A ampliação do actual Museu do Vidro e a sua transformação num museu nacional e a criação de um centro de congressos na antiga Fábrica Escola Irmãos Stephens (FEIS) são duas das propostas do programa de valorização do património municipal da Fábrica de Vidros da Marinha Grande, apresentado no sábado.
No total, as intervenções preconizadas para a totalidade da antiga área fabril, incluindo o quarteirão dos bombeiros, apontam para um investimento superior a 89 milhões de euros, verba que inclui a “refuncionalização” do edifício onde está instalada a Escola Profissional e Artística da Marinha Grande (EPAMG), com a deslocalização do estabelecimento de ensino.
Encomendado pela câmara a Jorge Custódio, historiador especialista em arqueologia industrial, o estudo propõe a criação do Museu do Vidro de Portugal a partir da ampliação do actual espaço museológico. Uma sugestão que, segundo o investigador, resultou do inquérito feito a stakeholders locais, com 98% dos inquiridos a considerar que, como está, o museu “não serve”, sendo que “81% defende que deve ser ampliado e 33% que tem de ser um museu nacional”.
O programa apresentado propõe que o museu passe a ter quatro núcleos. O primeiro, centrado no palácio, dedicado à história dos Stephens e dos administradores da fábrica que o habitaram. O segundo, a instalar no edifício da EPAMG, deverá abordar a história do vidro na Marinha Grande e em Portugal e incluir um forno para trabalho ao vivo. É ainda sugerido um núcleo que funcione como monumento a John Beare e um outro sobre vidro contemporâneo, arte e ciência.
Em relação à antiga FEIS, onde funcionou depois a JM Glass (ex-Mortensen), adquirida pela câmara em 2018, o programa prevê a criação de um centro de congressos e multiusos, ateliers para jovens empreendedores, espaços para actividades pedagógicas e áreas de co-criação. É ainda sugerida a instalação no local de alguns serviços da câmara e de um espaço para reserva municipal de bens culturais visitável. Nas traseiras do edificado propõe-se a criação de hortas urbanas. No total, a intervenção na antiga FEIS está estimada em 45,1 ME.
“O encerramento FEIS, em 1992, foi um erro, muito sentido pela população da Marinha Grande. É obrigatório transformar essa dor, valorizando o legado”, defende Jorge Custódio, frisando que o programa agora apresentado pretende “perpetuar a memória industrial da Fábrica de Vidros da Marinha Grande, um dos mais importantes monumentos industriais do País”.
Para dar seguimento às propostas, o investigador entende que deverá ser desenvolvido um plano geral de arquitectura, que olhe para o património Stephens “como um todo e não como a mera soma das partes”.
“Hoje é o princípio, não o fim de nada”, afirmou o presidente do município, Aurélio Ferreira, no final da apresentação do estudo, prometendo levar o documento à reunião de câmara e à Assembleia Municipal. “Importa, agora, analisar este estudo, escutar os agentes locais e definir uma estratégia de valorização deste espaço nobre, berço da indústria vidreira e da identidade da Marinha Grande”, afirmou o autarca.