica aos Jesuítas”, destaca.
Leiria, um “tesourinho”
Em paralelo com a actividade docente, Rita Mota, de 37 anos, está ligada a vários projectos de investigação. “Se calhar, demasiados”, diz, entre risos. Um dos trabalhos que está a desenvolver, com duas colegas da Universidade de Bath, envolve um estudo na área da moderação de conteúdos em plataformas online, incluindo redes sociais, para tentar perceber, por exemplo, se, do ponto de vista da salvaguarda dos direitos humanos, faz sentido em alguns casos restringir conteúdos.
Sobre Leiria, onde regressa sempre que pode para visitar a família e amigos, fala de um “tesourinho de cidade, que está cada vez mais bonita” e com uma actividade cultural “incrível para a dimensão do território, reflexo do espírito vivo das pessoas que a habitam”.