O apelido Campos é conhecido no desporto, mas está associado ao andebol. Rita Campos, o benjamim da família, seguiu as pisadas da família e está a representar a equipa feminina do Benfica. João Campos cometeu a ousadia de quebrar a tradição e desde os seus 4 anos que se apaixonou pelo ténis.
Aos 38 anos, com um percurso na alta competição da modalidade e um interregno de cerca de uma década pelo meio, o jogador regressou aos courts e dois anos depois prova que quem sabe nunca desaprende. A qualidade nunca desapareceu e as rugas que começam a surgir só lhe trazem mais experiência, que irá aproveitar para o Campeonato do Mundo +35, que se realizará em Antalia, Turquia, entre os dias 18 e 25 de Março.
A chamada à selecção nacional foi natural, depois de ter acabado a última época no top4 do ténis veterano. Na prova de masters, que decorreu há cerca de duas semanas, terminou em terceiro lugar. Depois de nove anos afastado e de recuperar de uma grave lesão no tendão de Aquiles, que o obrigou a parar um ano e oito meses, João Campos caminha para voltar ao alto nível.
“Tenho uma incapacidade de 15% num pé e, apesar de todo o esforço que tenho feito, o meu corpo não cedeu no ano passado. Também tenho tido ajuda de um médico muito bom, o dr. João André Silva, que me tem acompanhado e sem ele acho que isto não era possível. É uma prova de superação para mim, e para as pessoas também verem que eu não deitei o ténis fora”, salienta ao JORNAL DE LEIRIA.
João Campos garante que voltou “com grande vontade” e se conseguir angariar apoios poderá manter-se no Campeonato do Mundo para a segunda semana, para disputar o individual. “Será uma experiência única e ali há muitos contactos que podem surgir e oportunidades para ter outros voos, como representar outro clube e ser pago monetariamente”, assume.
Estafeta farmacêutico, o tenista representa actualmente o Clube de Ténis de Viana, que lhe dá um “apoio incondicional”. Mas, depois de um dia de trabalho que começa, muitas vezes, às 5:30 horas, um dos locais de treino ao fim do dia é o Clube da Escola de Ténis de Leiria, emblema para o qual conquistou, no ano passado, o título regional.
Família Lopes leva-o para o ténis
Quando era miúdo, João Campos vivia perto do tenista André Lopes, cujo pai liderou a Associação de Ténis de Leiria durante alguns anos. A família Lopes levou-o para a modalidade pela qual se apaixonou.
“O treinador disse que tinha jeito e cheguei a jogador de alta competição. Cheguei a uma altura que me desliguei um pouco e passei a dar mais atenção à família e à vida profissional. Foi um pouco de saturação. Aos 29 anos, o casamento, filhos… Foi basicamente aquele conforto de estar em casa, o corpo começa a querer ficar no sofá e já estava a sentir-me como um velho. Por isso, há dois anos voltei outra vez a competir”, conta.
Chegou a ser orientado por treinadores conceituados, como Pedro Felner, técnico do Frederico Silva, e foi convidado a ir para a academia de João Lagos, que existia em Espinho, onde esteve dois anos com o Pedro Cordeiro. Confessa que o corpo já não reage da mesma forma ao esforço físico, mas tem sabido gerir.
“Estou com muita vontade, mas claro que o cansaço já não regenera tão rapidamente. Faço o meu calendário consoante a minha disposição física, porque tenho 40 anos, levanto-me todos os dias às 5 horas e faço 700 quilómetros diários. É preciso ter muita vontade para ainda ter disponibilidade para ir treinar, chegar a casa e estar com o meu filho”, sublinha.
Por mês, participa em apenas dois torneios. “Opto pelos melhores para pontuar e estar em cima no ranking. Este ano, o objectivo é ser número um nacional e campeão nacional em +40, já que subi de escalão”, adianta João Campos, que também tem contado actualmente com o acompanhamento de Miguel Sousa, técnico que está no CETL.
“Esta época começou bem, agora é gerir da melhor forma para chegar ao Nacional em Outubro e estar ainda com mais ‘power’ do que no ano passado. Em 2021/2022, acabei no top dez”, afirma, ao acreditar que no Mundial, Portugal poderá aspirar por ficar no top 3, classificação alcançada na sua última participação.