Afonso, reformado, é o faz tudo do prédio e vive com a mulher, Matilde; Tatiana, mãe solteira à espera de um terceiro filho, está sempre atenta ao que se passa e adora “fofocar” com as vizinhas; Carla cuida do marido, Aníbal, mas, também, das coscuvilhices que possam chegar através das paredes; Rúben, filho da Carla e do Aníbal, é um rapaz pacato, e, no entanto, muito curioso. Destas e de outras personagens se ocupa a segunda produção da companhia À Vista, do Freixial, no concelho de Leiria. A estreia de O Mistério da Janela Fechada, depois de meio ano em ensaios, acontece no fim-de-semana e marca o arranque da segunda temporada do grupo de teatro amador, que já mobiliza mais de 40 actores, nenhum deles profissional.
Para as duas primeiras apresentações de O Mistério da Janela Fechada – agendadas para sábado, 10 de Junho, às 21 horas, e domingo, dia 11, com início às 16 horas, ambas no auditório do Rancho Folclórico do Freixial – estão convocados dois elencos.
A trama centra-se na vida dos habitantes do prédio e nos acontecimentos anormais que nele ocorrem. Diferentes protagonistas, com diferentes histórias, que parecem captar a atenção de um homem que todos os dias se senta no banco do jardim, a observar.
O enredo “inspira-se na actualidade” e, de acordo com Beatriz Vieira, autoras do texto, mostra como, muitas vezes, “não conseguimos ver para além daquilo que nos é mostrado”. O que será que se passa no prédio? O que será que o homem tanto observa? Quem vive atrás da janela que permanece fechada?
Actualmente a estudar canto jazz na ESMAE – Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto, Beatriz Vieira divide a coordenação do colectivo À Vista com a irmã, Alexandra Vieira, que tem formação em artes plásticas. No último Outono, escreveram a nova produção da companhia em conjunto e também assinam, em co-autoria, a primeira peça, O Sonho Comanda a Vida, estreada em Setembro do ano passado. Contam com Sónia Santos na equipa directiva e aproveitam a colaboração de Daniela Carvalho, estudante de teatro na ESMAE.
O interesse pelas actividades do grupo está a superar as expectativas, admite Beatriz Vieira. “Não esperávamos tanta gente”. Há pais que levam os filhos e as idades no elenco, com as mais variadas profissões, vão dos 5 aos 55 anos. Para que o maior número de actores possa participar, já no próximo fim-de-semana algumas personagens serão interpretadas por mais do que uma pessoa, em dias diferentes.
“A interacção entre gerações é muito importante”, sinaliza a encenadora. “É mesmo esse o objectivo: quebrar barreiras para vivermos em comunidade”.
Desde que surgiu em 2021 a partir do Rancho Folclórico do Freixial, a estrutura tem atraído habitantes do Arrabal e de outras zonas do concelho de Leiria, a maioria deles sem experiência de representação.
“O nosso objectivo é que isto seja aberto e que as pessoas venham e experimentem”, comenta Beatriz Vieira. “Sendo uma freguesia tão rica em artes, o teatro não estava tão vivo, como, por exemplo, a música”.
A companhia À Vista, segundo Beatriz Vieira, é também um produto do festival Novos Ventos, organizado pelo Leirena para trabalhar com associações, que atinge a oitava edição em 2023. “Veio à nossa aldeia e mostrou-nos coisas que não tínhamos visto”, argumenta.
Com apoio do Município de Leiria, Beatriz e Alexandra querem, precisamente, demonstrar que, através do teatro, cada um pode ser o que quiser, sem ter medo de o ser.