Um inquérito da Associação e Vestuário de Portugal indica que, a nível nacional, o sector está a viver uma situação “preocupante”, com mais de metade das empresas a admitir uma redução da produção até 30% no primeiro trimestre, perspectivando que a realidade se mantenha até Junho.
Na região de Leiria, empresas ouvidas pelo nosso jornal também falam de quebras.
Segundo o inquérito da associação, citado no Dinheiro Vivo, a descida de encomendas na indústria têxtil e do vestuário é visível nos resultados das exportações, que caíram 3% em valor e 12% em quantidade no mês de Fevereiro.
Os inquiridos referem falta ou redução de encomendas, redução das margens de lucro, dificuldades na contratação de trabalhadores, dificuldades de tesouraria e preços elevados da energia. Mário Jorge Machado, presidente da associação, diz que o sector vai precisar de moratórias e o regresso do lay-off simplificado.
A Betina Têxteis, de Leiria, desenvolve artigos para o lar [LER_MAIS]e para a hotelaria, sobretudo para o mercado interno. Emprega cerca de 50 pessoas. Rúben Jorge, director técnico, explica que as vendas e o volume de negócios caíram mais de 50% no primeiro trimestre do ano face ao período homólogo de 2022.
“Os armazenistas compram menos, porque as famílias têm menos disponibilidade financeira e abdicam de bens não essenciais”, justifica. Além disso, as matérias-primas encareceram, com reflexo no preço final dos produtos, acrescenta.
Também com uma equipa de quase 50 pessoas, a Rosários 4, de Mira de Aire, é especializada no fabrico e tingimento de fios para tricot, crochet e Arraiolos. Hélia Carreira, directora administrativa e financeira, explica que “o impacto da inflação foi sentido no negócio da Rosários 4, ainda em 2022, em duas principais vertentes: nos gastos relacionados com a energia e matérias-primas – custos de produção mais elevados; e no poder de compra do consumidor final reduzido”.
Assim, “não obstante a estabilização de alguns factores externos, tal como os custos energéticos, o primeiro trimestre de 2023 continuou a ser desafiante, com uma quebra de cerca da 9% referente ao período homólogo”. Embora a procura se mantenha, “o factor decisivo de compra passou a ser a condição de pagamento, denotando assim a dificuldade no poder de compra dos clientes”, prossegue.
Por outro lado, “a nossa aposta na inovação de produtos de elevada qualidade, com uso de matérias- primas naturais e implementação de processos sustentáveis e ecofriendly, tem uma aceitação e reconhecimento extraordinário por parte do cliente internacional”, frisa a directora. A marca espera atingir, ainda em 2023, um índice de exportação de 40%, mais 7% face a 2022.
Um nicho em expansão
A Absorve produz tapetes, no Bombarral. Com uma pequena equipa de cinco pessoas, uma actividade de nicho, muito mecanizada, tem até registado melhor dinâmica em 2023 do que em 2022.
Exporta 20% do que produz, mas é no mercado nacional que sente maior impulso, onde os clientes da hotelaria retomam, depois de anos fustigados pela Covid-19, justifica Bruno Louro, gerente.