Nos últimos anos, as cooperativas agrícolas têm, de forma geral, perdido terreno. Segundo dados da Conta Satélite da Economia Social (2016), existiam em Portugal 2343 cooperativas, sendo o ramo agrícola o mais representativo. Mas os últimos três relatórios anuais de Demografia do Sector Cooperativo, publicados pela CASES (Cooperativa António Sérgio para a Economia Social), indicam que, entre 2020 e 2022, o número de cooperativas agrícolas extintas tem superado sempre o número daquelas que se constituem.
Apesar do saldo negativo, a região de Leiria conta ainda com vários exemplos de resiliência e até de crescimento. Depende das características dos produtos, da dinâmica dos sócios, mas, com maior ou menor dimensão, mais ou menos dificuldades, são várias as cooperativas da região, que, década após década, continuam a superar desafios normativos e tecnológicos, fazendo chegar a produção de muitos agricultores ao mercado interno e internacional.
Constituída em 1951, a Cooperativa de Olivicultores de Fátima conta actualmente com cerca de 1100 associados, número que tem vindo a crescer de forma significativa nos últimos tempos, conta José Silva, sócio há 23 anos e presidente de direcção desde Janeiro. “Em vinte anos, o número de sócios mais do que duplicou”, observa o responsável, que atribui [LER_MAIS]explicações para tal dinamismo.
As oliveiras podem durar séculos e são mais resistentes do que outras culturas “à praga dos javalis”, que tantos estragos têm feito na agricultura da região. Além disso, estão hoje em voga “espécies diferentes de oliveira que, ao fim de três anos, já produzem muito e com qualidade”.
“Não deixa de ser uma actividade trabalhosa”, mas a olivicultura pode hoje ser muito apoiada por máquinas. Estas razões têm motivado alguns jovens a apostar nos olivais e a associarem-se à cooperativa, congratula-se José Silva.
A Cooperativa de Olivicultores de Fátima recebe azeitonas de sócios e de não sócios, mas são também os preços mais convidativos para associados que justificam que mais pessoas se juntem à instituição, nota o responsável.
No ano passado, a produção foi “a pior de sempre”. Ficou pelas 1100 toneladas, resultado de pragas, da chuva e do frio, que “chegaram fora de tempo”, explica o presidente. É um problema quando a máquina comercial desta cooperativa já está bem oleada e o mercado espera pelo seu azeite.
“Em Portugal vendemos sobretudo para restauração e hotelaria da região. Trazem os turistas a visitar o nosso museu, onde apresentamos produtos regionais e eles levam do nosso azeite. E exportamos” adianta José Silva. França, Bélgica, Holanda, Brasil, Filipinas fazem parte da multiplicidade de mercados para onde ruma 30% da produção desta casa.
O investimento em novas tecnologias tem sido constante. A cooperativa já está habilitada para produzir até 320 toneladas por dia. “Este ano, a dor de cabeça é saber onde obter produto” para tamanha solicitação, refere o presidente.
Fundada em 1965, a Cooperativa Agrícola do Concelho de Porto de Mós conta hoje com cerca de 100 sócios. Há 25 anos eram quase 500, recorda Amílcar Silva, técnico nesta instituição há aproximadamente três décadas.
O número de sócios decresceu muito há 10 anos, por força das normas e das certificações que passaram a ser exigidas e perante a concorrência internacional, que “abalou o sector”. Depois disso, deu-se uma adaptação e o número de associados estabilizou.
Entre os pomares dos vários sócios, chega à cooperativa maçã e pêra rocha proveniente de um total de 300 hectares. Em 2022, a produção chegou às 4 mil toneladas, 20% das quais destinadas a exportação. Brasil, Dubai, Marrocos, Inglaterra e França são alguns dos mercados com os quais a cooperativa tem trabalhado, dependendo das oportunidades que surgem a cada ano.
Além de escoar a produção, a cooperativa presta apoio técnico/ formativo aos sócios. A grande quantidade de minifúndios, que dificultam e encarecem a intervenção, bem como os requisitos de certificação que têm de ser cumpridos, que não têm em conta as diferentes dimensões das propriedades, são alguns dos obstáculos, nota Amílcar Silva.
Mas o futuro traz mais desafios, como produzir num contexto de alterações climáticas e de grande controlo de água, exemplifica.
Numa zona do País onde a produção de vinho se faz de forma muito tradicional, são sobretudo as gerações mais velhas que mantêm a actividade e recorrem à Adega Cooperativa da Batalha, conta Sílvia Pereira, enóloga desta casa fundada em 1959.
São sócios com “parcelas de terreno pequenas, onde é difícil colocar máquinas a trabalhar”, explica. Os 130 sócios perfazem 300 a 400 hectares de vinha, que no ano passado renderam cerca de 500 toneladas.
A Adega recebe as uvas, produz, engarrafa e comercializa o vinho, que se destina a restaurantes, grandes superfícies e distribuidores nacionais. Neste caso, a exportação é pontual.
A pandemia e a guerra fizeram subir os preços dos materiais de engarrafamento e os custos de produção no geral, o que é mais um revés num universo de tanta concorrência, observa a enóloga.
Vivem-se “dias difíceis”, há que fazer escolhas, sendo que o marketing é uma das áreas a reforçar, refere.