O Centro de Desenvolvimento Rápido e Sustentado do Produto (CDRSP), do Politécnico de Leiria, está a realizar estudos, a fim de aproveitar micro-algas e bactérias para desenvolver polímeros, que possam ser aplicados na indústria automóvel, na embalagem ou no calçado.
De acordo com Artur Mateus, director deste centro de investigação localizado na Zona Industrial de Casal da Lebre, na Marinha Grande, no CDRSP estes estudos para desenvolvimento de polímeros à base de fontes naturais tiveram início há cerca de dois anos. Refere ainda que o centro aguarda pelo lançamento de linhas de apoio, que permitam envolver empresas nestes projectos.
O director salienta [LER_MAIS]que existe pressão a nível mundial, no sentido da conversão de matérias-primas de origem fóssil para matérias- primas biobased. Na prática, por exemplo, “em vez de obtermos crude através de um furo, que é feito na terra, pretende-se que se obtenham as matérias-primas para a produção de plástico, e de tudo o resto, a partir da colheita de plantas ou por exemplo de micro-algas”, refere Artur Mateus.
Mas há constrangimentos associados, realça. Por um lado, é preciso atingir grande escala e, para isso, é preciso ter na região uma grande quantidade de matéria-prima disponível. “Estamos a fazer estudos, onde nem se atinge a grama, seria necessário produzir toneladas”, explica o director, notando que produzir em terra, com água do mar, seria uma possibilidade.
Actualmente, quem está em melhores condições de o fazer são algumas petrolíferas localizadas no Médio Oriente e no Norte da Europa, que, além da exploração fóssil, também já tentam posicionar-se no desenvolvimento destes produtos bio, prossegue Artur Mateus.
Além de escala, é preciso ter uma regulamentação mais sólida sobre este tipo de recolha feita na natureza, para que não compita com a cadeia alimentar. Muitos bioplásticos são obtidos através do amido e uma das plantas que contém muito amido é o milho usado na alimentação, observa Artur Mateus.
Recentemente, o Dinheiro Vivo informava sobre o projecto Barbara, financiado no âmbito de uma parceria entre a UE e o sector privado, que utilizou resíduos agrícolas, incluindo cascas de limão, amido de milho, cascas de amêndoa e cascas de romã como aditivos para biopolímeros.
Deste projecto resultaram protótipos de peças de automóveis e moldes de construção feitos recorrendo ao saber-fazer no domínio da impressão 3D do Centro Tecnológico Aitiip, sediado em Espanha.
Artur Mateus salienta que, também com recurso a cascas de fruta, produzir algo do género na região exigiria uma grande escala, que Leiria talvez não atinja. Nem mesmo com os desperdícios de fruta que o Oeste coloca actualmente em aterro, observa o director.
Bioeconomia da UE em expansão
“A União Europeia está a impulsionar o desenvolvimento de produtos derivados de materiais de origem biológica, como parte de um esforço que visa não só reduzir os resíduos, mas também reduzir as emissões de dióxido de carbono e tornar os produtos industriais mais seguros”, refere o Dinheiro Vivo.
“A bioeconomia da UE tem vindo a expandir- se durante a última década, tendo atingindo 2,4 biliões de euros em 2019 e, de acordo com um estudo de Outubro de 2022, conta com novas perspectivas de crescimento.
A mesma fonte refere ainda que a “UE produz cerca de 60 milhões de toneladas de resíduos alimentares e 26 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano”.