Com os juros da prestação da casa e de qualquer empréstimo a subir, muitos acham singular o facto de os juros pagos pelos bancos a quem faz depósitos a prazo manterem-se praticamente inalterados ou baixos.
É o resultado da aplicação da solução escolhida pelo Banco Central Europeu (BCE) para fazer baixar a inflação.
A questão dos baixos juros pagos a quem faz poupança não é nova e nota-se desde o início da década passada, com a política de juros baixos do BCE, para estabilizar a zona euro após a crise da dívida soberana.
Neste cenário, como ganhar dinheiro com as poupanças?
O número
9%
última década, de um fundo com
títulos europeus, americanos e
japoneses
Na época da internet, dos telefones inteligentes e dos mercados globais, a solução apareceu, embora bastante tímida nos primeiros tempos. Não, não falamos aqui de fenómenos como as criptomoedas, mas de Exchange Traded Fund (fundos de índices cotados).
João Ribeiro, 29 anos, está a investir parte das suas poupanças em ETF. É licenciado em Economia e está de partida para Taiwan, para onde foi contratado por um banco de origem francesa. Espera conseguir, nos próximos dois anos de trabalho, investir o suciente para criar uma “carteira confortável”.
“A vantagem é que nunca se coloca todos os ovos no mesmo cesto, logo as perdas não são totais, e o juro é muito melhor”, explica.
Ao contrário daquilo que seria de esperar, não foi pelo contacto com outros colegas na faculdade, que ouviu falar pela primeira vez em ETF.
“Foi a minha tia que ficou a saber no banco, investiu e espalhou a mensagem. Após ler algumas coisas sobre o assunto, resolvi experimentar. Ainda assim, vou manter uma parte das poupanças numa conta convencional no banco.”
O ETF é um produto financeiro indexado a um índice, mercadoria, obrigação ou composição de produtos.
É uma espécie de “cesto de títulos” diversificados, comprados e vendidos numa bolsa de valores. E a “diversificação” que João Ribeiro descreve como não colocar “os ovos no mesmo cesto” é uma das vantagens, além da melhor taxa de juros.
Mas vamos por partes.
O JORNAL DE LEIRIA pediu ajuda a Jorge Duarte, economista na Deco Proteste, para explicar como tudo funciona.
Antes de começar a lição, o especialista alerta que o potencial investidor deve entender o conceito de “fundo de investimento”.
Tal como o ETF, são ambos produtos que investem de forma diversicada nos mercados financeiros.
“Quem subscreve um fundo ou compra um ETF, compra uma pequena ‘fatia’ de um bolo enorme, que está aplicado noutros mercados.”
Tal permite controlar bastante o risco da aplicação. Além disso, o mínimo de compra exigido é reduzido e, por vezes, bastam algumas dezenas de euros para investir numa carteira de acções globais, onde estão grandes empresas globais.
“O risco é diferente quando se adquire um fundo ou ETF de obrigações de países europeus do que quando se adquire um especializado em acções do Vietname.”
Jorge Duarte dá como exemplo, um fundo de acções globais, com títulos europeus, americanos e japoneses onde o ganho médio anual, na última década, foi cerca de nove por cento.
“E é um tipo de investimento com um risco intermédio”, explica.
Procura aumenta
Os ETF foram criados há mais de duas décadas, embora, primeiro fossem apenas dezenas de ofertas e de entidades estrangeiras, mas hoje, são milhares.
A internet e os bancos online vieram democratizar e abrir o acesso a mais pessoas. Nos últimos anos, adianta o economista, há uma maior procura por este tipo de aplicações, sobretudo desde que os depósitos nos bancos e os certicados de aforro deixaram de ter taxas apetecíveis.
“Quem investe, deve ter a consciência que não é o mesmo do que ter um depósito a prazo. O retorno da totalidade da quantia investida nunca é garantido. Claro que, quanto mais tempo o investimento for realizado, menos hipóteses há de perda.”
Genericamente, quem tem mais disponibilidade nanceira para investir, serão pessoas já com mais alguma idade e com poupanças.
Para adquirir fundos de investimento ou ETF, basta deslocar-se a um banco, CTT ou corretora.
“Os jovens, tipicamente, têm menos margem financeira para fazer estes investimentos, porém nota-se que há mais interesse em perceber como funcionam os mercados”, refere Jorge Duarte, adiantando que as gerações mais novas começam a ter uma melhor percepção sobre a poupança.