Foi com apenas cinco anos que Alexander Ferreira começou a mover as primeiras peças num tabuleiro de xadrez. Influenciado pela mãe e pelo avô materno, também eles amantes da modalidade, o jovem de 17 anos, que sofre de paralisia cerebral, encontrou no xadrez uma actividade “muito desafiadora e estimulante”.
Aos sete anos começou a frequentar aulas de xadrez na Escola Casal da Lagoa, em Turquel, e três anos depois, ao terminar a escola primária e iniciar o 2.º ciclo, deixou o xadrez em stand-by, dado que a nova escola não tinha a modalidade.
Somente há cerca de dois anos, por ocasião da pandemia, o beneditense retomou a prática de xadrez com um grupo de amigos, regressando à Associação Peão Cavalgante/ Arneirense, de Caldas da Rainha, onde é jogador federado.
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Em Janeiro deste ano, movido pelo objectivo de colocar mais jovens a praticar a modalidade, o aluno do Externato Cooperativo da Benedita (ECB) começou a dar treinos a um grupo de colegas deste estabelecimento.
“Já pensava nisto desde o ano passado. Decidi apresentar a ideia a alguns amigos e professores, que me ajudaram a concretizar”, conta Alexander, aluno do 11.º ano do curso profissional de Multimédia, que no próximo ano realizará a Prova de Aptidão Profissional em torno do projecto de xadrez.
Um projecto que, em apenas cinco meses, reuniu já 20 alunos, com treinos às segundas e terças-feiras, à hora de almoço. “O trabalho é todo deles. Se não quisessem aprender, não estavam no nível que agora estão, e que nos permite ser a melhor escola da zona Oeste”, revela o jovem.
Alexander dá ainda aulas online, sobretudo em semanas de competições, para “se prepararem melhor”, contando com o apoio dos ‘adjuntos’ Henrique Henriques e José Ferreira.
“Conheço o Alex desde a pré-escola e começámos a praticar xadrez na mesma altura. Quando entrei para o 5.º ano, também parei, pois não tínhamos a modalidade na escola. Foi só durante a pandemia que voltei ao xadrez, para passar o tempo”, refere Henrique, de 16 anos, que não hesitou em juntar-se ao projecto
Atleta de hóquei em patins, salienta que o xadrez se distingue pela forma como faz os praticantes “lidar com certas dificuldades”. “Há certas posições que requerem muito estudo, e algumas situações podem transpor-se para a vida real”, afirma Henrique.
Também José Ferreira, de 15 anos, retomou a prática de xadrez durante a pandemia, e não pensou duas vezes em apoiar a implementação da modalidade no ECB. “Tornar o xadrez uma modalidade integrante do desporto escolar permitirá termos torneios internos e outros com participantes externos, potenciando ainda mais o xadrez.”
Xadrez voltará a integrar o desporto escolar no ECB
Graças à paixão de Alexander, que não baixou os braços enquanto não ‘semeou’ o gosto pela prática de xadrez junto dos colegas, o ECB voltará a integrar o xadrez no desporto escolar já no próximo ano lectivo. Quem o assegura é o director Nuno Rosa.
“Durante vários anos o xadrez foi muito importante na nossa instituição. Tínhamos um professor que dava aulas no externato e percorria outras escolas da Benedita, no entanto, há cerca de seis anos, com a saída desse professor, o xadrez acabou por se perder”, reconhece.
Enaltecendo a iniciativa do aluno, cujo projecto registou “um crescimento fantástico em pouco tempo”, o director adianta que estão criadas “as condições para o xadrez regressar de forma definitiva”.
“Criou-se a dinâmica e os alicerces necessários para mantermos o xadrez na nossa instituição. Inclusive, temos já um professor de educação fiísica que ficará responsável pela modalidade”, informa Nuno Rosa.
Sobre a integração do xadrez no desporto escolar, Alexander afirma ser uma “grande satisfação”. “Acima de tudo, porque o mais importante é divulgarmos a modalidade. O xadrez deveria ser praticado em todas as escolas. Se fosse incluído no ensino, seria bom, pois estimula o pensamento.”
Sobre o futuro, refere que gostaria de tirar o curso de treinador. “A modalidade ajuda-me muito com o psicológico. Além disso, quero levar o xadrez a cada vez mais pessoas.”
Quem acompanha o jovem há já 10 anos é José Cavadas, da Associação Peão Cavalgante/Arneirense, que não tem dúvidas da “capacidade do Alex para concretizar tudo o que deseja”. “É uma força viva. Consegue mover montanhas com a força que tem. Como gosta muito da modalidade, quer potenciar toda essa paixão e fazer crescer ainda mais o xadrez.”