O gosto pelas artes corre na família de geração em geração – e também o apego ao pinhal aninhado entre a Marinha Grande e o oceano. “O meu avô materno era um apaixonado pela mata. Chegava ao domingo e dizia que ia ver o jardim dele”, recorda Olinda Colaço. “Ia ver os coelhos, as perdizes”. A pintora lembra-se bem dos piqueniques. “Ele tinha um carro com um burro e iam os netos todos”.
No próximo sábado, para assinalar 50 anos de carreira de Olinda Colaço, é inaugurada na Marinha Grande a exposição Homenagem à Mata, com mais de duas dezenas de obras de diferentes períodos que mostram uma realidade que já não existe: o Pinhal de Leiria (ou Pinhal do Rei, como também é conhecido) antes do incêndio de 2017.
Apesar do espírito de “comunhão e respeito” que está na origem da iniciativa, que pretende preservar a imagem de uma floresta “viva e verde”, a destruição da paisagem pelas chamas ainda é uma memória fresca.
“Para mim, que desde criança ali andava pelo ribeiro de São Pedro com os pés na água, foi um choque”, admite a artista, de 77 anos. “Durante um tempo, nem conseguia lá passar”. E conclui: “Nunca mais a vou voltar a ver como a pintei”.
A exposição que está a ser preparada traz a oportunidade de “recordar outros tempos”. Para alguns visitantes, será, possivelmente, uma revelação. “Vivem na Marinha”, mas, “nem sequer conheceram a mata”.
As artes surgiram muito cedo na vida de Olinda Colaço, na infância. “O meu pai pintava muito bem. Não o fazia profissionalmente, mas era um artista. E a minha avó, a mãe dele. Já vem lá de trás”, conta ao JORNAL DE LEIRIA.
Depois de concluir o curso industrial, empregou-se como desenhadora gráfica e a primeira exposição individual aconteceu em 1973, em Leiria, na inauguração da galeria Capitel, a convite do proprietário, Joaquim Vieira.
“As primeiras exposições que fiz, era tudo pintado à noite até às quatro da manhã e no outro dia às oito estava na fábrica”, comenta. “Não havia férias, feriados, nem fins-de-semana”.
Em 1980, autonomizou-se. Deixou o emprego por conta de outrem e fundou o ateliê que mantém até hoje junto à casa onde nasceu, na Marinha Grande. E onde, além do realismo figurativo dentro do óleo, aguarela e escultura, se dedicou a explorar as possibilidades do vidro artístico.
A comemorar meio século de carreira, Olinda Colaço continua a criar e “todos os dias, um bocadinho”, volta ao ateliê para trabalhar com tintas e telas. “É uma terapia”, salienta. Após um intervalo de “dois ou três anos”, o interesse pela pintura reacendeu-se com o regresso da filha, Vânia Colaço, também artista plástica, de Espanha para a Marinha Grande, durante a pandemia. “Somos críticas uma da outra”.
A exposição Homenagem à Mata é inaugurada no sábado, 27 de Maio, pelas 17:30 horas, no foyer do Museu do Vidro e da Casa da Cultura Teatro Stephens, onde ficará patente até 27 de Agosto, de terça-feira a domingo, das 10 às 13 horas e das 14 às 18 horas, com entrada gratuita.
Com obras em colecções particulares e museus, Olinda Colaço conta no currículo com 54 exposições realizadas, 1.600 quadros e mais de 10 mil peças de vidro pintadas. Destaca-se a exposição de homenagem, em 2006, na sexta edição da Bienal de Artes Plásticas da Marinha Grande e a retrospectiva do trabalho em vidro, em 2016, no Museu do Vidro da Marinha Grande.
No dia 17 de Maio, véspera do feriado municipal, recebeu da Câmara da Marinha Grande a medalha municipal de mérito cultural.