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“Quem trata bem da sua floresta, merece ser recompensado, pois evita incêndios de grandes proporções e ajuda a sequestrar carbono que provoca alterações climáticas.”
Esta é a ideia que está na base da criação da CO2offset, empresa sediada em Ansião, com filial em Pombal e encubada na Startup Leiria, que na semana passada recebeu um investimento de 1,5 milhões de euros da startup de cleantech, GED Ventures Portugal.
A CO2offset, fundada pelos físicos Rui Lopes e Pedro Cipriano e pelos gestores Sérgio Lorga e Rui Maia, têm como fim “democratizar o acesso aos créditos de carbono e recompensar todos aqueles que protegem activamente a floresta”.
Um algoritmo calcula a quantidade de carbono sequestrado numa determinada área florestal e os créditos de carbono correspondentes, que podem ser vendidos a empresas que emitam CO2 para a atmosfera.
A solução junta tecnologias de ponta como o blockchain ou LiDAR, para calcular a Tonelagem Carbónica Equivalente (TCE) e alerta os proprietários que façam contrato com a empresa de Ansião, para o excesso de biomassa e para o risco de incêndio nos seus terrenos.
“A TCE está associada a um smart contract, na nossa blockchain, que é segura e dá a transparência necessária a este mercado”, explica Rui Lopes, um dos fundadores, que criou um algoritmo capaz de projectar o valor de biomassa combustível existente numa determinada área geográfica.
Os dados sobre os terrenos florestais são acessíveis em tempo real e por GPS.
A startup “verde” gere os créditos com as entidades adquirentes e acompanha o proprietário durante um ano, aferindo a probabilidade de a floresta desaparecer, a sua maturidade, o risco de incêndio, de infestação por pragas ou por espécies invasoras.
Para já, a CO2offset está focada nas espécies autóctones nativas, como o carvalho, e nos pinhais, contudo, num futuro próximo, poderá acompanhar outro tipo de floresta ou plantações de exóticas, como o eucalipto.
Rui Lopes explica que, após a assinatura do contrato de um ano e o cálculo do crédito de carbono, são pagos, à cabeça, 10% do valor total.
Se, passados seis meses, o proprietário cumprir os pressupostos do contrato e de controlo da biomassa, serão pagos 30% e, ao fim de um ano, é pago o restante.
“O preço depende do estado de maturidade da floresta e da sua conservação, por isso é difícil dar um valor médio de contrato por hectare”, explica o responsável, adiantando que, se todos os pressupostos acordados forem cumpridos, o proprietário florestal sairá sempre beneficiado.
Actualmente, a CO2offset emprega dez pessoas, entre investigadores, programadores e restantes técnicos.
Quem estiver interessado em estabelecer um contrato com a empresa poderá fazê-lo através do site, que permite fazer o registo e carregar a documentação necessária.
O investimento de 1,5 milhões será suportado pelo GED Tech Seed Fund, dedicado ao combate às alterações climáticas e transição para a economia verde.
“Num momento em que o mundo ambiciona atingir as metas definidas pelo Acordo de Paris e pela Agenda 2030 das Nações Unidas, acreditamos que a solução pioneira desenvolvida pela CO2offset pode dar um importante contributo”, entende Francisco Lino Marques, partner e membro do Conselho de Administração da GED Ventures Portugal.
Em 2017, Rui Lopes, natural de Pombal, estava ligado à indústria espacial quando entrou em contacto com o programa Copernicus, da União Europeia, que usou satélites, para perceber o que se passava na superfície do planeta.
Entretanto, o investigador sofreu um acidente de viação que o obrigou a tirar um ano sabático. Coincidiu com os grandes incêndios de 2017, que afectaram Pedrogão Grande e o pinhal litoral.
A dimensão do desastre ambiental e humano levou-o a querer ajudar na prevenção de tal cenário no futuro.
“Desenvolvi um algoritmo para calcular a biomassa combustível presente e percebi que os pequenos proprietários não tinham meios para cuidar da floresta.”
Foi o primeiro passo para a concepção da ideia inovadora que levaria à criação da CO2offset.
